Bloomberg Línea — O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) divulgado nesta sexta-feira (26) deu novos sinais sobre os próximos passos do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), que se reúne na próxima semana para decidir sobre as taxas de juros do Brasil.
Para Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos, o fato de o IPCA-15 de janeiro ter vindo abaixo das expectativas fortalece o argumento para que o Copom continue o ritmo de corte de 0,50 ponto percentual na Selic — mas crescem as dúvidas sobre sua manutenção.
“Com esta avaliação da inflação qualitativa corrente trazendo dúvida sobre a velocidade da desinflação deste grupo, o Banco Central deverá seguir o mesmo ritmo. Por ora seguimos acreditando na continuidade da desinflação de serviços subjacentes neste ano, com projeção de 4,50%, mas as dúvidas quanto a isso estão latentes”, afirma.
Para Alexandre Maluf, economista da XP (XP), o número de janeiro, apesar de abaixo das expectativas, reforça a resistência da inflação de serviços, o que pode atrapalhar os planos do BC a longo prazo.
“A composição do IPCA-15 de janeiro reforça nossa visão de que o núcleo de serviços não convergirá para a meta de inflação em 2024. Apesar das principais surpresas altistas estarem concentradas em aluguel de carros e serviços bancários, os serviços intensivos em mão-de-obra têm mostrado sinais relativamente preocupantes nas leituras recentes de inflação, refletindo provavelmente a recente melhoria na renda real disponível às famílias”, diz Maluf.
Em janeiro, o IPCA-15 apresentou alta de 0,31% e chegou a 4,47% no acumulado em 12 meses, o que indica uma desaceleração da inflação em relação ao mês anterior. Economistas consultados pela Bloomberg estimavam alta de 0,47% na comparação mensal e de 4,63% no acumulado em 12 meses, após alta de 0,40% em dezembro e de 4,72% na base anual.
Claudia Moreno, economista do C6 Bank, acredita que a prévia da inflação de janeiro não deve alterar os planos do BC e que a inflação deve continuar acima da meta em 2024, principalmente pela alta de preços de serviços.
“O IPCA-15 não deve alterar o plano de voo anunciado pelo Copom (Comitê de Política), que deve decidir por mais dois cortes de 0,50 pontos na Selic (...). No entanto, torna o balanço de riscos mais favorável para a inflação”, explica. Para 2024, a projeção do C6 é de que a taxa básica de juros termine em 9,25%.
Enquanto isso, Igor Cadilhac, economista do PicPay, ressaltou que o IPCA-15 pode ser visto de duas formas, uma positiva e outra negativa. Embora a leitura do índice geral tenha ficado abaixo das expectativas, os resultados subjacentes indicam ainda uma pressão sobre os preços
“Apesar da surpresa para baixo no headline, do ponto de vista qualitativo a leitura não foi favorável. A piora dos serviços, principalmente dos subjacentes, foi uma decepção. De modo geral, podemos separar o IPCA-15 de hoje em duas perspectivas: (1) a ‘boa’, que provavelmente reduzirá as expectativas do fechado de 2024 por meio de itens voláteis; e (2) a ‘ruim’, que é o qualitativo pior para a política monetária. Diante disso, o Copom deve seguir com cortes de 50 pontos-base”, afirmou.
O Copom se reúne nos dias 30 e 31 de janeiro.
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