Modelo de acelerador fiscal com freio monetário vai em ‘direção ao muro’, diz Verde

Gestora de Luis Stuhlberger diz que juros terão que ser elevados pelo Banco Central para patamares ‘esquecidos’; fundo Verde entregou retorno de 12,10% em 2024, versus 10,87% do CDI

Gestora de Luis Stuhlberger critica ‘populismo fiscal’ e aponta cenário ‘extremamente desafiador’ para o mercado brasileiro (Foto: Patricia Monteiro/Bloomberg)
Por Beatriz Quesada
08 de Janeiro, 2025 | 08:23 PM

Bloomberg Línea — A intervenção do Banco Central no mercado de câmbio foi o que salvou o mercado brasileiro de um cenário ainda mais desafiador no final de 2024. A avaliação é da Verde Asset, gestora de Luis Stuhlberger, que divulgou nesta quarta-feira (8) sua carta aos investidores com o balanço do mês de dezembro – e as perspectivas para 2025.

“A reiterada opção pelo populismo fiscal revelada em novembro cobra um preço alto, e se não fosse a forte intervenção do Banco Central no mercado cambial, teria sido maior ainda”, apontou a Verde na carta.

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O dólar avançou 27% contra o real no acumulado do último ano, e o BC interveio, apenas no mês de dezembro, com US$ 32,5 bilhões em leilões para controlar a alta da moeda.

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Segundo a Verde, a sazonalidade do mês de dezembro sempre mostra saídas cambiais, mas o movimento do último mês foi exacerbado pelo “pessimismo generalizado que se abateu sobre os agentes econômicos”. A intervenção atenuou os efeitos das saídas de capital, mas não se trata de uma solução a longo prazo na visão da gestora.

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“Os impactos inflacionários da desvalorização serão sentidos ao longo de 2025 e forçarão o BCB [Banco Central do Brasil] a levar os juros para patamares que considerávamos esquecidos”, informou a carta. O boletim Focus estima uma Selic de 15% ao ano para o fim de 2025 – nível que, se alcançado, será o maior em quase vinte anos.

A crítica da Verde vem após o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter apresentado um pacote de corte de gastos no fim de novembro que ficou aquém das expectativas do mercado para conter o déficit orçamentário e estabilizar a trajetória de aumento da dívida do país.

“O modelo econômico de acelerador fiscal com freio monetário segue em direção ao muro, e embora os preços de vários ativos já embutam prêmios de risco bastante significativos, continuamos a manter um posicionamento mais negativo.”

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A gestora destacou ainda a volatilidade dos preços de ativos antes da posse de Donald Trump como novo presidente dos Estados Unidos – fator que influenciou a alta global do dólar no final de 2024, derrubou as bolsas ao redor do mundo e elevou as taxas longas de juros nos EUA.

“É uma combinação que aperta as condições financeiras e já embute expectativas importantes sobre novas tarifas, redução de imigração e continuidade de grandes déficits fiscais americanos.”

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Desempenho e posições

O Fundo Verde, carro-chefe da gestora, está com posições vendidas em bolsa brasileira desde novembro do último ano. O fundo apresentou um rendimento de 2,20% em dezembro – acima do CDI, que acumulou 0,93% no mês. No acumulado de 2024, o fundo teve retorno de 12,10%, contra 10,87% do CDI.

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O fundo multimercado também reduziu sua exposição global em bolsa em meados do último mês. A posição de juro real nos Estados Unidos foi transformada em uma posição de inflação implícita.

Na renda fixa local, o fundo deixou a posição de inflação implícita longa por preço e manteve uma pequena posição aplicada em juro real. Em moedas, foi mantida a posição vendida no real e no renminbi chinês, além do início de uma pequena posição vendida na rúpia indiana.

A alocação recente em criptoativo foi mantida, bem como uma pequena posição comprada em petróleo, além de crédito high yield local e global.

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Beatriz Quesada

Beatriz Quesada

Jornalista especializada na cobertura econômica. Formada pela USP, escreve sobre mercados, negócios e setor imobiliário. Tem passagens por Exame, Capital Aberto e BandNews FM.