Larry Fink alerta para crise de aposentadoria em sua carta anual da BlackRock

Millennials e Geração Z ‘perderam a confiança nas gerações mais velhas’, que precisam ajudá-los a economizar para o futuro de suas vidas, escreveu o CEO da maior gestora do mundo

Larry Fink
Por Silla Brush
26 de Março, 2024 | 10:36 AM

Bloomberg — O CEO da BlackRock (BLK), Larry Fink, alertou sobre uma iminente “crise de aposentadoria” nos Estados Unidos e pediu aos baby boomers (nascidos entre 1946 e 1964) que ajudem as gerações mais jovens a economizar o suficiente para seus respectivos futuros. Isso, segundo ele, evitará que eles se desiludam com o capitalismo e a política nos próximos anos.

Com as pessoas vivendo mais tempo, mas lutando para custeá-las e planejá-las adequadamente, Fink usou sua tradicional - e aguardada pelo mercado - carta anual como líder da maior gestora de ativos do mundo para instar líderes corporativos e políticos a buscar “um esforço organizado de alto nível” para repensar o sistema de aposentadoria. Mais da metade dos US$ 10 trilhões de ativos de clientes da BlackRock são administrados para aposentadoria.

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“Não é de admirar que as gerações mais jovens, millennials e Geração Z, estejam tão economicamente ansiosas”, escreveu Fink na carta aos investidores da BlackRock nesta terça-feira (26). “Eles acreditam que minha geração - os baby boomers - se concentrou no próprio bem-estar financeiro em detrimento de quem vem depois. E, no caso da aposentadoria, eles têm razão.”

Os jovens “perderam a confiança nas gerações mais velhas”, escreveu Fink. “O ônus está sobre nós para recuperá-la. E talvez investir para seus objetivos de longo prazo, incluindo aposentadoria, não seja um lugar tão ruim para começar.”

Fink disse que os membros da geração baby boomer em posições de liderança corporativa e política têm a obrigação de ajudar a corrigir o sistema, e questionou se a idade de 65 anos ainda deve ser a noção convencional de quando as pessoas se aposentam.

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Nos EUA, as pessoas são elegíveis para benefícios do Seguro Social aos 62 anos, e aqueles nascidos após 1960 são considerados em plena idade de aposentadoria aos 67 anos. A cobertura do seguro de saúde do Medicare começa aos 65 anos.

No Brasil, depois da reforma da Previdência em 2019, a idade mínima de aposentadoria passou a ser de 65 anos para homens e de 62 anos para mulheres, em ambos os casos, com tempo mínimo de contribuição de 15 anos, sem contar as exceções para determinadas categorias.

“Ninguém deveria ter que trabalhar mais do que quer”, escreveu Fink. “Mas acho um pouco louco que nossa ideia âncora para a idade certa de aposentadoria - 65 anos - se origine da época do Império Otomano.”

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Até meados do século, um sexto da população global terá mais de 65 anos, em comparação com 1 em cada 11 em 2019, disse Fink, citando dados das Nações Unidas. Quase metade dos americanos com idade entre 55 e 65 anos não tinha dinheiro em contas de aposentadoria pessoais, disse ele, referindo-se a dados do censo dos Estados Unidos de 2022.

“O governo federal priorizou a manutenção dos benefícios de direitos adquiridos para pessoas da minha idade (tenho 71 anos) mesmo que isso signifique que o Seguro Social terá dificuldades para cumprir suas obrigações completas quando trabalhadores mais jovens se aposentarem”, escreveu Fink.

Fink disse que a BlackRock anunciará uma série de parcerias e iniciativas nos próximos meses para ponderar questões importantes, incluindo a idade média de aposentadoria e como incentivar os americanos mais velhos a continuar trabalhando se desejarem fazê-lo.

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O declínio das pensões de benefício definido também tornou mais desafiador para as pessoas, incluindo aquelas que economizaram conscientemente por conta própria, entender quanto podem gastar na aposentadoria, acrescentou ele.

“A mudança de benefício definido para contribuição definida tem sido, para a maioria das pessoas, uma mudança de certeza financeira para incerteza financeira”, disse Fink.

‘Pragmatismo energético’

No período de mais de uma década desde que Fink começou a escrever cartas anuais para executivos corporativos e acionistas, os ativos dos clientes da BlackRock aumentaram para mais de US$ 10 trilhões, com participações significativas em empresas, ativos privados e mercados de títulos em todo o mundo.

As cartas, geralmente publicadas no início de cada ano, deram a Fink e à empresa uma voz poderosa sobre questões sociais e políticas - e também têm recebido críticas crescentes de todos os lados.

O foco na aposentadoria neste ano enfatiza uma parte central do negócio de investimento da BlackRock desde o seu início em 1988 e segue vários anos em que Fink usou suas cartas para pressionar por uma ação mais contundente sobre o aquecimento global, apenas para se encontrar - e a empresa - em um turbilhão político.

Defensores da mudança climática dizem que a empresa não está tomando medidas suficientemente fortes, enquanto os republicanos, críticos desse tema, criticam Fink e a BlackRock por supostamente prejudicarem estados produtores de combustíveis fósseis e promoverem o que chamam de woke capitalism.

No início deste mês, autoridades do Texas disseram que retirariam US$ 8,5 bilhões em fundos de financiamento escolar da BlackRock e criticaram a empresa por supostamente prejudicar os interesses energéticos do estado - o maior estado produtor de petróleo tradicional dos EUA.

Fink disse que parou de usar o termo ESG e, ao longo do último ano, enfatizou o trabalho da empresa com empresas de energia. A BlackRock reduziu sua participação em alianças internacionais de investimento em clima e deu aos clientes mais voz sobre o voto em reuniões nas empresas nas quais têm recursos investidos, em vez de depender do gestor para votar.

Na carta, Fink disse que agora está focado no “pragmatismo energético”.

A descarbonização e a transição para tecnologias limpas levarão tempo, disse ele, e os países cada vez mais querem garantir que tenham acesso confiável e seguro às fontes de energia, especialmente após a invasão da Rússia à Ucrânia.

A BlackRock tem mais de US$ 300 bilhões investidos em empresas de energia tradicionais e US$ 138 bilhões em estratégias de transição energética, disse ele.

Mais comentários da carta de Fink:

  • A situação da dívida pública dos EUA “é mais urgente do que eu consigo me lembrar”, e os 3 pontos percentuais em pagamentos de juros extras que o governo dos EUA agora deve pagar em títulos do Tesouro de 10 anos em comparação com três anos atrás é algo “muito perigoso”;
  • As parcerias privadas com governos são a forma como grandes projetos de infraestrutura serão construídos no futuro, e a aquisição de US$ 12,5 bilhões da Global Infrastructure Partners pela BlackRock posiciona a empresa para crescer na indústria;
  • A BlackRock está “particularmente animada” com a oportunidade de negócios para os gestores de títulos da empresa, dada a alta nos rendimentos após 15 anos de ambiente de taxas baixas e também porque os clientes estão reconsiderando suas alocações em renda fixa.

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