Juro alto nos EUA e Fed ‘hawkish’ dificultam Selic abaixo de 10%, diz Azimut

Gino Olivares, economista-chefe da Azimut, disse à Bloomberg News que juros em alta no exterior contrariam aposta de final do aperto monetário

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Bloomberg — O Brasil vai ter dificuldade para reduzir os juros para um dígito diante da sinalização do Federal Reserve e outros bancos centrais de que suas taxas ficarão altas por mais tempo, diz Gino Olivares, economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management.

Os juros reais estão em alta no exterior e isso contraria a aposta do investidor em um final do aperto monetário, diz em entrevista à Bloomberg News o economista da Azimut, gestora que pertence ao grupo italiano de mesmo nome e tem R$ 11 bilhões em ativos sob gestão no Brasil.

“Os fundos multimercados estavam apostando no fechamento da curva lá fora.”

O cenário básico da Azimut é de que a Selic continue com cortes de 0,50 ponto percentual a cada reunião e atinja 9,5% em meados de 2024.

No entanto, a probabilidade de a taxa continuar no patamar de 10% cresceu com a postura mais agressiva do Fed, que reduz o diferencial entre as taxas brasileira e americana. “Esse risco aumentou”, afirma.

Para Olivares, a cautela demonstrada pelo Banco Central na ata do Copom divulgada na terça-feira (26) reforça o cenário de não-aceleração do ritmo de cortes.

Segundo o economista, o documento reforçou que o BC “acompanha com preocupação os desenvolvimentos do cenário externo e, no cenário doméstico, identifica uma atividade econômica mais resiliente”.

Apesar da alta recente dos rendimentos dos títulos americanos, ele mantém a projeção de um dólar a R$ 5,00 no final do ano, patamar próximo do atual nível do câmbio, contando para isso com a continuidade da postura de cautela pelo BC brasileiro - sem a qual poderia ocorrer uma maior depreciação do real e consequente piora das expectativas inflacionárias.

No comunicado do Copom na semana passada, o BC mencionou a elevação das taxas de juros de longo prazo dos Estados Unidos e a perspectiva de menor crescimento na China. Ambos os fatores exigem “maior atenção por parte de países emergentes”, segundo o BC.

Emergentes como o Brasil e o Chile fizeram um “bom trabalho” no combate à inflação, mas não ficarão alheios a uma eventual piora de cenário externo, segundo Olivares. “Eles continuam sendo países emergentes e não podem fazer política independente do que ocorre lá fora”, disse.

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