Para este banco, só a queda de ações pode evitar novas perdas de títulos globais

Analistas do Barclays avaliam que os títulos da dívida das principais economias mundiais tendem a continuar em queda em meio à onda de choque no mercado de renda fixa global

Barclays
Por Garfield Reynolds
05 de Outubro, 2023 | 12:01 PM

Bloomberg — Os títulos de dívida das principais economias, puxados pelos Treasuries americanos, estão condenados a continuar caindo a menos que um tombo sustentado das ações recupere o apelo da renda fixa, disse o Barclays.

“Não existe um nível mágico de yields que, quando alcançado, atraia automaticamente compradores suficientes para desencadear uma recuperação sustentada dos títulos”, disseram analistas do banco liderados por Ajay Rajadhyaksha.

“No curto prazo, podemos pensar em um único cenário em que os títulos se recuperarão significativamente: se os ativos de risco caírem acentuadamente nas próximas semanas.”

A derrocada dos Treasuries americanos provocou ondas de choque no mercado de dívida global nos últimos meses, com os investidores se posicionando para juros altos por mais tempo.

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Embora a turbulência tenha se acalmado, os operadores estão em alerta máxima para uma volta da volatilidade — especialmente se os dados de geração de emprego nos EUA na sexta-feira (6) vierem mais fortes do que o esperado, o que reforçaria as expectativas de mais aperto monetário do Federal Reserve.

Os investidores têm pago cada vez menos pelos Treasuries para aumentar a recompensa pelo risco de assumir a dívida. O yield representa o rendimento anual teórico que o comprador terá se resgatar ao valor de face. Mas em relação ao valor de mercado, o retorno diminui, ou pode até se converter em perda, se os títulos continuarem caindo.

É pouco provável que o banco central dos EUA afrouxe o chamado aperto quantitativo, que fez da autoridade monetária um vendedor líquido de títulos do Tesouro americano, segundo os analistas do Barclays.

Esse desmonte da enorme carteira de títulos que o Fed havia acumulado nos últimos anos para injetar dinheiro no mercado agora enxuga a liquidez e aumenta mais ainda a oferta de Treasuries, que já tende a crescer para cobrir o déficit público do país. Ou seja, é mais um fator por trás da disparada dos yields.

Por outro lado, a demanda externa por Treasuries se enfraquece. Os investidores japoneses, os maiores detentores estrangeiros de títulos do Tesouro americano, irão provavelmente preferir cada fez mais a dívida de seu próprio país, uma vez que os rendimentos aumentarão quando o Banco do Japão ajustar sua política monetária ultradovish.

Tudo isto significa que o destino do mercado de títulos está nas mãos das ações, segundo o Barclays. A queda de cerca de 5% no índice S&P 500 nos últimos três meses está muito aquém do necessário para desencadear uma recuperação da renda fixa, escreveram os analistas do banco.

“A magnitude da derrocada dos títulos foi tão impressionante que as ações parecem indiscutivelmente mais caras do que há um mês”, escreveram. “Acreditamos que o caminho final para a estabilização dos títulos passa por uma nova precificação para baixo dos ativos de risco.”

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