Ibovespa fecha em queda e dólar sobe a R$ 5,41 com preocupações fiscais; NY avança

Declarações do presidente Lula elevaram as preocupações de investidores sobre o compromisso do governo sobre o equilíbrio das contas públicas; Petrobras e Vale caem

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12 de Junho, 2024 | 06:09 PM

Bloomberg Línea — O Ibovespa (IBOV) fechou em queda de 1,40% nesta quarta-feira (12), aos 119.928 pontos, com os investidores reagindo a preocupações com o equilíbrio fiscal, o que afetou os ativos brasileiros, em dia de decisão de política monetária nos Estados Unidos.

O dólar (USDBRL) subia 0,90% e era negociado a R$ 5,41 no final do pregão, maior valor de fechamento desde janeiro de 2023.

A uma plateia com investidores estrangeiros, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta manhã no Rio de Janeiro que o seu governo segue com compromisso com a responsabilidade fiscal, mas que isso será feito por meio do aumento da arrecadação e da redução da taxa de juros, sem mencionar ajustes pelo lado dos gastos. E disse que espera reduzir a dívida pública sem comprometer a capacidade de investimento do país.

“Aumento na arrecadação de impostos e a queda das taxas de juros permitirão a redução do déficit público sem comprometer a capacidade de investimento público,” afirmou o presidente.

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As declarações tiveram repercussão negativa entre investidores no momento em que o governo é questionado sobre o aumento dos gastos e o desequilíbrio fiscal, além de decisões como a edição da medida provisória que restringia o uso de créditos gerados no pagamento de PIS/Confins.

Os ruídos em torno da medida provisória elaborada pelo Ministério da Fazenda para limitar o uso de créditos de PIS/Cofins pelas empresas elevaram as dúvidas sobre a força das decisões de Haddad.

Em uma declaração separada, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, disse que a revisão de despesas precisa de apoio de Lula.

Os papéis da Petrobras (PETR3; PETR4), da Vale (VALE3) e dos bancos Itaú Unibanco (ITUB4) e Bradesco (BBDC4) recuaram e ficaram entre as maiores contribuições negativas do dia.

Dos 86 ativos do Ibovespa, apenas nove tiveram alta, principalmente de empresas exportadoras que se beneficiam com a alta do dólar, entre elas Embraer (EMBR3), Weg (WEGE3), Gerdau (GGBR4) e Klabin (KLBN11).

As maiores perdas foram de Magazine Luiz (MGLU3), Cogna (COGN3), Dexco (DXCO3), Raízen (RAIZ4) e Vamos (VAMO3).

Mais cedo, o IBGE divulgou os dados da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) de abril. Segundo o relatório, o volume de serviços prestados subiu 0,5% em relação a março, o segundo mês consecutivo de ganhos. Em relação a abril do ano passado, a expansão foi de 5,6%,

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O resultado ficou acima da mediana das estimativas de economistas consultados pela Bloomberg, que esperavam avanço de 0,2% no mês e alta de 4,3% em relação a abril do ano passado.

“O resultado do setor de serviços em abril veio em linha com a nossa expectativa. Apesar da variação mensal positiva dos serviços, vale destacar a queda dos serviços profissionas e dos serviços prestados às famílias que têm maior peso no PIB e, portanto, indica alguma moderação da atividade econômica no 2º trimestre”, afirmaram economistas da equipe de pesquisa do Itaú BBA em relatório.

Decisão do Fed

Nos Estados Unidos, os principais índices de ações avançaram depois da divulgação de dados de inflação abaixo do esperado, mas perderam força durante a tarde após declarações de Jerome Powell para comentar a decisão de política monetária do Federal Reserve.

O presidente da autoridade monetária disse que os diretores estão adotando uma abordagem conservadora e esperando por mais dados de inflação antes de tomar uma decisão sobre um eventual corte da taxa de juros. Segundo ele, os dados do Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) foram positivos, mas é necessário observar os resultados dos próximos meses.

O Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) decidiu manter as taxas de juros dos Estados Unidos inalteradas pela sétima reunião consecutiva nesta quarta-feira (12), no intervalo de 5,25% a 5,50% ao ano, como era esperado amplamente pelo mercado.

O chamado “gráfico de pontos”, ou dot plot, – das projeções de taxas do FOMC – mostra uma expectativa de um corte de 0,25 ponto porcentual em 2024, abaixo da estimativa anterior de três cortes nas projeções trimestrais de março.

As autoridades monetárias do Fed agora veem que a taxa de juros para 2025 deve ser de 4,1%, na mediana, ante previsão anterior de 3,9%. Para o ano que vem, as projeções indicam quatro cortes, mais do que as três reduções previstas anteriormente.

“O novo cenário apresentado pelo Fed se aproximou da nossa visão de inflação em 3% no fim de 2024, mas segue ligeiramente mais otimista. Mantemos nossa visão de que os fundamentos macroeconômicos (mercado de trabalho aquecido, inflação desacelerando muito lentamente) são consistentes com nenhum corte de juro este ano, mas a comunicação do Fed sugere que um corte também é provável”, disse Claudia Rodrigues, economista do C6 Bank, em comentário.

Segundo Luca Mercadante, economista da Rio Bravo, é improvável ver novos cortes na Selic sem um movimento precedente do Fed, uma vez que o diferencial de juros pode pressionar o câmbio, já depreciado em relação ao início do ano.

“Com a deterioração do cenário fiscal, com incertezas ao redor da nova composição da diretoria do BC que desaconcoram as expectativas de inflação, além de uma atividade bastante resiliente, é impossível desconsiderar os desafios do cenário doméstico”, afirmou em comentário.

CPI de maio

A decisão do Fomc desta quarta ocorre após a divulgação dos dados do Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) de maio, que mostrou uma desaceleração da inflação.

O núcleo do CPI, que desconsidera preços de itens mais voláteis como os de alimentos e energia, subiu 0,2% em maio na comparação mensal, de acordo com dados divulgados nesta quarta-feira (12) pelo Departamento do Trabalho americano. O dado mostrou uma desaceleração da inflação na “margem”.

A mediana das projeções de economistas consultados pela Bloomberg apontava alta de 0,3% para o núcleo, em linha com o resultado em abril.

Na taxa anual, o núcleo subiu 3,4%, também abaixo da estimativa mediana de economistas consultados pela Bloomberg, que indicava desaceleração para 3,5%, versus 3,6% em abril. O número, no entanto, segue acima da meta de 2% perseguida pelo Fed.

Já o índice principal do CPI teve variação de 0,3% em maio, como havia sido registrado em abril; em 12 meses avançou 3,3%. O consenso da Bloomberg apontava altas de 0,1% e 3,4%, respectivamente.

O núcleo é uma das principais medidas acompanhadas pelo Federal Reserve (Fed) em sua decisão de política monetária. Isso porque fornece indicações mais precisas sobre a variação dos preços no país.

-- Com informações da Bloomberg News.