Interferência política é ameaça para empresas na América Latina, diz Moody`s

Agência de classificação de risco alerta investidores para riscos de mudanças repentinas de regras e controle de preços por parte de governos na região

Relatório da Moody's apontou que mudanças políticas repentinas, controles de preços e subsídios, bem como interferência do governo, enfraqueceram o ambiente operacional na região (Foto: Erica Canepa/Bloomberg)
17 de Dezembro, 2023 | 02:36 PM

Bloomberg Línea — Os riscos políticos e a crescente interferência de governos na América Latina estão entre os fatores que influenciarão a perspectiva negativa para as empresas latino-americanas em 2024, juntamente com a probabilidade de taxas de juros mais altas por mais tempo ou mudanças estruturais, de acordo com um novo relatório da empresa de classificação de risco de crédito Moody’s.

“O risco político, que se traduz em mudanças repentinas de políticas e aumento dos controles de preços, de subsídios e de interferência do governo, enfraqueceu o ambiente operacional geral da América Latina”, alertou a agência norte-americana.

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Para a Moody’s, o risco de regulamentações incertas representa uma ameaça ao investimento e ao desempenho dos negócios.

A agência explica que essa tendência pode continuar em 2024 e nos anos seguintes, já que o aumento das demandas sociais e a desaceleração do crescimento pressionam os países a aumentar os gastos.

As condições de crédito melhorarão em 2024 em relação a um 2023 mais apertado, mas as altas taxas de juros continuarão a afetar o desempenho das empresas não financeiras da América Latina.

Moody’s

“As empresas não financeiras da América Latina enfrentarão implicações de crédito variadas devido a quatro temas que influenciarão a qualidade geral do crédito em 2024. Esses temas são: taxas mais altas por mais tempo, adaptação a mudanças estruturais, reformas e regulamentações e polarização”, resumiu o documento.

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Em outubro passado, o Banco Mundial (World Bank) ajustou para cima suas projeções de crescimento do PIB para a América Latina e o Caribe em 2023, de 1,4% estimado anteriormente pelo escritório do economista-chefe para 2%, embora os países da região continuem abaixo do desempenho global.

No caso da Argentina, a Moody’s chama a atenção para o alto risco de um default de crédito soberano em 2024-2025.

Em relação ao novo governo argentino, considera que o presidente Javier Milei terá dificuldades para adotar suas “mudanças drásticas”, pois enfrenta um “cenário político complexo e controle limitado no Congresso”.

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“O presidente Milei enfrenta sérios desafios, inclusive como corrigir sérios desequilíbrios macroeconômicos, tais como grave escassez de divisas, inflação anual de três dígitos e distorções significativas nos preços relativos”, apontou o relatório.

O aumento do custo de vida intensificou as desigualdades socioeconômicas e as demandas sociais existentes, levando a mudanças políticas e regulatórias.

Moody’s

Em relação ao Brasil, o relatório observa que o novo governo “revisou a estrutura fiscal para permitir maiores gastos públicos em investimentos e programas sociais, além de apresentar um plano de energia verde e sustentabilidade”.

Com relação à reforma tributária, o relatório ressalta que a proposta - aprovada pelo Congresso na sexta-feira (15) - visa aumentar a receita pública e destaca que terá implicações positivas para a qualidade de crédito do Brasil, embora os benefícios se concretizem apenas após o início de sua entrada em vigor em 2026.

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No México, as atenções estão voltadas para as eleições nacionais em junho de 2024 e para a reta final do mandato do atual presidente Andrés Manuel López Obrador.

A Moody’s vê “um risco maior de mudanças e intervenções regulatórias em determinados setores” em meio à transição política do México, de modo que “as decisões que contribuem para um ambiente operacional incerto e restrições de infraestrutura reduzirão os benefícios do nearshoring”.

O risco se intensificará, acrescentou ele, “à medida que o governo se apressar para concluir seus principais projetos e acelerar os processos administrativos, incluindo o Tren Maya, a refinaria Dos Bocas e o Corredor Interoceânico do Istmo de Santo Domingo de Tehuantepec”.

No Chile, as atenções estão voltadas para o processo constitucional e o plebiscito programado para o final de dezembro de 2023, enquanto se aguardam as implicações regulatórias.

De qualquer forma, sem uma mudança na constituição, a Moody’s considera que “a abordagem política para os setores extrativos do Chile tem se concentrado em uma maior intervenção do governo”.

No caso da Colômbia, a Moody’s prevê que o apetite do investidor continuará a ser moldado pelo ambiente político e pelas principais reformas a serem aprovadas pelo governo, embora “os fortes controles e equilíbrios institucionais e o sólido acesso ao financiamento bancário reduzam esses riscos”.

E, no Peru, “os riscos sociais e políticos ameaçam deteriorar ainda mais a coesão institucional nos próximos anos”, disse a Moody’s.

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Daniel Salazar

Profissional de comunicação e jornalista com ênfase em economia e finanças. Participou do programa de jornalismo econômico da agência Efe, da Universidad Externado, do Banco Santander e da Universia. Ex-editor de negócios da Revista Dinero e da Mesa América da Efe.