Ibovespa cai e encerra o 1º semestre com perda acumulada de 7,7%; dólar sobe a R$ 5,59

Falas do presidente Lula e incertezas políticas no cenário externo contribuíram para a queda dos ativos no Brasil e o aumento do preço do dólar

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Bloomberg Línea — Ibovespa (IBOV) fechou em queda de 0,32%, aos 123.906 pontos, influenciado por dados negativos das contas do setor público consolidado e por declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a política monetária e fiscal.

Em um dia marcado também pelo sentimento de aversão ao risco e pelo reposicionamento nos mercados internacionais, o dólar (USDBRL) subia 1,69%, cotado a R$ 5,59 ao final do pregão, maior valor de fechamento desde janeiro de 2022.

O principal índice da bolsa brasileira encerrou o primeiro semestre com perda acumulada de 7,7%. Em junho, no entanto, desempenho foi positivo, com avanço de 1,5%. Na semana, o índice avançou 2,1%, o segundo período consecutivo de altas, apesar da alta volatilidade dos últimos dias e da pressão sobre o câmbio.

O setor público consolidado registrou déficit primário de R$ 63,9 bilhões em maio, de acordo com dados do Banco Central divulgados nesta sexta-feira, um aumento de 27,4% sobre maio do ano passado.

O valor do rombo é o maior para o mês desde 2020, durante a pandemia, e reforçou a preocupação de agentes do mercado financeiro sobre o equilíbrio das contas públicas. A dívida bruta subiu para 76,8% do Produto Interno Bruto (PIB).

Em discurso em Minas Gerais, o presidente Lula se mostrou mais uma vez contrário à ideia de desvincular o salário mínimo da inflação e de benefícios sociais, algo que tem sido estudado pela equipe econômica e apontado como uma forma de evitar um aumento insustentável das despesas públicas.

“Gente do céu, o mínimo já é o mínimo. Como é que eu posso discutir fazer ajuste fiscal em cima do mínimo do mínimo? Eu quero fazer ajuste fiscal é na rentabilidade dos banqueiros deste país, que ganham dinheiro especulando todo santo dia. Não vou mexer nas pessoas mais humildes, que precisam do Estado”, disse Lula.

Mais cedo, em entrevista à rádio O Tempo o presidente afirmou que a taxa de juros “vai melhorar” quando ele indicar um novo presidente do Banco Central. O mandato de Roberto Campos Neto se encerra no fim do ano.

Dados da taxa de desemprego, que caiu mais do que o esperado por economistas, também reforçaram a preocupação entre investidores de que os estímulos fiscais e a economia aquecida pode levar o Banco Central a elevar a taxa de juros.

A taxa de desocupação recuou 0,7 ponto percentual frente ao trimestre de dezembro a fevereiro de 2024 (7,8%) chegando a 7,1%, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua divulgada hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É a menor para um trimestre móvel encerrado em maio desde 2014.

Entre os ativos, as ações do BTG Pactual (BPAC11) caíram 3,98% e foram a maior contribuição negativa. O banco acertou a aquisição do M.Y. Safra, instituição que opera nos Estados Unidos, como parte de sua estratégia para avançar no mercado de gestão de patrimônio no exterior.

O negócio foi anunciado em comunicado ao mercado na noite de quinta-feira (27) e a sua iminência havia sido antecipada pela Bloomberg News há duas semanas.

Os papéis do Itaú Unibanco (ITUB4) recuaram 0,09%, enquanto o Bradesco (BBDC4) caiu 0,32%. O Banco do Brasil (BBAS3) avançou 0,04% e o Santander Brasil (SANB11) caiu 1,40%.

Azul (AZUL4), Cogna (COGN3), Yduqs (YDUQ3), Embraer (EMBR3) e Assaí (ASAI3) lideraram as perdas.

Na outra pontam, a Vale (VALE3) subiu 1,07% e os papéis preferenciais da Petrobras (PETR3; PETR4) avançaram 0,90%, reduzindo as perdas do índice. BRF (BRFS3) e Marfrig (MRFG3) lideraram as altas.

Mercados internacionais

Em Nova York, os principais índices fecharam em queda depois que incertezas políticas afetaram a confiança de investidores após o desempenho ruim do presidente Joe Biden em debate com Donald Trump e temores sobre o resultado de eleições na França no domingo.

O sentimento de aversão ao risco dominou os mercados mesmo após dados positivos do indicador de inflação preferido do Federal Reserve (Fed).

O núcleo do índice de inflação do PCE (Índice de Gastos Pessoais), desacelerou para 0,1% em maio, segundo dados divulgados pelo Departamento de Estatísticas dos Estados Unidos.

Na comparação anual, o núcleo recuou de 2,8% (em abril) para 2,6% no mês passado, o menor valor desde março de 2021, embora ainda esteja acima da meta de inflação do Fed de 2%. O resultado indica uma desaceleração dos preços, que é justamente o objetivo da política monetária do Federal Reserve.

“Do ponto de vista do mercado, o relatório do PCE de hoje foi quase perfeito”, disse David Donabedian, da CIBC Private Wealth US, segundo a Bloomberg News. “O indicador de inflação favorito do Fed não só mostrou que a inflação estava se movendo em direção à meta do Fed, mas que a economia é resiliente. Os gastos do consumidor estavam em alta e os rendimentos líquidos também aumentaram após alguns meses fracos.”

A presidente do Fed de San Francisco, Mary Daly, disse à CNBC que os dados mais recentes de inflação indicam que a política monetária está funcionando, mas disse que é muito cedo para dizer quando será apropriado reduzir os custos de empréstimos.

Na sexta-feira, seu colega de Richmond, Thomas Barkin, disse que a batalha contra a inflação ainda não foi vencida e que a economia dos EUA provavelmente permanecerá resiliente enquanto o desemprego permanecer baixo e as avaliações de ativos altas.

Traders de vários setores rearranjaram suas posições após o debate entre Joe Biden e Donald Trump. O desempenho instável de Biden aumentou o sentimento em torno das chances de Trump garantir um segundo mandato na Casa Branca.

Ações de prisões privadas, empresas de cartões de crédito e seguradoras de saúde — os grupos que potencialmente ganhariam com outra presidência de Trump — subiram, enquanto ações de energia renovável e cannabis caíram.

A eleição presidencial dos EUA e suas consequências prometem grandes oscilações no mercado na segunda metade do ano, disse Scott Rubner, do Goldman Sachs Group, à Bloomberg News

-- Com informações da Bloomberg News