Bloomberg — Em um ano no qual bancos centrais avaliaram o risco de a inflação permanecer muito alta e a possibilidade de levar as economias à recessão, os formuladores de políticas monetárias agora têm uma nova dinâmica a considerar: uma maior volatilidade dos mercados financeiros.
As reações iniciais em todo o mundo ao selloff de ações na segunda-feira (5) mostraram que as autoridades não se abalaram e que não pretendem mudar de rumo tão cedo.
Na terça-feira (6), o banco central da Austrália manteve as taxas de juros no maior patamar em 12 anos e rejeitou a ideia de cortes nos próximos meses.
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A presidente do Fed de São Francisco, Mary Daly, indicou na segunda apenas que as reduções das taxas ocorreriam nos “próximos trimestres” e observou que os mercados podem se mover em uma direção única de forma exagerada.
O Banco do Japão, o Ministério das Finanças e o órgão regulador financeiro do país também concluíram ontem que não houve mudança na visão de que a economia japonesa está se recuperando.
As ações se recuperaram na terça-feira, de Tóquio a Nova York, embora alguns investidores tenham alertado contra a visão de que a turbulência acabou.
Os estrategistas globais da Brown Brothers Harriman disseram que, até que dados mais definitivos mostrem que os Estados Unidos não estão entrando em uma recessão, “espera-se uma maior volatilidade em todos os mercados, já que o sentimento de medo domina”.
Isso sugere que as condições financeiras mais apertadas adicionarão um novo freio ao crescimento. E a volatilidade nos mercados agora pode defender medidas de política monetária mais agressivas ou mais frequentes até o final do ano.
“O fluxo de notícias ainda sugere que é possível um pouso suave [da economia dos EUA]”, disse James Knightley, economista-chefe internacional do ING Financial Markets. “Mas, para alcançá-lo, os bancos centrais – não apenas o Fed – precisarão trazer as taxas de juros para uma base mais neutra de forma mais rápida do que o esperado anteriormente.”
Um dos fatores que desencadearam a queda nas ações foi um relatório de empregos nos EUA mais fraco do que o esperado para julho, que alimentou a narrativa de que o presidente Jerome Powell e os diretores do Fed erraram ao não reduzir as taxas na reunião da semana passada.
Os dados de vendas no varejo nos EUA da próxima quinta-feira (15), referente a julho, podem ajudar a estabilizar o sentimento, escreveram os estrategistas globais do Brown Brothers, liderados por Win Thin, em uma nota na terça.
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Dados mais amplos mostram pouca preocupação com uma crise de crédito iminente. Uma pesquisa do Fed com agentes de empréstimo sênior mostrou que menos bancos restringiram os padrões de empréstimo no último trimestre, enquanto a demanda por empréstimos comerciais e industriais parou de se deteriorar.
Ainda assim, qualquer queda contínua nos ativos de maior risco poderia corroer o apetite das empresas para contratar e a disposição dos consumidores para continuar gastando, aumentando o perigo de uma desaceleração econômica.
Em determinado momento, no período de três semanas, cerca de US$ 6,4 trilhões haviam sido eliminados dos mercados acionários globais.
Os investidores também aumentaram as apostas de corte nas taxas do Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês) e do Banco Central Europeu (BCE), que já flexibilizaram suas políticas uma vez este ano.
Rob Subbaraman, chefe de research de mercados globais da Nomura, que trabalhou no Lehman Brothers durante a crise financeira de 2008, disse que a combinação de desaceleração do crescimento econômico, taxas de juros ainda elevadas, valuations muito altos e oscilações repentinas de sentimento é um ambiente em que “as coisas podem desandar”.
Por enquanto, analistas do mercado, incluindo o estrategista-chefe do HSBC Bank, Max Kettner, insistem que os fundamentos da economia global não mudaram de fato e que não há motivo para alarme.
“Não estamos vendo as coisas caindo de um penhasco – na verdade, quando olhamos para a maioria dos nossos principais indicadores globais e dos EUA, a maioria deles ainda está estável ou subindo”, disse à Bloomberg TV.
-- Com a colaboração de Guy Johnson, Kriti Gupta e Anna Edwards.
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