Bloomberg Línea — O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, toma posse nesta segunda-feira (20) para seu segundo mandato à frente da maior economia do mundo. Depois de meses de promessas e especulações, investidores globais aguardam a posse de fato e suas primeiras medidas no comando da Casa Branca para entender a tônica da nova administração Trump.
A ampla expectativa é a de uma abordagem expansionista para a economia, com corte de impostos e incentivo à indústria nacional, em especial a de combustíveis fósseis. Outra promessa de campanha é aumentar a taxação de produtos importados para favorecer as companhias americanas.
O impacto no comércio internacional e na inflação dos EUA preocupa o mercado. Ainda não se sabe, no entanto, em que medidas as promessas de Trump serão realmente implementadas.
“Desde a eleição, já tivemos muita movimentação no mercado. E, agora, ficamos à mercê de saber se Trump irá realmente implementar tudo que falou”, avaliou Gabriel Giannecchini, sócio e portfolio manager da Gauss Capital, em entrevista à Bloomberg Línea.
Para os gestores de recursos, a incerteza dificulta a tomada de decisão. “Temos discutido muito aqui na mesa qual seria a melhor aposta para proteção nesse ambiente, mas é difícil. Decidimos olhar mais ex post [após o anúncio das primeiras medidas]”, afirmou.
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A cautela não significa que os gestores não tenham montado posições.
Na Gauss, uma das principais apostas é a posição comprada em dólar. A moeda americana vem subindo desde a eleição de Trump: o índice DXY, que mede a força do dólar ante uma cesta de seis moedas fortes, subiu 6,74% no acumulado de 2024 – com alta de 4,3% apenas nos dois últimos meses do ano.
Algumas moedas, no entanto, podem sair fortalecidas contra o dólar. A principal posição da Gauss sob esse viés é no dólar canadense, que tem estado bastante volátil com as ameaças de taxação por parte de Trump.
A gestora também tem posição vendida em dólar contra o real após a disparada de 27% da moeda americana contra a brasileira no ano passado. Mas Giannecchini reforça que não é nada estrutural. “É uma posição relativa. Estamos muito leves em Brasil.”
Tarifas como desafio
O gestor da Gauss apontou a política tarifária do governo Trump como principal ponto de incerteza em sua transição para o cargo.
O presidente eleito já deu declarações sobre a possível imposição de tarifas de 25% sobre bens importados de seus vizinhos mais próximos, México e Canadá, além de uma tarifa adicional de 10% sobre a China.
As medidas podem ser tomadas rapidamente. Trump sinalizou que pretende criar, no dia da posse, um “External Revenue Service” (Serviço de Receita Externa, em tradução livre), órgão equivalente à Receita Federal do Brasil, mas encarregado de cobrar tarifas sobre as importações estrangeiras.
Por outro lado, sua equipe estuda uma alta mensal e gradual sobre as importações, segundo informações da Bloomberg News. Uma das ideias envolve um cronograma de aumento gradual das tarifas, em cerca de 2% a 5% ao mês – uma abordagem que diminuiria os riscos inflacionários da medida.
“Existe um espectro entre o cenário mais brando, no qual as tarifas ficariam apenas no campo da ameaça, e o mais agressivo, com a implementação, na largada, de taxas mais duras. Temos comprado proteção contra os países que podem ser retaliados”, afirmou Giannecchini.
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O gestor avalia que, se bem aplicadas, as tarifas podem beneficiar as empresas e a renda variável americana – a Gauss mantém posição no S&P500, um dos principais índices de ações dos EUA.
“Por outro lado, se a corda ficar muito esticada, isso deve impactar a inflação e prejudicar os ativos.”
Giannecchini relembrou que, em seu mandato anterior, Trump nem sempre colocava suas ameaças e propostas polêmicas em prática. “Ele é muito comunicativo via mídias sociais, mas acaba falando mais do que fazendo”, disse.
No entanto existe uma ressalva: diferentemente do primeiro mandato, Trump agora tem maioria nas duas casas do Congresso americano, o que deve facilitar a aprovação de medidas de sua administração.
Para o gestor, é preciso esperar para ver, em alusão ao clichê. “Os movimentos de mercado antes das decisões de Trump acabam sendo muito erráticos.”
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