Bloomberg — Investidores aceleram as apostas de que o Banco do Japão vai abandonar já neste mês o regime de taxas de juros negativas, o único ainda em vigor, em reação a comentários da liderança do banco central.
A onda vendedora, inicialmente provocada por comentários do presidente do BOJ, Kazuo Ueda, e de um de seus assessores, abalou os mercados financeiros em Tóquio e em outras regiões, o que interrompeu um período de relativa calma para os títulos do Japão.
O salto do iene e a maior variação nos rendimentos dos títulos japoneses em um ano serviram como um significativo lembrete a investidores internacionais de que uma importante âncora para os custos globais de financiamento poderá em breve ser retirada.
Ueda disse a parlamentares que seu trabalho se tornaria mais desafiador a partir do fim do ano, o que reforçou a expectativa de uma reversão a curto prazo dos juros abaixo de zero.
Embora esse comentário tenha surgido em resposta a perguntas, sua visita ao gabinete do primeiro-ministro Fumio Kishida para discutir sua postura de política monetária pareceu mais uma medida ensaiada com o objetivo de enviar um sinal.
No entanto, o fato de o vice-presidente do BOJ, Ryozo Himino, ter minimizado na quarta-feira (6) os efeitos adversos de uma subida das taxas foi provavelmente a mais significativa das aparentes pistas de comunicação do banco central.
A hipótese de Himino sobre o que poderia acontecer se o banco central acabasse com os juros negativos pareceu uma clara pavimentação do caminho para essa possibilidade.
A questão-chave é quando isso acontecerá. O BOJ tem reunião nos dias 18 e 19 de dezembro, seguida de outra em janeiro. As reuniões em março e abril ocorrem depois dos resultados das negociações salariais sindicais do próximo ano.
Nesta quinta (7), os swaps indexados overnight mostraram, a certa altura, uma probabilidade de quase 45% de o Banco do Japão pôr fim à sua política de taxas de juros negativas na reunião deste mês. Há apenas dois dias – antes do discurso de Himino – apresentavam um risco de apenas 3,5%.
“O rali dos títulos em novembro proporcionou um terreno fértil para o Banco do Japão ajustar a política monetária antes do Natal”
Althea Spinozzi, estrategista de renda fixa do Saxo Bank
“No entanto, o que aprendemos com o Banco do Japão é que qualquer ajuste será moderado e gradual”, completou Spinozzi.
O BOJ divulgará previsões de preços atualizadas em janeiro e abril que poderão ser utilizadas para apoiar a mudança da política, tornando essas reuniões opções mais prováveis do ponto de vista dos economistas.
Ainda assim, a sensação de que existe um risco crescente de ação em qualquer uma das próximas reuniões aumentou.
Olhando para o mercado de renda fixa, o estrategista da Mizuho Securities, Shoki Omori, disse que investidores começam a precificar “a saída do banco central da política monetária ultrafrouxa em janeiro, em vez da visão consensual anterior de abril”.
Reforçando essa tese de transição, o Banco do Japão tem conduzido uma pesquisa especial com participantes no mercado, incluindo um workshop para discutir seu impacto e efeitos secundários.
Alguns players também veem uma possibilidade crescente de um corte nos juros dos EUA acelerar o fim das taxas negativas do BOJ.
“Seria mais fácil para o Banco do Japão tomar medidas em janeiro, quando é pouco provável que o Fed aumente ou reduza sua taxa de referência”, disse Tadashi Matsukawa, chefe de renda fixa da PineBridge Investments Japan. O banco central provavelmente encerrará a política de taxas negativas em janeiro, afirmou.
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