JGP questiona se BC conseguirá entregar corte de juros esperado pelo mercado

Fernando Rocha, economista-chefe e sócio da JGP, disse à Bloomberg News que situação fiscal coloca risco de ciclo mais curto de flexibilização monetária

Segundo economista-chefe da gestora, risco parece estar enviesado para os juros caírem menos
Por Felipe Saturnino
20 de Setembro, 2023 | 11:27 AM

Bloomberg — A JGP Asset Management, uma das maiores gestoras independentes do Brasil, avalia que o Banco Central terá uma tarefa “desafiadora” para seguir a expectativa de taxa Selic de cerca de 9,5% ao fim de 2024 refletida em apostas do mercado na curva de juros futuros.

O economista-chefe e sócio da JGP, Fernando Rocha, disse em entrevista à Bloomberg News que o incômodo dos operadores financeiros com a situação fiscal coloca o risco de um ciclo mais curto de flexibilização monetária.

O BC deu início à redução dos juros em agosto com um corte de 0,50 ponto percentual, maior do que parte do mercado projetava.

Ele acredita que o mercado está “precificado para dar tudo certo” e que, no momento, o risco parece estar enviesado para os juros caírem menos.

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“A gente precisaria ter notícias boas, de inflação caindo bem, a atividade desacelerar e o fiscal não atrapalhar” para que a taxa básica se aproxime da precificação do mercado, disse Rocha.

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“Além do mais, também precisaríamos torcer para lá fora o Fed não ter que subir mais o juro do que já está precificado ou cortar mais rapidamente”, observou, ao citar o risco derivado do estreitamento do diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos.

Incertezas fiscais

Ainda de acordo com o economista, os participantes de mercado se tornaram mais cautelosos com a situação das contas públicas nas últimas semanas ao avaliarem que as medidas previstas pelo governo para aumentar as receitas terão um caminho difícil até a aprovação pelo Congresso — como a taxação de fundos exclusivos e offshore.

Além disso, receitas esperadas pelo mercado com a reoneração fiscal do ICMS “não estão vindo”, segundo ele.

O risco de que as metas de déficit zero do Orçamento de 2024 fossem reavaliadas antes mesmo da entrega do projeto ao Legislativo também impactaram parte da credibilidade do novo arcabouço fiscal, disse Rocha.

“O mercado estava dando o benefício da dúvida, achando que o governo ia achar receitas extraordinárias”, disse Rocha. “O efeito que causa maior preocupação é que o arcabouço fica assentado em bases pouco confiáveis.”

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