Bloomberg Línea — O Ibovespa (IBOV) fechou em queda de 0,19%, aos 121.802 pontos, nesta terça-feira (4), sob influência principalmente da queda dos preços de commodities e de um sentimento de aversão ao risco, o que afetou países emergentes.
Essa percepção ganhou força após os resultados das eleições na Índia e no México, o que afetou o desempenho do real. O dólar (USDBRL) operava em alta de 0,80% e era negociado a R$ 5,29 ao final do pregão.
As ações de mercados emergentes registraram a maior queda diária desde meados de abril, lideradas por fortes quedas na Índia, onde os resultados eleitorais pegaram os investidores de surpresa. O partido pró-negócios do primeiro-ministro Narendra Modi perdeu a maioria no Parlamento, o que força a legenda a contar com aliados para formar um novo governo e permanecer no poder. A bolsa de Mumbai sofreu a pior queda em mais de quatro anos.
No México, ocorreu o contrário. Além da vitória da candidata governista Claudia Sheinbaum, a base aliada de esquerda do presidente Andrés Manuel López Obrador chegou muito perto de atingir uma maioria absoluta no Congresso, o que eleva as chances de que o novo governo consiga passar reformas constitucionais que podem aumentar a intervenção do estado na economia.
Daniel Cunha, estrategista-chefe da BGC Liquidez, disse à Bloomberg News que investidores tiveram de ajustar as exposições em emergentes e isso acaba levando também a uma pressão vendedora sobre o real.
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Petrobras e Vale caem
Na bolsa brasileira, os papéis da Petrobras (PETR3; PETR4) e da Prio (PRIO3) tiveram perdas com o recuo da cotação internacional do petróleo e ficaram entre as principais contribuições negativas. O Brent, usado como referência pela estatal, caía 1,38% a US$ 77,28 o barril no final do pregão, o menor valor desde o início de maio. O novo plano da Opep+ de afrouxar suas restrições de produção ainda neste ano aprofundou o sentimento de baixa do mercado pelo segundo dia.
Os cortes na produção estão programados para começar a se desfazer já em outubro, adicionando barris a um mercado assolado por preocupações persistentes sobre a demanda e o fornecimento robusto de países produtores que não fazem parte do grupo.
As ações da Vale (VALE3) também caíram, com o minério de ferro estendendo as perdas, e também contribuíram para o recuo do índice.
O Magazine Luiza (MGLU3) liderou entre as maiores perdas do dia, com queda de 8,12%, em um dia de baixa para varejistas como Grupo Pão de Açúcar (PCAR3), Casas Bahia (BHIA3), Lojas Renner (LREN3), C&A Brasil (CEAE3), Petz (PETZ3) e Arezzo (ARZZ3). O relator de um projeto em tramitação no Senado retirou do texto a proposta de impor uma tarifa de 20% sobre compras internacionais de até US$ 50, que havia sido aprovada em votação na Câmara dos Deputados.
Em outra notícia negativa para as empresas, o governo editou uma medida provisória que limita o uso de créditos de PIS/Cofins, como uma forma de compensar a perda de arrecadação com a desoneração da folha de pagamentos para 17 setores da economia e para os municípios. A medida, que precisa passar por votação no Congresso em 60 dias para não perder a validade, pode ajudar a elevar a arrecadação em R$ 29,2 bilhões em 2024, segundo projeção do Ministério da Fazenda.
Entre as altas, Itaú Unibanco (ITUB4) e Bradesco (BBDC4) ficaram entre as principais contribuições positivas. A SLC Agrícola (SLCE3) liderou os ganhos do dia depois que o Citi elevou os papéis para recomendação de compra, com preço-alvo de R$ 24.
A Sabesp (SBSP3) também avançou após o governo de São Paulo divulgar mais detalhes das regras sobre a oferta de ações da empresa no processo de privatização. Depois de selecionar dois investidores estratégicos para ancorar o processo, serão construídos dois “books” separados em uma oferta ampla. Esses livros de ordens irão competir pelo maior número de propostas e pelo maior preço ponderado entre as ofertas dos investidores e o prometido pelo acionista de referência.
PIB do 1º trimestre
Mais cedo, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre de 2024, que teve crescimento de 0,8% na comparação com os três meses finais de 2023. Na comparação com o mesmo trimestre do ano passado, houve alta de 2,5% no PIB. Em ambos os casos, o resultado veio acima das projeções. Estimativa mediana de economistas ouvidos pela Bloomberg apontava um crescimento de 2,3% na comparação anual.
Segundo IBGE, o setor de Serviços puxou a variação positiva, com alta de 1,4%, principalmente devido às contribuições do comércio (3,0%), de informação e comunicação (2,1%) e de outras atividades de serviços (1,6%). A agropecuária, por sua vez, cresceu 11,3%.
Igor Cadilhac, economista do PicPay, avalia que a atividade econômica vem se beneficiando de um mercado de trabalho em pleno emprego, de uma massa salarial crescente e da inflação bem comportada. Ele manteve a projeção de crescimento do PIB para 2024 em 2,1%.
“Temos monitorado o bom momento do crédito, uma retomada do setor industrial, impulsionada pela normalização dos estoques, e a permanência de alguns estímulos governamentais dado, inclusive, as eleições regionais. Os riscos negativos residem nos efeitos finais da calamidade no RS e a perspectiva de um ciclo de corte de juros menor que o esperado anteriormente”, afirmou em comentário a clientes.
Claudia Moreno, economista do C6, acrescenta ainda que os estímulos fiscais, com o reajuste real do salário mínimo e o pagamento de precatórios, além da alta da colheita de grãos também contribuíram para alavancar o PIB no primeiro trimestre, mas esse impulso tende a ficar concentrado nos primeiros seis meses do ano.
“Na nossa visão, a expansão do PIB ficará concentrada na primeira metade do ano. Projetamos alta de 2,2% para a economia brasileira em 2024. É preciso considerar, no entanto, que o impacto das chuvas no Rio Grande do Sul sobre o PIB nacional ainda é incerto. Por ora, acreditamos que os auxílios concedidos e os investimentos que serão feitos para a reconstrução do estado poderão compensar a possível baixa na atividade econômica no segundo trimestre”, afirmou em comentário a clientes.
Estados Unidos
Enquanto isso, nos Estados Unidos, investidores reagiram a novos dados de emprego que indicam um esfriamento do mercado de trabalho no país. O S&P 500, o Nasdaq e o Dow Jones avançaram.
As vagas de emprego em aberto nos Estados Unidos caíram em abril para o nível mais baixo em mais de três anos, o que é consistente com uma desaceleração gradual do mercado de trabalho.
As vagas disponíveis diminuíram para 8,06 milhões, em comparação com uma leitura revisada para baixo de 8,36 milhões no mês anterior, mostrou a Pesquisa de Vagas e Rotatividade de Mão de Obra do Bureau of Labor Statistics, conhecida como JOLTS, divulgada nesta terça-feira (4). O número ficou abaixo de todas as estimativas de uma pesquisa da Bloomberg com economistas.
O declínio ajudou a reduzir um índice observado de perto pelo Federal Reserve - o número de vagas em aberto por trabalhador desempregado - para o nível mais baixo em quase três anos.
Os dados impulsionaram os títulos do Tesouro americano, e os rendimentos dos papéis de 10 anos ampliaram uma queda de quatro dias para quase 30 pontos-base. Os mercados agora estão precificando um primeiro corte da taxa de juros em novembro - e maiores probabilidades de uma redução em setembro.
-- Com informações da Bloomberg News.