Bloomberg — Uma queda de US$ 93 bilhões em valor nas ações da Novo Nordisk foi o mais recente golpe para as maiores empresas de capital aberto da Europa, que passaram mais um ano lutando em vão para igualar os retornos das maiores ações de Wall Street.
Enquanto as 10 principais ações dos Estados Unidos obtiveram retornos de dois dígitos em 2024, impulsionadas pelas chamadas Sete Magníficas, ou Mag Seven, seis dos maiores nomes da Europa estão no vermelho no acumulado do ano.
Entre elas está a Novo Nordisk, fabricante do Ozempic, cujos ganhos no ano foram totalmente apagados na última sexta-feira (20), bem como a Nestlé e a LVMH.
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Tudo isso colocou o índice Stoxx Europe 600 rumo ao seu pior desempenho em relação ao S&P 500 em quase um quarto de século.
E uma cesta de ações europeias dominantes no setor, compilada pelo Goldman Sachs, teve um desempenho ainda pior, atrás do Stoxx Europe 600 pela primeira vez desde 2017.
“Em grande medida, as Sete Magníficas carregaram o S&P 500″, disse Michael Field, estrategista da Morningstar. “Não é que não tenhamos grandes empresas na Europa, mas a diferença de escala é muito grande.”
Os pesos pesados europeus sofrem duas desvantagens.
Uma delas, como apontou Field, é o tamanho.
A cesta de ações europeias de grande capitalização do Goldman - apelidada de GRANOLAS (GSK, Roche, ASML, Nestlé, Novartis, Novo Nordisk, L’Oreal, LVMH, AstraZeneca, SAP e Sanofi) - vale, cumulativamente, cerca de US$ 2,5 trilhões, enquanto as Mag Seven adicionaram cerca de US$ 5 trilhões somente neste ano, elevando seu valor combinado para mais de US$ 16 trilhões.
Em segundo lugar, as chamadas ações da velha economia dominam os rankings europeus de grande capitalização. A cesta de 11 empresas que formam a cesta GRANOLAS contém apenas dois nomes relacionados à tecnologia, a alemã SAP e a holandesa ASML Holding.
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Setores como o automotivo, o industrial e o de mineração geralmente estão muito expostos aos ciclos econômicos, para o bem e para o mal - ou seja, são menos resilientes.
As ações de luxo, por exemplo, foram duramente atingidas pela desaceleração do consumo na China, enquanto na Nestlé o crescimento vacilante das vendas colocou as ações no caminho para o pior ano já registrado.
“Há um problema estrutural fundamental na Europa, pois ela não tem campeões globais de fato, e certamente não tem campeões globais na parte mais quente do mercado - tecnologia e inteligência artificial, a IA”, disse Guy Miller, estrategista-chefe de mercado da Zurich Insurance.
Há alguns sinais de inquietação com relação à recuperação vertiginosa das Sete Magníficas - e seu domínio sobre os índices de referência, como o S&P 500 e o próprio Nasdaq Composite.
Por exemplo, Matthew Cioppa, gestor de portfólio do Franklin Technology Fund, disse que está satisfeito em possuir algumas ações das Sete Magníficas, mas também tem uma exposição significativa a nomes menores de software.
Muitos também esperam que a Europa dê sinais de crescimento, citando valuations baratos, a probabilidade de um estímulo chinês e uma possível recuperação dos gastos na Alemanha.
Portanto, será que as coisas podem mudar no próximo ano?
Os estrategistas entrevistados pela Bloomberg News pensam que não, prevendo que Wall Street triunfará novamente em 2025.
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Embora alguns vejam as políticas do presidente eleito Donald Trump como uma vantagem para as Sete Magníficas, seu crescimento consistente dos lucros é provavelmente um atrativo maior.
A previsão é que os lucros aumentem cerca de 15,7% em 2025, em comparação com os 9,9% esperados para os GRANOLAS, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
“Em um período em que o crescimento macroeconômico tem sido bastante instigante e outros setores têm enfrentado desafios, essa confiabilidade na entrega de lucros deu confiança ao mercado” na tecnologia dos EUA, disse Iain Barnes, diretor de investimentos da Netwealth Investments.
“Você simplesmente não vê isso em outros mercados”, acrescentou.
-- Com a colaboração de Michael Msika.
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