Bloomberg Línea — O Ibovespa (IBOV) fechou em queda de 0,16%, aos 129.110 pontos, influenciado pelo recuo de ações ligadas a commodities e por declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que trouxeram de volta a preocupação fiscal ao radar de investidores. Foi a primeira queda do Ibovespa depois de uma sequência de 11 pregões consecutivos em alta. O dólar cedia 0,30% e era negociado a R$ 5,43 no fim do pregão.
Em entrevista à Record, o presidente minimizou a importância do cumprimento das metas fiscais, embora tenha dito que o governo fará o que for necessário para cumprir as regras do arcabouço.
“É apenas uma questão de visão. Você não é obrigado a estabelecer uma meta e cumpri-la se você tiver coisas mais importantes para fazer. Esse país é muito grande, esse país é muito poderoso. O que é pequeno é a cabeça dos dirigentes desse país e a cabeça de alguns especuladores”, disse Lula em trechos divulgados pela emissora durante a tarde. A entrevista irá ao ar na noite desta terça-feira.
“Esse país não tem nenhum problema se é déficit zero, se é déficit 0,1%, se é déficit 0,2%. Não tem nenhum problema para o país. O que é importante é que esse país esteja crescendo, que a economia esteja crescendo, que o emprego esteja crescendo, que o salário esteja crescendo”, completou o presidente.
O ministro Fernando Haddad buscou conter a reação negativa nos mercados. O chefe da Fazenda afirmou que as declarações do presidente foram tiradas de contexto e que o presidente defende a responsabilidade fiscal.
“O problema é que, quando você solta uma fala descontextualizada, você gera desnecessariamente uma especulação em torno do assunto”, disse Haddad a jornalistas.
As declarações de Lula foram dadas no momento em que surgem dúvidas sobre os planos do governo para cortar despesas. Segundo fontes da Bloomberg News, os planos do presidente para reduzir os gastos devem ficar limitados a tornar os programas sociais mais eficientes, o que frustra a expectativa dos investidores de cortes mais profundos.
A proposta do governo de reduzir as despesas em pelo menos R$ 25,9 bilhões em 2025 deve vir inteiramente de uma auditoria de programas onde foram encontradas supostas irregularidades, segundo duas pessoas com conhecimento do assunto ouvidas pela Bloomberg News. Nenhum corte adicional é planejado até o momento, as pessoas disseram, solicitando anonimato para discutir os planos.
Entre os ativos, a Vale (VALE3) foi a principal contribuição negativa, refletindo a queda do preço do minério de ferro.
A empresa divulgou relatório de produção após o fechamento do mercado, informando volume de 80,598 milhões de toneladas de produção no segundo trimestre. O número é 2,3% maior do que no mesmo período do ano passado.
O resultado ficou acima da estimativa de consenso entre analistas consultados pela Bloomberg, que esperavam uma produção de 78,8 milhões de toneladas no período.
O balanço trimestral da mineradora brasileira está previsto para o dia 25 de julho.
O volume de vendas de minério subiu 7,3% na comparação anual, para 79,792 milhões de toneladas.
Os futuros de minério de ferro caíram em Singapura em meio a preocupações de que a demanda fraca na China não absorverá um aumento da oferta global.
A Rio Tinto disse que seus embarques de minério do oeste da Austrália no segundo trimestre subiram 1,5% em relação ao mesmo período do ano passado, enquanto o Brasil exportou em média 1,66 milhão de toneladas por dia nos primeiros dez dias úteis de julho, uma alta de 14% em relação à taxa diária durante o mês de julho de 2023.
Os papéis da Petrobras (PETR3; PETR4) também recuaram com a queda do preço do petróleo. A Sabesp (SBSP3) e ficou entre as principais contribuições negativas após o encerramento do prazo para investidores aderirem à oferta de ações no processo de privatização. A Equatorial (EQTL3) foi confirmada como acionista de referência e as ações da empresa também tiveram perdas.
Na ponta positiva, o Itaú Unibanco (ITUB4) e a Weg (WEGE3) ficaram entre as principais contribuições positivas.
Destaque também para a Eneva (ENEV3) que fechou em alta de 0,23% depois de a empresa informar ao mercado o plano de fazer um follow-on que pode chegar a até R$ 4,2 bilhões.
De acordo com o CEO Lino Cançado, a empresa de energia, que tem o BTG Pactual (BPAC11) e a família bilionária Moreira Salles como seus principais acionistas, busca acelerar aquisições com o dinheiro arrecadado e pretende participar dos próximos leilões de energia.
Ainda no âmbito corporativo, a Smart Fit (SMFT3), uma das maiores redes de academias da América Latina, anunciou nesta manhã a compra de 100% das ações do grupo Velocity, de capital fechado, por R$ 163 milhões.
Segundo comunicado ao mercado, a aquisição visa ampliar o portfólio de modalidades do segmento de studios da Smart Fit, que conta atualmente com 23 unidades.
Estados Unidos
Destoando do Brasil, os índices de Nova York atingiram novas máximas históricas, enquanto as apostas de que o Federal Reserve em breve começará a cortar as taxas impulsionaram uma corrida para os setores mais arriscados do mercado.
Investidores têm mudado a estratégia para apostar em empresas de menor valor de mercado e saindo dos ativos de maior “segurança”, como as big techs, desde a divulgação de dados mais fracos de inflação na semana passada.
Nas últimas quatro sessões, o índice de small caps Russell 2000 superou o Nasdaq 100 por quase 12 pontos percentuais — um feito não visto desde 2011.
O S&P 500 subiu para cerca de 5.667, registrando seu 38º recorde este ano. O Dow Jones subiu quase 2%. O Russell 2000 ganhou 3,5%, registrando o maior avanço em cinco sessões desde abril de 2020. O Nasdaq 100 teve pouca alteração.
Os investidores também repercutiram os resultados financeiros. O Bank of America (BAC) subiu após dizer que a receita líquida de juros aumentaria até o final do ano. O Morgan Stanley (MS) caiu, pois os resultados de seu negócio de gestão de fortunas ficaram aquém das estimativas. A Charles Schwab alertou que terá que fazer ajustes para proteger os lucros.
A força do mercado de ações tem sido sustentada pelo otimismo de que a economia suportou o pior do aperto do Fed.
As vendas no varejo americano subiram 0,4% em junho, no maior patamar em três meses, sinalizando que os consumidores recuperaram sua confiança no final do segundo trimestre.
Os dados contrariam uma tendência dos últimos meses que mostrava uma desaceleração gradual no crescimento do consumo, à medida que os americanos sentem o impacto das altas taxas de juros e de um mercado de trabalho em desaceleração.
Nesse sentido, o relatório de vendas no varejo melhor do que o estimado na terça-feira foi um acontecimento “saudável”, de acordo com Bret Kenwell da eToro. É melhor ver o Fed cortando a taxa de juros com a inflação caindo do que ver o banco central americano correndo para estimular uma economia enfraquecida, segundo ele.
-- Com informações da Bloomberg News. Atualizada para corrigir os números do relatório de produção da Vale.