JPMorgan vê cortes de juros mais tímidos na América Latina com piora global

Em entrevista à Bloomberg News, economista-chefe do banco para a região disse que BCs devem agir com mais cautela, mantendo juros mais altos por mais tempo

Juros mais altos vieram para ficar por mais tempo
Por Maria Eloisa Capurro
31 de Outubro, 2023 | 10:13 AM

Bloomberg — Os bancos centrais latino-americanos, que lideraram o aperto monetário após a pandemia e o início da flexibilização este ano, devem moderar os cortes de juros devido à deterioração das perspectivas globais, de acordo com a economista-chefe do JPMorgan (JPM) para a região.

As autoridades monetárias estão em alerta diante do aumento das taxas dos Treasuries americanos e da possibilidade de que mais aperto por parte do Federal Reserve enfraqueça as moedas locais, alimentando a pressão inflacionária através da alta dos preços das importações, disse Cassiana Fernandez, em entrevista à Bloomberg News no escritório do JPMorgan em São Paulo.

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Os Bancos Centrais da região devem agir de forma mais cautelosa, mantendo os juros mais elevados durante mais tempo do que o esperado.

“A América Latina foi pioneira nesse ciclo de aperto, criando um buffer em relação aos juros reais, mas não vai poder cortar tanto por conta da decisão de juros lá fora”, disse Fernandez.

O cenário externo “faz com que os bancos centrais sejam mais cautelosos, principalmente aqueles que, após decisões de política monetária mais agressivas, tiveram um impacto significativo na sua moeda.”

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Na semana passada, o banco central do Chile diminuiu o ritmo de flexibilização pela segunda vez e suspendeu o programa de aumento das reservas internacionais que pressionava o peso. Antes da decisão inesperada, o peso havia registrado um dos piores desempenhos entre as moedas globais nos três meses anteriores.

Muitos bancos da América Latina cortaram juros em 2023

O Chile serve de lição para o resto da região, mostrando como uma perspectiva global mais desafiadora pode enfraquecer o câmbio, disse Fernandez. Os bancos centrais da América Latina deveriam evitar assumir compromissos fortes ao sinalizar cortes de juros.

“O grande ponto que os bancos centrais aprenderam nos últimos anos é reconhecer a incerteza que existe hoje no cenário internacional e se permitir flexibilizar suas decisões”, disse a economista, acrescentando que espera que a taxa básica do Chile caia para 5% no final do ciclo, dos atuais 9%.

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As moedas latino-americanas lideraram as perdas entre os mercados emergentes nos últimos três meses, após fortes ganhos no início de 2023.

Nesta terça-feira (31), espera-se que a Colômbia mantenha os juros estáveis no nível mais elevado desde 1999, em meio a receios de que a inflação não esteja desacelerando rápido o suficiente.

No dia seguinte, o Copom provavelmente realizará o terceiro corte consecutivo de 0,50 ponto percentual da Selic.

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Cenário no Brasil

O Brasil tem menos com que se preocupar no que diz respeito à força global do dólar, com safras gigantes que ajudam a sustentar o real por enquanto, disse Fernandez. Esse fator ajudará o BC a manter o ritmo de flexibilização no curto prazo, disse ela.

As previsões de inflação na maior economia da região permanecem acima da meta até 2026, embora possam melhorar no segundo trimestre. Fernandez disse que as expectativas se estagnaram devido à incerteza sobre os gastos do governo.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pareceu confirmar os receios dos investidores na semana passada, quando disse que não há necessidade de manter a promessa de eliminar o déficit primário do governo no ano que vem.

Na segunda-feira (30), o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que continuará buscando um equilíbrio nos gastos do governo. Ele também anunciou mais dois indicados do governo para a diretoria do BC.

“O grande teste vamos ver quando tivermos dados concretos de uma desaceleração econômica maior”, disse Fernandez.

A Selic pode cair para 10% em 2024, dos atuais 12,75%, desde que o governo cumpra suas promessas fiscais, disse Fernandez.

“A credibilidade do novo arcabouço fiscal e da política econômica como um todo nos parece fundamental para o equilíbrio das contas públicas no médio e longo prazo”, disse ela, acrescentando que um compromisso firme com a meta de inflação por parte dos novos membros do Copom também poderia ajudar a reduzir as expectativas para a alta dos preços ao consumidor.

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