Ibovespa encerra a semana com perdas após dados mais fracos do varejo

Vendas no comércio varejista caíram 1% em maio ante abril, um desempenho menor do que o esperado, o que afetou os papéis de empresas ligadas ao consumo doméstico

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14 de Julho, 2023 | 05:20 PM

Bloomberg Línea — O Ibovespa (IBOV) fechou em queda de 1,31% nesta sexta-feira (14), aos 117.699 pontos, em um dia marcado pela aversão ao risco nos mercados. Com o resultado, o principal índice da bolsa brasileira encerrou a semana com perdas de 1,03%. O dólar (USDBRL), por sua vez, operava estável com alta de 0,01% ao final do pregão, cotado a R$ 4,7980.

Dados mais fracos do que o esperado para as vendas do varejo no Brasil indicaram um desempenho mais fraco do consumo. Já nos Estados Unidos, um relatório mostrou que a confiança do consumidor se mantém elevada, o que reforça a percepção de investidores de que o Federal Reserve (Fed) deve elevar os juros novamente em 0,25 ponto percentual em sua reunião de política monetária no fim do mês.

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Em Wall Street, grandes bancos como JPMorgan (JPM) e Citigroup (C) divulgaram resultados sólidos no segundo trimestre, mostrando a resiliência da economia em um período marcado por juros altos e quebra de bancos regionais, como o Silicon Valley Bank (SVB).

Por aqui, o volume de vendas do comércio varejista brasileiro caiu 1% em maio ante abril, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na comparação anual também houve queda de 1%, na primeira taxa negativa após nove meses de altas.

A maior contribuição negativa para o índice foi da Petrobras (PETR3; PETR4). As ações preferenciais da empresa petroleira encerraram o dia com perdas de 2,29%, enquanto as ordinárias caíram 2,26%, influenciadas pela queda da cotação do petróleo. Os papéis do Banco do Brasil (BBAS3), do Itaú (ITUB4) e da Prio (PRIO3) também afetaram negativamente os índices. Já as ações da Vale (VALE3) tiveram leve alta de 0,06%

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No campo corporativo, destaque para as ações da BRF (BRFS3) que tiveram queda de 7,44% nesta sexta depois de a empresa levantar R$ 5,4 bilhões em uma oferta subsequente de ações (follow-on) que atraiu investidores incluindo o fundo saudita de investimentos no setor agropecuário Salic, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto ouvidas pela Bloomberg News.

A companhia vendeu 500 milhões de ações a R$ 9,00 cada, um desconto de 5,7% em relação ao preço de fechamento de ontem, quinta-feira (13), disseram as pessoas, que pediram anonimato porque a informação ainda não é pública.

O destaque positivo foi da Méliuz (CASH3), que fechou em alta de 14%, depois de um relatório do BTG reiterar a compra dos papéis da empresa, elevando o preço-alvo para R$ 18. A principal razão é o acordo da empresa com o banco BV, que pode trazer resultados positivos para a empresa.

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Mercados internacionais

Enquanto isso, nos Estados Unidos, o maior mercado de títulos do mundo teve um dia de reversões, com os Treasuries reduzindo seus ganhos semanais à medida que dados econômicos fortes reforçaram a visão de que pode ser cedo demais para o Federal Reserve declarar vitória sobre a inflação.

Em uma semana marcada pelo otimismo de que o Fed estaria mais próximo de encerrar suas altas nas taxas de juros, um novo relatório mostrou que o sentimento do consumidor atingiu o maior patamar em quase dois anos, enquanto as expectativas de preços de curto prazo aumentaram. Os títulos reagiram imediatamente, com a parte da frente da curva dos EUA sofrendo as maiores vendas. As ações registraram perdas leves, com os investidores citando “consolidação” após um rali que colocou o S&P 500 a caminho de sua melhor semana desde março.

“Isso não parece ‘missão cumprida’ ainda”, disse Don Rissmiller, um dos sócios fundadores da Strategas, referindo-se aos dados econômicos. “A variável mais importante para os gastos do consumidor continua sendo o emprego, que ainda está sólido. Mas o mercado de trabalho dos EUA também é fundamental para considerações de inflação de longo prazo.”

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O rendimento dos títulos de dois anos dos EUA, que é mais sensível às movimentações iminentes do banco central, subiu 12 pontos-base para 4,75%. Isso contrasta fortemente com a queda nas taxas nos últimos dias. O dólar registrou um pequeno ganho, reduzindo sua maior queda semanal desde novembro.

Os investidores também analisaram os resultados do JPMorgan Chase, Wells Fargo e Citigroup, que se beneficiaram de taxas de juros mais altas, mas superaram facilmente as estimativas reduzidas dos analistas.

Os estrategistas de ações estão aumentando as previsões de lucros para o S&P 500 no próximo ano mais rapidamente do que as estão reduzindo, impulsionando um indicador chave que acompanha o ímpeto das revisões dos analistas, afastando-o de sua baixa de novembro. Após atingir -70% no final do ano passado, essa métrica, que se concentra nos lucros por ação projetados para os próximos 12 meses, está mais próxima do território positivo em -28%, de acordo com dados compilados pela Bloomberg Intelligence.

Na quinta-feira, o governador do Fed, Christopher Waller, disse que espera mais duas altas nas taxas de juros este ano para levar a taxa de inflação ao objetivo de 2% do Fed, embora mais dados positivos sobre preços possam tornar desnecessária a segunda alta. Austan Goolsbee, presidente do Fed Bank of Chicago, disse à Fox News que os recentes dados de preços ao consumidor mostrando uma redução da inflação eram “promissores”, embora a inflação ainda esteja acima da meta dos formuladores de políticas.

“Isso serve para manter uma opção - mesmo que agora esteja fora do dinheiro - de aumentar as taxas pela segunda vez no final do ano se os dados surpreenderem positivamente”, acrescentou Guha. “Mas também é uma maneira de evitar que as expectativas de corte das taxas de juros do mercado sejam antecipadas demais, ao modelar uma função de reação que implica um padrão de resultado baseado em alto padrão para eventualmente suavizar a política.”

-- Com informações da Bloomberg News

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Filipe Serrano

É editor sênior da Bloomberg Línea Brasil e jornalista especializado na cobertura de macroeconomia, negócios, internacional e tecnologia. Foi editor de economia no jornal O Estado de S. Paulo, e editor na Exame e na revista INFO, da Editora Abril. Tem pós-graduação em Relações Internacionais pela FGV-SP, e graduação em Jornalismo pela PUC-SP.