Bloomberg — Pela primeira vez em três anos, os banqueiros dos mercados de capitais de Wall Street parecem ter o vento a seu favor.
As ofertas públicas iniciais (IPOs, na sigla em inglês) tiveram seu melhor início de ano desde os dias inebriantes de 2021, com mais de US$ 20 bilhões movimentados nos primeiros seis meses, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
Com as vendas de títulos conversíveis e ações de empresas já listadas também em níveis próximos aos dos melhores dias da pandemia, a atividade observada no ano passado evoluiu para um ritmo regular.
Embora a superação do volume histórico de 2021 ainda não esteja no horizonte, cresce a confiança de que 2024 será o ano de recuperação que uma série de empresas que pretendem abrir o capital aguarda.
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“Um dos principais motivos pelos quais estivemos em uma janela de emissões melhor nos últimos meses é o envolvimento saudável de toda a comunidade de investidores”, disse Andrew Wetenhall, co-diretor de mercado de capitais das Américas do Morgan Stanley.
O volume atinge um ritmo que se assemelha mais a um ano normal para emissões em uma base pré-covid, e os investidores institucionais, como fundos soberanos, fundos de pensão, investidores de longo prazo e fundos hedge têm participado e permitido a realização de negócios, disse ele.
Elizabeth Reed, head global do consórcio de ações do Goldman Sachs, disse que vê discussões de valuation acontecendo de forma mais equilibrada, em que o resultado reflete tanto a qualidade dos ativos quanto o feedback dos investidores.
Algumas pessoas gostam de falar em “diminuir o risco” do IPO, mas os IPOs não são arriscados se realmente houver entendimento sobre um ativo”, disse Reed.
A recuperação dos mercados acionários e a volatilidade relativamente baixa têm proporcionado confiança a empresas como a Lineage, gigante de armazenamento, para avançar com listagens de grande porte no segundo semestre do ano.
Houve três IPOs acima de US$ 1 bilhão até agora neste ano, liderados pela oferta de US$ 1,8 bilhão da operadora de cruzeiros Viking Holdings. Esse número é igual ao registrado em todo o ano passado, segundo o levantamento.
Eleições no segundo semestre
O segundo semestre será marcado por eleições de alto risco em todo o mundo. Mesmo com todas as atenções voltadas para os Estados Unidos em novembro, os banqueiros norte-americanos também estão atentos à ida dos eleitores às urnas no Reino Unido e na França, em julho, para verificar qualquer efeito sobre o sentimento de risco.
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De qualquer forma, é provável que os banqueiros do IPO aconselhem seus clientes a ficarem longe das eleições nos Estados Unidos. A maioria dos clientes do JPMorgan Chase procura avançar com a oferta e fixar o preço de suas ofertas até o final de outubro, de acordo com Keith Canton, que dirige a divisão de mercado de capitais das Américas do banco.
Russ Chong, do Citigroup, que co-dirige os negócios da área no Citi na América do Norte, disse que o calendário do ano eleitoral pode fazer com que as equipes de gestão queiram se concentrar em suas operações e, em vez disso, adiem os planos de listagem para 2025.
O maior ponto de interrogação para a segunda metade do ano e para além dela é se as empresas de private equity - “sentadas” em uma série de ativos que não conseguiram transferir para frente por quase três anos - voltarão com suas atenções e reservas para o mercado de IPOs.
Com a possibilidade de uma mudança na postura regulatória após novembro - a depender do vencedor -, muitas empresas de negócio de aquisições monitoram de perto como o mercado está acolhendo as novas listagens e se devem ficar quietas em favor de uma venda posterior.
A Viking, que tem a TPG como principal acionista, subiu mais de 30%, enquanto a Loar Holdings, apoiada pela Blackstone, viu suas ações quase dobrarem. Outras, como a Waystar Holding, apoiada pela EQT AB, ficaram à deriva.
O desempenho considerado confuso de alguns negócios “deixou os investidores disciplinados e à procura de empresas de qualidade com avaliações atraentes”, de acordo com Matt Warren, co-diretor de mercado de capitais nas Américas do Bank of America.
Kevin Foley, diretor da área no JPMorgan, disse que há apetite para novas listagens, mas há “mais sensibilidade em relação à avaliação”.
Ainda assim, alguns banqueiros veem os ativos de propriedade de private equity como uma forma de realizar negócios maiores para reduzir a alavancagem, o que pode ser bem-vindo pelo mercado.
Tommy Rueger, co-diretor global de mercado de capitais do UBS, disse que os investidores têm uma clara preferência por aplicar o dinheiro em ofertas maiores e mais líquidas.
As empresas que estão se aproximando da primeira venda de ações incluem a Solera, fornecedora de dados automotivos da Vista Equity Partners, e a OneStream, empresa de software da KKR & Co.
“Diferentemente do ano passado, uma transação não abrirá o mercado, e outra não o fechará”, disse Chong, do Citigroup. O fato de que algumas empresas cujos IPOs tiveram bons preços estão negociando bem, e vice-versa, significa que “há alguma racionalidade no mercado”, disse ele.
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