Ibovespa fecha em queda e dólar sobe a R$ 5,20 com alta dos juros de Treasuries

Rendimentos dos títulos do Tesouro americano subiram com as preocupações com a política do Federal Reserve; Vale foi a principal contribuição negativa para o Ibovespa

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Bloomberg Línea — O Ibovespa (IBOV) fechou em queda de 0,87%, aos 122.707 pontos, nesta quarta-fera (29), na véspera do feriado de Corpus Christi, sob influência das perdas nos índices de ações nos Estados Unidos.

Os yields (rendimentos) dos títulos americanos de 10 anos subiram, como reflexo da expectativa de juros mais altos na maior economia do mundo, o que afetou o desempenho das bolsas e das moedas mundo afora.

O dólar (USDBRL) subia 0,84% e era negociado a R$ 5,20 no final do pregão, o maior patamar desde 19 de abril.

Preocupações com o equilíbrio das contas públicas do governo também fizeram os juros futuros subirem no Brasil. O setor público consolidado registrou superávit primário de R$ 6,7 bilhões em abril, segundo dados do Banco Central. O resultado é menos da metade da estimativa de economistas do mercado financeiro, de R$ 15 bilhões.

Além disso, dados do mercado de trabalho divulgados nesta quarta mostram que o emprego está mais aquecido no Brasil do que o esperado, o que pode ser um desafio para o Banco Central seguir com os cortes da taxa Selic.

A taxa de desemprego ficou em 7,5% no trimestre encerrado em abril, abaixo da expectativa do mercado de 8,1%. A taxa é a menor registrada para um trimestre encerrado em abril desde 2014 - o que sinaliza pressão de demanda sobre a inflação.

Claudia Moreno, economista do C6 Bank, disse que essa notícia pode significar “mais um corte de 0,25 ponto percentual na reunião do Copom de junho, encerrando o ciclo de redução da Selic em 10,25%”.

“No entanto, a contínua piora das expectativas de inflação pode levar a autoridade monetária a pausar o ciclo de cortes no atual patamar de 10,5%”, disse.

Mais cedo no Brasil, o IGP-M, que tem peso maior de preços do atacado em sua composição, registrou uma variação de 0,89% em maio, o que representa uma aceleração em relação a abril, quando a taxa havia sido de 0,31%.

Entre os ativos, a Vale (VALE3) foi a principal contribuição negativa para o Ibovespa. O recuo do Itaú Unibanco (ITUB4) e da B3 (B3SA3) também pesou. A Petrobras (PETR3; PETR4) operava estável no fechamento.

A Azul (AZUL4) caiu depois que a Gol (GOLL4) informou que seu acionista controlador, a holding Abra Group, iniciou conversas com a concorrente para “explorar oportunidades”, segundo comunicado da noite de terça-feira (28). Os papéis da Gol também recuaram.

A Gol está em negociações para uma fusão com a companhia aérea brasileira rival Azul, segundo reportagem da Bloomberg News. Em um cenário em consideração, o Grupo Abra contribuiria com suas ações da Gol para a Azul em troca de uma participação na entidade combinada.

A alta do dólar, que pesa sobre os custos de combustível de aviação, também influenciaram as perdas das companhias aéreas.

Entre os destaques positivos, a Lojas Renner (LREN3) e a C&A Brasil (CEAB3) subiram depois de a Câmara dos Deputados aprovar projeto que acaba com a isenção fiscal para compras internacionais de até US$ 50, aplicando um imposto de importação de 20%.

A medida afeta as varejistas online estrangeiras Shein, Shopee e outras, que vêm ganhando mercado no país. A Casas Bahia (BHIA3) também subiu e o Magazine Luiza (MGLU3) teve queda.

As negociações na B3 voltam a operar na sexta-feira (31) depois do feriado de Corpus Christi nesta quinta.

Estados Unidos

Nos EUA, os principais índices de ações fecharam em queda depois que outra venda fraca de títulos do Tesouro americano levantou preocupações o déficit dos EUA aumentará os yields em um momento em que o Federal Reserve não tem pressa em cortar a taxa de juros.

Os EUA venderam US$ 44 bilhões em títulos de sete anos a um rendimento de 4,650% ao ano — acima do nível pré-leilão de 4,637%.

O leilão ocorre apenas um dia depois de outras duas ofertas totalizando US$ 139 bilhões terem visto uma demanda morna.

As vendas de títulos têm exercido uma influência crescente sobre várias classes de ativos, ressaltando como as incertezas sobre a política monetária continuam a dominar os mercados, enquanto a inflação mostra poucos sinais de moderação.

Os rendimentos do Tesouro a 10 anos subiram seis pontos-base para 4,61% e o dólar subiu ao máximo em um mês frente uma cesta de moedas.

- Com informações da Bloomberg News