Ibovespa cai e dólar sobe a R$ 5,75 com decisão do Copom e pessimismo em NY

Investidores reagiram à decisão do Banco Central, vista como menos dura do que o esperado; em NY, dados de emprego sinalizam enfraquecimento do mercado de trabalho

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01 de Agosto, 2024 | 05:58 PM

Bloomberg Línea — O Ibovespa (IBOV) fechou em queda de 0,20%, aos 127.395 pontos, nesta quinta-feira (1º), influenciado pelo sentimento de pessimismo nos mercados em Nova York e com os investidores reagindo ao comunicado do Banco Central na véspera.

Ontem, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu pela manutenção da Selic em 10,50% ao ano, pela segunda reunião seguida, em decisão unânime.

Apesar de incluir elementos de maior cautela, como o esperado, a avaliação de economistas do mercado financeiro é que a comunicação foi menos dura do que as expectativas. O comunicado do BC não sinalizou que pode aumentar as taxas de juros em sua próxima reunião, um movimento que já está precificado pelos mercados com a deterioração das perspectivas de inflação do Brasil.

A autoridade monetária “comprometeu-se a ser mais cautelosa, até mesmo mais vigilante, mas não deu nenhum sinal claro de que está contemplando uma reação mais forte”, escreveu Mário Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco, em um relatório. “Esperamos que a taxa básica de juros permaneça inalterada até o final do ano, apesar das crescentes preocupações quanto ao fato de esse nível ser suficiente para promover a convergência.”

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Como reação, o dólar (USDBRL) se valorizou e subia 1,76%, negociado a R$ 5,75, ao final do pregão na B3. Ao longo do dia, a cotação da moeda americana chegou a atingir R$ 5,7533, o maior valor em 2024.

Entre os ativos, a Vale (VALE3) caiu 2,14%, a R$ 60,31, e foi a principal contribuição negativa para o Ibovespa.

A ação preferencial da Petrobras (PETR3; PETR4) cedeu 1,49%, a R$ 36,85, em reação à queda do preço do petróleo. A cotação reverteu a alta impulsionada pelas tensões no Oriente Médio depois que sinais de desaceleração da economia americana mudaram o foco do mercado para preocupações com a demanda.

O Itaú Unibanco (ITUB4) e o Banco do Brasil (BBAS3) fecharam com perdas, enquanto Bradesco (BBDC4), Santander Brasil (SANB11) e BTG Pactual (BPAC11) subiram.

A Weg (WEG3) estendeu o rali e avançou 4,16%, a R$ 52,77, nesta quinta depois de saltar mais de 10% na véspera, e ficou entre as maiores altas pela segunda sessão seguida. Vivo (VIVT3), Marfrig (MRFG3), Rumo (RAIL3) e Hapvida (HAPV3) também ficaram entre as ações que mais subiram.

Estados Unidos

Em Nova York, os principais índices de ações tiveram um dia de queda depois da alta na véspera. Novos dados econômicos indicaram um esfriamento do mercado de trabalho, o que fez investidores avaliarem se o Federal Reserve está certo em esperar mais tempo para cortar a taxa de juros. O Nasdaq 100 teve a sua maior queda diária desde maio de 2020.

“Os mercados estão se aproximando do modo de pânico à medida que muitos fatores econômicos apoiam um afastamento dos ativos de risco”, disse Jose Torres, da Interactive Brokers. “Os ventos contrários são muito fortes, especialmente considerando que as ações estão precificadas para a perfeição. O que estamos vendo na economia é imperfeição.”

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Os pedidos iniciais de auxílio desemprego nos EUA saltaram para o nível mais alto em quase um ano, adicionando evidências de que o mercado de trabalho está desacelerando. Os pedidos iniciais aumentaram em 14.000 para 249.000 na semana encerrada em 27 de julho, de acordo com dados do Departamento do Trabalho divulgados na quinta-feira. A previsão mediana em uma pesquisa da Bloomberg com economistas apontava para 236.000 pedidos.

Os pedidos contínuos, um indicador para o número de pessoas recebendo auxílio desemprego, também subiram para 1,88 milhão na semana encerrada em 20 de julho, o maior nível desde novembro de 2021. Os dados de pedidos são propensos a grandes oscilações semanais nesta época do ano, que incluem fechamentos de escolas e reestruturações em fábricas de automóveis.

Os investidores aguardam agora os dados de emprego payroll nos EUA, que serão divulgados amanhã (2), em busca de sinais sobre o cenário do mercado de trabalho americano.

O presidente do Fed, Jerome Powell, sinalizou na quarta-feira que os diretores estão no caminho para cortar as taxas em setembro, a menos que o progresso da inflação pare - citando riscos de mais enfraquecimento no emprego.

Os dados mensais de emprego previstos para esta sexta-feira provavelmente alimentarão o debate. O desemprego está agora perto de acionar um indicador de recessão desenvolvido pela ex-economista do Fed, Claudia Sahm, que tem um histórico perfeito nos últimos 50 anos - a chamada “regra de Sahm”.

Para Neil Dutta da Renaissance Macro Research, a “deterioração contínua” nos dados econômicos tornou-se clara e “até que o Fed comece a cortar, eles vão parecer estar atrás da curva”.

Powell foi questionado na quarta-feira sobre a “regra de Sahm”. Ele disse que o que os formuladores de política monetária “acham que estamos vendo é um mercado de trabalho normalizando”, embora se “começar a mostrar sinais de que é mais do que isso, então estamos bem posicionados para responder”.

Os economistas esperam moderação no crescimento do emprego no relatório de emprego de julho do governo previsto para sexta-feira. Os analistas preveem que a taxa de desemprego permaneceu estável em 4,1%.

-- Com informações da Bloomberg News