Bloomberg — Depois do estresse com temores fiscais de dezembro de 2024, o mercado considera que a desaceleração da atividade, combinada a um dólar mais fraco, devem levar o Banco Central a ser menos agressivo no aperto monetário. A aposta na taxa Selic no final do ciclo de alta migrou dos 17% no pior momento em dezembro para algo em torno de 15,25%.
O contrato de juros futuros de prazo médio para janeiro de 2027 caiu cerca de 100 pontos-base neste ano.
A curva de juros tem reagido a dados mais fracos de serviços, varejo e atividade nas últimas semanas - no contexto de uma descompressão no câmbio, que saiu do pico histórico em R$ 6,30, em dezembro, para a casa de R$ 5,75 nesta semana.
O Itaú reconheceu, em relatório de 17 de fevereiro, o “risco de um ciclo menor” de aperto. O movimento de alta de juros “pode ser interrompido antes diante de uma desaceleração da atividade econômica mais pronunciada ou uma acomodação da taxa de câmbio em patamares mais apreciados do que o observado recentemente”, disse o banco. Para o Itaú, a desaceleração será mais acentuada na segunda metade do ano.
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Na última decisão de política monetária, o BC deixou claro que estava de olho nos dados econômicos ao incluir no balanço de riscos uma eventual desaceleração da atividade doméstica “mais acentuada do que a projetada” como risco de baixa para os preços. Na ata subsequente da reunião do Copom, o BC amenizou esta visão, ao dizer que não via uma desaceleração abrupta, mas parte do mercado manteve a perspectiva de uma política monetária mais focada na economia, com menor peso na inflação.
“Pareceu uma vontade de tirar peso da expectativa de inflação na política monetária”, comentou Carlos Woelz, sócio-fundador da Kapitalo Investimentos, sobre a mudança no recado do BC, em evento do BTG Pactual no último dia 25.
Mais recentemente, alguns dados não tão fracos quanto o previsto limitaram o alívio nas taxas futuras de juros, embora sem retomar os níveis do final do ano passado. O principal destes números foi o Caged de janeiro, que mostrou uma criação de empregos formais acima da prevista.

Os economistas projetam uma alta em torno de 2% para o PIB deste ano, segundo a última pesquisa Focus, uma expansão bem menor do que os 3,5% estimados pelo mercado para o resultado da economia em 2024 — a ser divulgado nesta sexta-feira (7).
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“O BC agora está sendo mais data-dependent, olhando para a expectativa de inflação, mas também para as consequências que esta taxa alta poderia ter”, diz Laiz Carvalho, economista para Brasil no BNP Paribas. Para ela, o combate à inflação deve ser feito com a manutenção do juro alto por mais tempo, e não com a elevação da Selic para até 17%, como o mercado chegou a projetar no auge da turbulência. Ela prevê Selic de 15% no final do ciclo de aperto.
Fiscal ainda preocupa
“Para os investidores, resultados ruins de dados de atividade são bons resultados”, disse Daniel Cunha, chefe de estratégia macro e vendas da BGC Liquidez. Para ele, o mercado está mais focado nos dados de atividade do que nas medidas do governo para melhorar a sua popularidade — embora sem ignorá-las totalmente.
Com as eleições presidenciais de 2026 já no radar, o Palácio do Planalto foca em medidas que possam conter a queda da aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como a liberação do FGTS de trabalhadores que haviam optado pelo chamado saque-aniversário e a isenção de imposto de renda para pessoas que ganham até R$ 5.000.
“A narrativa de desaceleração da atividade ganhou força nas últimas semanas”, disse a estrategista-chefe do Inter, Gabriela Joubert. No entanto, os comentários de autoridades “voltaram a alertar o mercado sobre o risco de mais gastos”, afirmou ela.
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