Gestores estão menos otimistas com Ibovespa e real, mostra pesquisa do BofA

Cautela de 30 gestores com US$ 65 bilhões em ativos vem em momento de projeções de uma Selic terminal mais alta que o previsto, bem como diante de um Fed mais ‘hawkish’

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Bloomberg Línea — Investidores estão mais cautelosos com as apostas para a bolsa brasileira, enquanto as expectativas para o câmbio se deterioraram, em momento de percepção de piora do risco fiscal do país, segundo nova pesquisa do Bank of America (BAC) com gestores de ativos da América Latina.

A pesquisa Latam Fund Manager Survey, do BofA, deste mês contou com a participação de 30 gestores que juntos administram cerca de US$ 65 bilhões em ativos.

O levantamento deste mês mostra que a maior parte dos entrevistados se divide entre estimativas de um Ibovespa (IBOV) negociado entre 120.000 e 130.000 pontos no fim deste ano, bem como entre 130.000 e 140.000, o que implicaria potencial de alta de até 8,67% e de 17,03%, respectivamente, ante o fechamento de terça-feira (18) - na faixa de 119.500 pontos.

Já o percentual de gestores entrevistados que previa o índice negociado acima dos 140.000 pontos caiu de 19% para apenas 7% este mês.

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A expectativa, segundo o relatório, é a de que os investidores só voltem a investir em peso na classe de ações quando a taxa Selic atingir 9% ao ano – o que pode levar mais tempo, se é que vai acontecer no médio prazo, dado o contexto atual de piora nas projeções para a inflação.

Atualmente, a taxa básica está em 10,50% ao ano e o mercado financeiro projeta uma manutenção dos juros nesse patamar até pelo menos o fim de 2024, o que representaria o fim do ciclo de cortes de juros pelo Banco Central, iniciado em agosto passado.

Os gestores consultados pelo BofA veem uma taxa Selic “terminal” entre 10,00% e 10,50% ao ano, com expectativa de pausa no ciclo de flexibilização neste ano e cortes futuros que dependerão do rumo do Federal Reserve, nos Estados Unidos.

Para o câmbio, a maior parte dos entrevistados pelo BofA espera um dólar entre R$ 5,11 e R$ 5,40 ao fim de 2024, em comparação com o intervalo de R$ 4,81 e R$ 5,10 projetado anteriormente. A moeda americana chegou a ser negociada a R$ 5,47 nesta manhã de quarta-feira (19).

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América Latina

O aumento da cautela se reflete na queda do apetite por ativos de risco. Segundo o BofA, cerca de 23% dos entrevistados planejam aumentar a alocação em ações nos próximos seis meses, abaixo da média histórica de 40% e do percentual de 38% sinalizado na pesquisa do mês passado.

Entre os principais riscos para os mercados na América Latina, os gestores destacam taxas de juros mais altas nos Estados Unidos, uma desaceleração da economia americana, bem como as eleições presidenciais na maior economia do mundo em novembro - com a disputa entre Joe Biden e, provavelmente, Donald Trump.

Os setores com maior posição overweight (acima da média do mercado, equivalente à compra) são os de utilities (serviços públicos como energia e saneamento), financeiro e consumo discricionário. Já as maiores posições underweight estão em telecomunicação e bens de consumo.

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