Bloomberg — Para pessoas que acompanham como as fortunas no mercado acionário convergem em uma oligarquia de gigantes da alta tecnologia, este é o contexto: não há nada novo.
Esse é o resultado de seis anos de pesquisa de Hendrik Bessembinder, cujo trabalho mostra como os retornos do mercado acionário são distribuídos de forma desigual ao longo do tempo.
O novo estudo do professor de finanças da Universidade Estadual do Arizona, intitulado “Shareholder Wealth Enhancement” e conduzido entre 1926 e 2022, mostra que além de poucas ações responderem pela maior parte dos retornos no último século, o “grupo de superstars” pode estar encolhendo.
O artigo de Bessembinder é interessante para qualquer pessoa que se preocupe sobre como a febre da inteligência artificial confinou os ganhos no S&P 500 a meia dúzia de empresas que respondem por praticamente todo o avanço deste ano.
Tratar esse padrão básico como atípico é um erro, sugere seu estudo. Na verdade, há motivos para acreditar que a situação é permanente e tende a se intensificar.
“Não posso dizer quais empresas serão as grandes vencedoras nos próximos 30 anos, mas tenho confiança em dizer que algumas dominarão o mercado”, afirmou em entrevista à Bloomberg News. “Parece se tornar um fenômeno ainda mais forte que o aumento da riqueza esteja concentrado em poucas ações.”
Bessembinder causou alvoroço há seis anos com uma pesquisa segundo a qual empresas como Apple (AAPL) e Exxon Mobil (XOM) esmagaram outras em termos de retorno. Desde a década de 1920, a maior parte da valorização do mercado foi gerada por menos de 4% das ações negociadas em bolsa.
Seu novo estudo levanta a possibilidade de que a situação começa a ficar mais arraigada: enquanto cinco ações foram responsáveis por 10% da expansão do patrimônio até 2016, o número caiu para quatro em 2019 e para apenas três hoje.
Mesmo observadores casuais do mercado estão cientes dos alertas de que o rali do mercado acionário em 2023 depende precariamente de apenas algumas gigantes. Na verdade, raramente ocorreu um rali na última década em que o mesmo alarme não tenha sido disparado.
Cautela semelhante foi recomendada durante a valorização puxada pelas chamadas “Faang” no final da década de 2010, formado pelas big techs Facebook, Amazon, Apple, Netflix e Google). Ouvir o conselho teria deixado investidores de fora de um dos ciclos de cinco anos mais fortes do mercado.
Forte concentração
Por que ocorre a concentração? No nível mais simples, reflete o papel dos lucros – companhias maiores ganham mais. Uma análise do colunista da Bloomberg Nir Kaissar mostrou que, quanto maior o lucro da empresa, maior tende a ser seu valor de mercado.
O lucro líquido projetado de 12 meses das empresas do S&P 500 está fortemente vinculado ao valor de mercado, com uma leitura de correlação de 0,82 ao longo do tempo. Uma correlação de 1 implica que duas variáveis se movem perfeitamente na mesma direção.
Outro fator é o efeito da composição. Embora o estudo de Bessembinder use uma comparação com os Treasuries, uma abordagem que considera a inflação e a capacidade de algumas empresas de acumular ganhos – o que significa que certa concentração é inevitável quando se trata de retornos do mercado acionário.
Ou seja, apenas o acaso já garante que algumas companhias aumentarão de tamanho com o tempo. Ainda assim, o grau de concentração aumenta a possibilidade de que diferentes forças contribuam para o desequilíbrio.
Este ano, todas as sete maiores empresas – como Apple, Microsoft (MSFT) e Nvidia (NVDA), que se beneficiaram do “boom” da IA – agregaram um total de US$ 4 trilhões ao valor de suas ações, 47% acima do total combinado de todas as companhias do índice Russell 2000 de small-caps, mostram dados compilados pela Bloomberg.
“Os mercados estão nos dizendo que acham que relativamente poucas empresas provavelmente conseguirão capturar uma fatia maior dos fluxos de caixa”, disse Bessembinder. “São as empresas que estão posicionadas para lucrar com a IA? Parece plausível, mas não posso ir além disso.”
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