Bloomberg Línea — A intervenção do Banco Central no mercado de câmbio foi o que salvou o mercado brasileiro de um cenário ainda mais desafiador no final de 2024. A avaliação é da Verde Asset, gestora de Luis Stuhlberger, que divulgou nesta quarta-feira (8) sua carta aos investidores com o balanço do mês de dezembro – e as perspectivas para 2025.
“A reiterada opção pelo populismo fiscal revelada em novembro cobra um preço alto, e se não fosse a forte intervenção do Banco Central no mercado cambial, teria sido maior ainda”, apontou a Verde na carta.
O dólar avançou 27% contra o real no acumulado do último ano, e o BC interveio, apenas no mês de dezembro, com US$ 32,5 bilhões em leilões para controlar a alta da moeda.
Leia mais: Vantagem dos EUA sobre o mundo vai se ampliar, diz head de estratégia do J.P. Morgan
Segundo a Verde, a sazonalidade do mês de dezembro sempre mostra saídas cambiais, mas o movimento do último mês foi exacerbado pelo “pessimismo generalizado que se abateu sobre os agentes econômicos”. A intervenção atenuou os efeitos das saídas de capital, mas não se trata de uma solução a longo prazo na visão da gestora.
“Os impactos inflacionários da desvalorização serão sentidos ao longo de 2025 e forçarão o BCB [Banco Central do Brasil] a levar os juros para patamares que considerávamos esquecidos”, informou a carta. O boletim Focus estima uma Selic de 15% ao ano para o fim de 2025 – nível que, se alcançado, será o maior em quase vinte anos.
A crítica da Verde vem após o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter apresentado um pacote de corte de gastos no fim de novembro que ficou aquém das expectativas do mercado para conter o déficit orçamentário e estabilizar a trajetória de aumento da dívida do país.
“O modelo econômico de acelerador fiscal com freio monetário segue em direção ao muro, e embora os preços de vários ativos já embutam prêmios de risco bastante significativos, continuamos a manter um posicionamento mais negativo.”
Leia mais: Fundo do Itaú liderado por Bruno Serra tem ‘leve’ posição comprada em Brasil
A gestora destacou ainda a volatilidade dos preços de ativos antes da posse de Donald Trump como novo presidente dos Estados Unidos – fator que influenciou a alta global do dólar no final de 2024, derrubou as bolsas ao redor do mundo e elevou as taxas longas de juros nos EUA.
“É uma combinação que aperta as condições financeiras e já embute expectativas importantes sobre novas tarifas, redução de imigração e continuidade de grandes déficits fiscais americanos.”
Desempenho e posições
O Fundo Verde, carro-chefe da gestora, está com posições vendidas em bolsa brasileira desde novembro do último ano. O fundo apresentou um rendimento de 2,20% em dezembro – acima do CDI, que acumulou 0,93% no mês. No acumulado de 2024, o fundo teve retorno de 12,10%, contra 10,87% do CDI.
Leia mais: Emissões de dívida em dólar da América Latina podem perder força com Trump e Fed
O fundo multimercado também reduziu sua exposição global em bolsa em meados do último mês. A posição de juro real nos Estados Unidos foi transformada em uma posição de inflação implícita.
Na renda fixa local, o fundo deixou a posição de inflação implícita longa por preço e manteve uma pequena posição aplicada em juro real. Em moedas, foi mantida a posição vendida no real e no renminbi chinês, além do início de uma pequena posição vendida na rúpia indiana.
A alocação recente em criptoativo foi mantida, bem como uma pequena posição comprada em petróleo, além de crédito high yield local e global.
Leia mais
Stuhlberger fica ‘short’ em bolsa brasileira pela primeira vez em 8 anos, diz fonte
Estrangeiros retiraram R$ 32 bi da bolsa brasileira em 2024. A saída segue em 2025
Nova alta à vista? Bancos projetam patamar de US$ 3.000 para o ouro em 2025