Bloomberg — A China cortou uma de suas taxas de juros de curto prazo e anunciou um raro briefing sobre a economia com três das principais autoridades financeiras do país, o que alimentou especulações de que o governo deve intensificar os esforços para impulsionar o crescimento.
O governo anunciou que o chefe do banco central, Pan Gongsheng, realizará uma coletiva de imprensa na terça-feira (24) sobre o apoio financeiro ao desenvolvimento econômico, juntamente com duas outras autoridades. Minutos depois, o Banco Popular da China reduziu a taxa sobre operações com acordo de recompra de 14 dias.
Com isso, aumentam as expectativas de que o BC chinês corte mais os juros, depois que o início da flexibilização monetária do Federal Reserve nos EUA aliviou a necessidade de defender o yuan.
Uma série de dados fracos para agosto elevaram preocupações de que o governo do presidente Xi Jinping pode não atingir sua meta de crescimento anual de cerca de 5%, a não ser que libere mais estímulo.
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O mercado parece já precificar mais estímulo, com queda do rendimento exigido na compra de títulos do governo chinês de 10 anos para uma nova mínima de 2,03%. O índice CSI 300 de ações chinesas subiu pela quarta sessão seguida, a sequência mais longa em dois meses.
“Espero que o Banco Popular da China corte a taxa do acordo de recompra de 7 dias, assim como a alíquota do compulsório nos próximos meses”, disse Zhiwei Zhang, presidente e economista-chefe da Pinpoint Asset Management. O briefing dará às autoridades uma oportunidade de “esclarecer sua posição”, acrescentou.
Pan usou um briefing semelhante em janeiro para anunciar um corte no depósito compulsório dos bancos duas semanas antes do previsto, enquanto as autoridades tentavam deter um tombo de US$ 6 trilhões no mercado de ações.
O chefe do banco central prometeu “aumentar a intensidade do ajuste da política monetária”, durante evento em Macau na segunda-feira, de acordo com um comunicado no site da autoridade monetária, que recentemente sinalizou que estava preparando medidas adicionais.
Até agora, uma série de cortes de juros no complexo sistema de política monetária da China não foi suficiente para estimular uma economia que, segundo dados recentes, se expandiu no ritmo mais lento em cinco trimestres.
A crise imobiliária de anos, que eliminou cerca de US$ 18 trilhões de patrimônio das famílias, arrasou o apetite do consumidor por gastos e levou a China a sua mais longa sequência de deflação desde 1999.
Isso significa que as taxas de juros reais — ajustadas pela inflação — permanecem elevadas, enfraquecendo o impacto de qualquer flexibilização moderada. Uma queda na receita com vendas de terras dos governos locais altamente endividados também inibe gastos em projetos que impulsionariam o crescimento.
Agora, resta saber se o crescimento da China no quarto trimestre pode chegar “remotamente perto” da meta anual, disse Ken Wong, especialista em ações da Ásia na Eastspring Investments, acrescentando que uma expansão de 4,8% parece mais provável para 2024.
“A política monetária pode ajudar”, disse, “mas, em última análise, fazer com que o consumidor gaste e restaurar a confiança do consumidor será fundamental para a China”.
Economistas em uma pesquisa da Bloomberg apontaram a execução do pacote de resgate imobiliário que a China anunciou em maio como a maneira mais impactante de impulsionar a economia.
Até agora, a adesão foi tímida, com apenas 29 de cerca de 200 cidades atendendo ao apelo do governo central de absorver o excesso de oferta de imóveis no mercado para transformá-los em moradia popular.
“Também é necessário que o banco central busque reduzir os juros sobre financiamentos imobiliários existentes”, disse Xiaojia Zhi, economista-chefe do Crédit Agricole para China. Os reguladores também preparam uma proposta para que megacidades como Xangai e Pequim possam relaxar restrições para compradores não locais, conforme informou anteriormente a Bloomberg.
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