Gestores de Wall St. se voltam para emergentes com menos exposição à economia global

Apostas em mercados menos conhecidos buscam proteção contra volatilidade global e altos retornos; Brasil é um dos mercados que apresentam maior ganho este ano

Brazil Exchange As Central Bank Raises Rates, Bucking Global Easing Trend
Por Malavika Kaur Makol - Srinivasan Sivabalan
24 de Março, 2025 | 10:44 AM

Bloomberg — Os gestores de ativos americanos estão cada vez mais fazendo alocações fora do benchmark tradicional e buscando retornos em mercados fora dos Estados Unidos.

O foco é a renda fixa de emergentes, e os alvos principais são os mercados que estão relativamente isolados da economia global e que têm oportunidades de investimento lideradas por fatores locais, como reformas ou altas taxas de juros.

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O banco de investimentos William Blair comprou títulos em dólares jamaicanos, peso da República Dominicana, rupia paquistanesa e kwacha zambiano. Enquanto isso, a AXA Investment está mantendo títulos em tenge do Cazaquistão; a Ninety One está analisando notas em xelins de Uganda; a Pinebridge está avaliando títulos em soum do Uzbequistão; e a BlackRock adicionou a dívida em dinares da Sérvia à sua carteira.

“Temos uma combinação de moedas muito desvalorizadas, taxas de juros bem elevadas e com carry muito alto", disse Marcelo Assalin, que dirige a equipe de dívida de mercados emergentes do William Blair. “Eles tendem a não estar correlacionados com os mercados globais, e essa é a beleza da coisa.”

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No passado, os investidores que diversificavam nesses países geralmente compravam títulos soberanos em dólares para evitar riscos cambiais e se limitavam a nomes em índices de referência. Isso está mudando, com os investidores indo mais longe em busca de altos rendimentos e de proteção contra a turbulência global.

Mas há uma contrapartida: eles estão trocando os riscos globais - como as políticas tarifárias inconstantes de Trump - por riscos locais.

Esses mercados pouco conhecidos geralmente têm baixa liquidez e podem prender os investidores no caso de uma queda repentina.

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Eventos políticos e econômicos inesperados podem transformar ganhos em perdas da noite para o dia. Seus tamanhos minúsculos também limitam o escopo da oportunidade de investimento.

“É preciso ser exigente e pesquisar, pois esses mercados são menos conhecidos e estão menos cobertos”, disse Aurelie Martin, economista e analista de investimentos da Ninety One em Londres.

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Mix de portfólios

Isso não significa, no entanto, que os gestores de fundos que fazem essas apostas não convencionais não estão dando as costas aos principais mercados emergentes.

Na verdade, os ganhos dos títulos em moeda local até agora neste ano estão sendo liderados pelos países maiores.

O Brasil, o México e o Chile apresentaram retornos de dois dígitos, levando o benchmark da Bloomberg para a classe de ativos ao seu melhor início desde 2023.

Nações de alto rendimento, como o Egito, onde as taxas de juros estão acima de 20%, estão atraindo interessados no carry trade.

Em comparação, os retornos dos mercados de fronteira menos conhecidos têm sido modestos. O ETF iShares JPMorgan EM Local Currency Bond, que tem títulos de nações menores entre seus dez principais ativos, subiu 4,3% desde o início de 2025.

Isso é mais do que o dobro dos ganhos do Bloomberg EM Local Currency Government Universal Index, mas muito menos do que, por exemplo, o Brasil, onde os investidores ganharam 16%.

Ainda assim, o caminho está na diversificação, de acordo com Magda Branet, chefe de mercados emergentes e renda fixa da Ásia na AXA Investment Managers UK.

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Apelo ao isolamento

Com uma correlação mínima com os mercados globais, os países menos conhecidos dos investidores podem escapar dos contágios do mercado - uma vantagem em potencial em um momento em que o mercado prevê um aumento da volatilidade nos próximos meses.

“Quando se opera nesses mercados, não está realmente jogando com o tema do enfraquecimento do dólar global”, disse Branet.

Branet, cujo fundo detém títulos em tenge no Cazaquistão, disse que não fez hedge para o risco cambial, pois isso afetaria os retornos do carry.

Atualmente, os mercados maiores, como o Brasil, estão apresentando desempenho superior devido a um dólar mais fraco. Se o dólar voltar a se valorizar, isso poderá provocar grandes fluxos de saída.

Em contrapartida, os fundos esperam rendimentos substanciais nos mercados alternativos, que podem compensar as possíveis perdas cambiais e, ao mesmo tempo, gerar lucros.

Altos rendimentos

O Uzbequistão, por exemplo, oferece um cupom de 17% em seu título denominado em soum de setembro de 2034. A taxa de 10 anos do Paquistão é de 10,5%. A nota de março de 2035 do Cazaquistão tem juros de 10,25%, enquanto o título de cinco anos da Jamaica paga 11,875% ao ano.

“Vemos o ímpeto das reformas e a melhoria dos fundamentos de crédito”, disse Joseph Cuthbertson, analista soberano da PineBridge Investments, referindo-se ao Uzbequistão.

“A moeda está em um patamar confiável e os rendimentos dos títulos são atraentes após o ajuste para qualquer depreciação cambial.”

No entanto, o risco de uma perda acentuada da moeda nunca está distante. O surto político da semana passada na Turquia ressaltou como casos de investimento bem planejados podem se desfazer até mesmo nos principais mercados emergentes.

“É uma questão de ser um pouco mais disciplinado e ter a mente mais clara do que o normal”, disse Branet, da AXA Investment.

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