Gestoras globais veem ‘momento’ para títulos de emergentes ante corte do Fed

Início iminente de relaxamento monetário representa um ímpeto para classe de ativos em moeda local, com investidores de olho em reformas, mas países como Brasil e México podem ser menos beneficiados

Vista aérea da região da região da Berrini em São Paulo: perspectiva de aumento de fluxo de capital para emergentes como o Brasil (Foto: Paulo Fridman/Bloomberg)
Por Zijia Song - Carolina Wilson
02 de Setembro, 2024 | 06:22 AM

Bloomberg — Gestoras globais com melhor performance na negociação de títulos de mercados emergentes têm recalibrado as suas posições, dado que o corte mais esperado em décadas da taxa de juros dos Estados Unidos representa um novo ímpeto a uma classe de ativos atingida por quase US$ 15 bilhões em saídas neste ano.

Esses investidores institucionais, desde a Pimco (Pacific Investment Management Co.) até a Neuberger Berman e a Grantham Mayo Van Otterloo & Co., estão de olho à dívida em moeda local e em histórias de reformas selecionadas de países como Equador e Argentina, que, segundo eles, são os que mais se beneficiam do benefício que os cortes do Fed devem proporcionar aos ativos de risco.

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“Você precisa escolher. Se possuir apenas os títulos locais sem hedge cambial, estará expostos a toda a volatilidade desse índice”, disse Pramol Dhawan, chefe de dívida de mercados emergentes da Pimco.

Ele disse que está neutro ou underweight (abaixo da média) para ativos com grau de investimento, underweight em “alguns dos títulos de alto rendimento [high yield]” e comprado em ativos em moeda local. “Essa é uma construção de portfólio que funcionará.”

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Os mercados emergentes têm sido afetados pela volatilidade, uma vez que a incerteza econômica global e os conflitos regionais perturbam as previsões animadoras.

Um indicador de ações de mercados emergentes avançou cerca de 11% nos últimos 12 meses, atrás de uma alta de 26% do S&P 500.

Mais recentemente, investidores ficaram em dúvida após a queda do peso mexicano no pós-eleições presidenciais e as oscilações bruscas do real brasileiro, em meio a uma combinação de problemas locais dos países e a reversão das posições globais de carry trade.

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Mesmo assim, os fundos da GMO, da Neuberger e da Pimco superaram mais de 90% de seus pares no último ano, com um retorno de mais de 16%, em comparação com uma média de mais de 12% para 71 fundos monitorados pela Bloomberg que detêm dívida de emergentes com mais de US$ 500 milhões em ativos.

Essas gestoras conseguiram esse desempenho, em parte, ao surfar em cima de ganhos substanciais das notas soberanas latino-americanas high yield neste ano, uma recuperação que agora deve desacelerar à medida que os preços se tornam mais bem avaliados.

Títulos de países da América Latina em moeda local e sem hedge cambial superam os pares - mercados emergentes e países asiáticos - no desempenho em 12 meses, segundo índices da Bloomberg

A expectativa é que, com as taxas mais baixas dos Estados Unidos, mais dinheiro seja alocado para os mercados emergentes, que oferecem retornos mais altos aos investidores.

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Os títulos de países em desenvolvimento registram até o momento um terceiro ano de saídas de capital (veja o gráfico abaixo) devido às condições de financiamento global ainda apertadas e aos conflitos geopolíticos.

Dhawan, da Pimco, disse que os cortes do Fed desencadearão um “efeito dominó”, fazendo com que os bancos centrais dos mercados emergentes sigam o exemplo e, potencialmente, desencadeiem uma enxurrada de capital nos mercados locais.

A mudança nos mercados já começou a aparecer, pois o Fed sinalizou claramente um corte em setembro, na reunião dos dias 17 e 18.

O mês passado foi o melhor para os títulos domésticos de mercados emergentes neste ano, com mais de 2,3% de retorno, de acordo com dados compilados em um índice da Bloomberg.

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Real e peso mexicano: cautela maior

No ano passado, por exemplo, a dívida em moeda local das nações em desenvolvimento teve um retorno equivalente a cerca de metade dos títulos em dólar.

Os mercados locais têm sido “uma estratégia comercial com desempenho bastante sólido, mesmo em um cenário de valorização do dólar”, disse Dhawan, que dá preferência a títulos e moedas locais na Turquia e na África do Sul, bem como a taxas com vencimento mais longo na América Latina. “Se você estiver bem diversificado dentro de EMFX [mercados emergentes em moeda estrangeira], essa tem sido uma operação bastante lucrativa.”

Tina Vandersteel, que administra US$ 6,1 bilhões em dívida de emergentes na GMO, disse concordar com essa visão, com preferência a ativos locais na República Dominicana, no Uruguai, no Egito e na Nigéria.

“Os mercados locais ainda têm um grande vento favorável de valorização relativa embutido neles”, disse.

Ainda assim, investidores disseram que continuarão cautelosos com relação à exposição a moedas como o real brasileiro e o peso mexicano, que tiveram desempenho inferior.

Samy Muaddi, chefe de renda fixa de mercados emergentes da T. Rowe Price, disse que prefere apostar nos movimentos das taxas de juros locais, ao mesmo tempo em que se protege contra as moedas.

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Histórias de reformas

Os principais fatores de contribuição para os retornos dos títulos de mercados emergentes no último ano foram os créditos high yield, que subiram mais de 18% em comparação com cerca de 9% para a dívida com grau de investimento, de acordo com dados compilados nos índices da Bloomberg.

As notas de alguns dos países com melhor desempenho - Equador e Argentina, impulsionados por reformas econômicas - não perderam a preferência. Para Gorky Urquieta, que supervisiona cerca de US$ 25 bilhões em dívida de mercados emergentes na Neuberger Berman, ambos ainda oferecem rendimentos atraentes, apesar do risco político persistente.

“Desde que as coisas estejam indo na direção certa em termos de reformas do governo”, disse ele, “ainda há muito espaço para retornos e para a redução dos spreads.”

Embora os investidores possam manter esses títulos para colher os cupons elevados, é hora de olhar para além da dívida soberana de alto rendimento, dado que ela está sendo avaliada de forma mais justa por estar “extremamente barata”, disse Muaddi, da T. Rowe.

Saída de recursos de títulos de mercados emergentes continua a acontecer no acumulado do ano em 2024, mas em volume menor do que nos dois últimos anos

Os fundos de títulos de mercados emergentes se esforçaram para atrair fluxos de entrada em meio à perspectiva de taxas mais altas por mais tempo nos Estados Unidos, de modo que registraram apenas nove semanas positivas - com ingresso líquido de capital - neste ano, de acordo com dados do JPMorgan.

Embora os US$ 15 bilhões em saídas até o momento em 2024 representem uma evolução em relação a uma saída de US$ 31 bilhões em 2023 e de US$ 90 bilhões em 2022, esse dado ressalta o desafio ainda enfrentado pelos gestores.

“Os mercados emergentes são um daqueles lugares que, na minha opinião, são ricos em oportunidades, mas você não quer ser o último a entrar no jogo”, disse Dhawan. “É preciso se antecipar um pouco ao Fed e começar a realocar seus portfólios.”

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