LVMH e outras gigantes perdem US$ 200 bi em valor e sinalizam ocaso do luxo

Grandes grupos europeus do setor, que chegaram a ser comparadas às big techs americanas no auge, enfrentam choque de realidade com fraqueza contínua da demanda na China

Topo de loja da Louis Vuitton na Champs Élysées em Paris às vésperas do começo da Olimpíada (Foto: Nathan Laine/Bloomberg)
Por Juliette Laffont - Kit Rees
25 de Julho, 2024 | 04:01 PM

Bloomberg — A reação de investidores à temporada de resultados de grandes grupos de luxo ajudou a gerar uma perda de US$ 200 bilhões nas quatro maiores ações do setor desde seu pico no início do ano.

Se a série de resultados do segmento nesta semana provou alguma coisa, é que até mesmo os nomes mais fortes sucumbiram à redução dos gastos dos ricos compradores chineses.

Antes que os números de vendas consideradas “apenas” mornas da LVMH, referência do setor, surpreendessem os investidores, era possível argumentar que a desaceleração do luxo estava confinada principalmente às empresas que também lidavam com problemas de gestão e marca.

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Essas dificuldades contribuíram para revisões de guidances, mais recentemente da Kering, proprietária da Gucci, cuja ação caiu até 10% nesta quinta-feira (25).

Em vez disso, o resultado da LVMH provocou a maior queda das ações neste ano e acabou com qualquer complacência remanescente entre os investidores que confiavam no gigante de Bernard Arnault para reavivar a recuperação do setor.

Uma cesta de ações europeias relacionadas ao luxo calculada pelo Goldman Sachs (GS) havia subido 57% entre 2020 e 2023.

Flavio Cereda, da GAM UK, chamou 2024 de um ano de “detox” para o luxo após o crescimento descomunal gerado durante a pandemia e nos primeiros anos subsequentes. “É um ano desafiador”, disse o gestor de investimentos por telefone. “É necessário estudar a situação com muito, muito cuidado.”

Maior parte das ações de grupos de luxo apresenta desempenho aquém do benchmark dos mercados europeus, o Stoxx 600, neste ano

No auge do interesse de investidores, um grupo de ações europeias de luxo chegou a ser comparado às megacaps de tecnologia de Wall Street, por sua capacidade de proporcionar crescimento rápido e resistir às incertezas da economia.

Esse rótulo parece desgastado e pouco apropriado agora, com a cesta de nomes de luxo do Goldman em queda de quase 20% desde que atingiu o pico em março.

O poder de compra dos consumidores chineses deixou de ser a força vital do setor e passou a ser uma fonte de grande preocupação.

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Embora no período pós-pandemia os consumidores tenham ostentado itens de grife após meses de confinamento, a economia chinesa em dificuldades reduziu os gastos, mesmo com a demanda de volta a níveis normais. As vendas da LVMH na região que inclui a China caíram 14% no segundo trimestre.

Houve revisões de projeções do Burberry Group e da Hugo Boss.

Até mesmo a Richemont, considerada mais resiliente por suas marcas de joias de alta qualidade, como a Cartier e a Van Cleef & Arpels, foi atingida por uma queda de 27% nas vendas na região da Grande China durante o trimestre, e sua divisão de relojoaria registrou um recuo de 13%.

Preço das ações da LVMH acumula queda de 20% desde o pico em 2023

A situação é ainda mais difícil para as empresas com marcas de menor apelo que tentam recuperar suas receitas nesse cenário, em comparação com aquelas que têm uma base de clientes mais leal – e muitas vezes mais rica.

O risco é o mercado de luxo mais fraco deixar todos os participantes, exceto os mais poderosos, expostos a uma desaceleração prolongada.

“A implementação bem-sucedida de mudanças de marca parece ter se tornado mais complexa em um mercado de luxo cada vez mais competitivo, em que escala, talentos de design de ponta e poder de fogo de marketing são importantes”, disse Thomas Chauvet, analista do Citigroup (C), em uma nota a clientes após a divulgação do resultado da Burberry.

Ainda existem postos avançados exclusivos de otimismo no cenário do luxo.

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A Brunello Cucinelli, fabricante italiana de roupas de cashmere de luxo, por exemplo, demonstrou capacidade de resistir às condições desafiadoras.

Isso serviu como bom presságio para a Hermès, que apresentou seu resultado na quinta-feira (25), uma vez que a base de clientes do fabricante da bolsa Birkin tende a ser ainda mais resiliente.

E os números comprovaram a tese, com expansão da receita de 13,3% no segundo trimestre a taxas de câmbio constantes, acima dos 11,5% esperados por analistas.

Da mesma forma, os turistas chineses ainda gastam quando vão ao exterior, algo que a LVMH relatou no Japão.

Pontos de entrada para o investidor

Para os investidores com uma visão de longo prazo, a retração está levando os valuations para níveis um pouco mais palatáveis - ou atrativos. Ashley Wallace, analista do Bank of America (BAC), disse que o recuo induzido pelos lucros das ações da LVMH é uma “oportunidade de compra atraente”.

“É importante não perder de vista o panorama geral: a LVMH está exposta a um setor com crescimento estrutural, altas barreiras à entrada, um forte portfólio de marcas e a melhor equipe de gestão da categoria”, disse Wallace em uma nota a clientes.

Valuations e múltiplos de ações de empresas de luxo recuam e se tornam mais atrativos para os investidores

Dito isso, o ponto de entrada para investidores está em momento da recuperação, e a questão é se ela ocorrerá no segundo semestre deste ano ou em 2025.

Com a “agitação política” em ambos os lados do Atlântico acrescentando um elemento de incerteza aos mercados, investidores talvez tenham que ser pacientes.

“O segundo semestre continuará a ser moderado até que haja uma retomada nas viagens e até que haja mais estabilidade e certeza”, disse Dana Telsey, do Telsey Advisory Group.

“Portanto, até que isso aconteça, as empresas de luxo terão que continuar a navegar pelo cenário com inovação em produtos e marketing e continuar a se aproximar de seus clientes.”

-- Com a colaboração de Jan-Patrick Barnert, Michael Msika e Farah Elbahrawy.

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