LVMH e outras gigantes perdem US$ 200 bi em valor e sinalizam ocaso do luxo

Grandes grupos europeus do setor, que chegaram a ser comparadas às big techs americanas no auge, enfrentam choque de realidade com fraqueza contínua da demanda na China

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Bloomberg — A reação de investidores à temporada de resultados de grandes grupos de luxo ajudou a gerar uma perda de US$ 200 bilhões nas quatro maiores ações do setor desde seu pico no início do ano.

Se a série de resultados do segmento nesta semana provou alguma coisa, é que até mesmo os nomes mais fortes sucumbiram à redução dos gastos dos ricos compradores chineses.

Antes que os números de vendas consideradas “apenas” mornas da LVMH, referência do setor, surpreendessem os investidores, era possível argumentar que a desaceleração do luxo estava confinada principalmente às empresas que também lidavam com problemas de gestão e marca.

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Essas dificuldades contribuíram para revisões de guidances, mais recentemente da Kering, proprietária da Gucci, cuja ação caiu até 10% nesta quinta-feira (25).

Em vez disso, o resultado da LVMH provocou a maior queda das ações neste ano e acabou com qualquer complacência remanescente entre os investidores que confiavam no gigante de Bernard Arnault para reavivar a recuperação do setor.

Uma cesta de ações europeias relacionadas ao luxo calculada pelo Goldman Sachs (GS) havia subido 57% entre 2020 e 2023.

Flavio Cereda, da GAM UK, chamou 2024 de um ano de “detox” para o luxo após o crescimento descomunal gerado durante a pandemia e nos primeiros anos subsequentes. “É um ano desafiador”, disse o gestor de investimentos por telefone. “É necessário estudar a situação com muito, muito cuidado.”

No auge do interesse de investidores, um grupo de ações europeias de luxo chegou a ser comparado às megacaps de tecnologia de Wall Street, por sua capacidade de proporcionar crescimento rápido e resistir às incertezas da economia.

Esse rótulo parece desgastado e pouco apropriado agora, com a cesta de nomes de luxo do Goldman em queda de quase 20% desde que atingiu o pico em março.

O poder de compra dos consumidores chineses deixou de ser a força vital do setor e passou a ser uma fonte de grande preocupação.

Embora no período pós-pandemia os consumidores tenham ostentado itens de grife após meses de confinamento, a economia chinesa em dificuldades reduziu os gastos, mesmo com a demanda de volta a níveis normais. As vendas da LVMH na região que inclui a China caíram 14% no segundo trimestre.

Houve revisões de projeções do Burberry Group e da Hugo Boss.

Até mesmo a Richemont, considerada mais resiliente por suas marcas de joias de alta qualidade, como a Cartier e a Van Cleef & Arpels, foi atingida por uma queda de 27% nas vendas na região da Grande China durante o trimestre, e sua divisão de relojoaria registrou um recuo de 13%.

A situação é ainda mais difícil para as empresas com marcas de menor apelo que tentam recuperar suas receitas nesse cenário, em comparação com aquelas que têm uma base de clientes mais leal – e muitas vezes mais rica.

O risco é o mercado de luxo mais fraco deixar todos os participantes, exceto os mais poderosos, expostos a uma desaceleração prolongada.

“A implementação bem-sucedida de mudanças de marca parece ter se tornado mais complexa em um mercado de luxo cada vez mais competitivo, em que escala, talentos de design de ponta e poder de fogo de marketing são importantes”, disse Thomas Chauvet, analista do Citigroup (C), em uma nota a clientes após a divulgação do resultado da Burberry.

Ainda existem postos avançados exclusivos de otimismo no cenário do luxo.

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A Brunello Cucinelli, fabricante italiana de roupas de cashmere de luxo, por exemplo, demonstrou capacidade de resistir às condições desafiadoras.

Isso serviu como bom presságio para a Hermès, que apresentou seu resultado na quinta-feira (25), uma vez que a base de clientes do fabricante da bolsa Birkin tende a ser ainda mais resiliente.

E os números comprovaram a tese, com expansão da receita de 13,3% no segundo trimestre a taxas de câmbio constantes, acima dos 11,5% esperados por analistas.

Da mesma forma, os turistas chineses ainda gastam quando vão ao exterior, algo que a LVMH relatou no Japão.

Pontos de entrada para o investidor

Para os investidores com uma visão de longo prazo, a retração está levando os valuations para níveis um pouco mais palatáveis - ou atrativos. Ashley Wallace, analista do Bank of America (BAC), disse que o recuo induzido pelos lucros das ações da LVMH é uma “oportunidade de compra atraente”.

“É importante não perder de vista o panorama geral: a LVMH está exposta a um setor com crescimento estrutural, altas barreiras à entrada, um forte portfólio de marcas e a melhor equipe de gestão da categoria”, disse Wallace em uma nota a clientes.

Dito isso, o ponto de entrada para investidores está em momento da recuperação, e a questão é se ela ocorrerá no segundo semestre deste ano ou em 2025.

Com a “agitação política” em ambos os lados do Atlântico acrescentando um elemento de incerteza aos mercados, investidores talvez tenham que ser pacientes.

“O segundo semestre continuará a ser moderado até que haja uma retomada nas viagens e até que haja mais estabilidade e certeza”, disse Dana Telsey, do Telsey Advisory Group.

“Portanto, até que isso aconteça, as empresas de luxo terão que continuar a navegar pelo cenário com inovação em produtos e marketing e continuar a se aproximar de seus clientes.”

-- Com a colaboração de Jan-Patrick Barnert, Michael Msika e Farah Elbahrawy.

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