Bloomberg — Alguns dos maiores bancos de Wall Street têm recomendado aos clientes apostas otimistas para os ativos brasileiros, especialmente no mercado de juros, e preveem o fim do mal-estar que assolou os mercados neste ano. Os principais fundos multimercado do Brasil, no entanto, não parecem convencidos disso.
Gestoras incluindo Verde Asset Management e Ibiuna Investimentos recentemente reforçaram o pessimismo com os mercados domésticos, com posições que ganham com alta das taxas de juros futuros, ao mesmo tempo em que apostam em um real mais fraco.
Nem mesmo o primeiro ciclo de cortes do Federal Reserve em quatro anos será suficiente, dizem os gestores, para compensar os receios despertados entre os investidores pela onda de gastos públicos do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em carta a cotistas no começo do mês, a Verde disse que o Brasil voltou à “era da política pública feita fora do Orçamento”, com uma criação de “tecnologias parafiscais que pareciam ter ficado num passado tão remoto”.
Segundo Gustavo Pessoa, sócio-fundador da Legacy Capital, o governo pode terminar o mandato com uma relação dívida-PIB de 85% e ainda há um “anseio” por uma expansão de gastos.
“Do lado fiscal, não tem nada que denote que a situação esteja melhorando”, disse Pessoa. “O governo parece estar querendo gastar mais mesmo que o país deva crescer mais de 3% em 2024. E também temos inflação, que não vai ser domada rapidamente.”
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A postura dos fundos locais contrasta com o otimismo observado entre alguns estrategistas estrangeiros. Para o Barclays, é hora de vender dólar e comprar real, especialmente em meio a sinais de que por ora “o pessimismo atingiu o pico”.
Morgan Stanley, Bank of America e UBS sugerem posições que ganham com a queda de taxas — as chamadas aplicadas em juros — no mercado doméstico.
Os otimistas dizem que as más notícias, incluindo a deterioração fiscal, já estão incorporadas aos preços. O ciclo de aperto do Banco Central, que deve começar nesta quarta-feira, no dia em que o Federal Reserve corta juros, será de curta duração, dizem eles.
“O comportamento dos preços tem desafiado as nossas visões, mas é barato manter esse ‘trade’ e os níveis são atrativos para que compradores aumentem exposição”, escreveram os estrategistas do UBS, incluindo Manik Narain, em uma nota de nove de setembro.
Os ativos brasileiros têm operado significativamente aquém dos pares neste ano, em meio às crescentes preocupações fiscais. O dólar sobe 13% no ano, com o real sendo a pior moeda em uma cesta de 16 principais divisas. Os juros futuros de médio prazo dos contratos de DI futuro, por sua vez, subiram dois pontos percentuais durante o mesmo período.
Ceticismo
Os gestores estão céticos quanto à sustentabilidade fiscal do país, que hoje depende mais do aumento das receitas do que do corte de despesas.
O arcabouço “ficará sob forte pressão no ano que vem, o que deve gerar, em algum momento, a sua modificação, trazendo novamente receios sobre a sustentabilidade da dívida brasileira”, disse a SPX Capital, que tem mais de R$ 58 bilhões sob gestão, em carta a clientes na semana passada.
A curva local atualmente precifica um ciclo de aperto de quase dois pontos percentuais, com dose inicial de 0,25 pontos percentuais.
Os fundos locais reduziram as apostas otimistas no real desde o início do ano e mantinham uma posição comprada líquida de US$ 9,7 bilhões na moeda em meados de setembro, de acordo com dados de derivativos cambiais compilados pela Bloomberg.
Para agravar a situação, o Brasil também enfrenta uma grave seca que está provocando o aumento dos preços de energia e pode afetar a produção agrícola – o que tem potencial de pressionar a inflação.
Para Fabricio Taschetto, diretor de investimentos da Ace Capital, o prêmio embutido na curva de juros doméstica não é suficiente para justificar uma posição otimista.
“A inflação deve subir no curto prazo com as queimadas, e o fiscal é ruim”, disse Taschetto. “No Brasil, você sabe quando o ciclo de alta começa — mas não como ele termina.”
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