Fundos brasileiros apostam em inflação ante dúvidas sobre próximos passos do BC

Expectativas de inflação mais alta à frente têm levado gestores de fundos multimercados a ampliarem posições que ganham com o aumento dos preços

Traders work at a stock trading centre at the PJSC Sberbank of Russia headquarters in Moscow, Russia, January 30, 2017.
Por Felipe Saturnino
17 de Junho, 2024 | 12:12 PM

Bloomberg — Fundos multimercados tiveram ganhos leves em maio, enquanto alguns gestores passaram a apostar em uma inflação mais alta à frente no Brasil, com atenção à atuação do Banco Central.

A Absolute Investimentos assumiu uma posição que se beneficia da alta da inflação implícita – a expectativa para alta dos preços embutida nos títulos públicos, dada pela diferença entre os juros nominais e os reais.

A gestora destacou que há dúvidas sobre a função de reação do Copom a partir de 2025, quando um novo presidente será indicado pelo atual governo.

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A última decisão do comitê, que foi dividida, trouxe “algum nível de ruído” para os mercados e gerou “mais dúvidas do que certezas com relação ao comprometimento da autoridade com a meta”, disse a Absolute em carta aos cotistas.

A Bahia Asset Management também passou a deter uma aposta na inflação implícita, relacionada às projeções da gestora para o comportamento da inflação no curto prazo.

O núcleo da inflação subjacente de serviços “segue rodando em níveis incompatíveis com a meta”, disse a Bahia Asset. Outros fundos como Ibiuna Investimentos e Vinland Capital também estão entre os que carregam essa aposta.

A taxa implícita de um ano à frente subiu 37 pontos-base em maio, enquanto a taxa de dois anos avançou 25 pontos no período.

Fundos ampliam apostas em preços mais altos enquanto credibilidade do BC está em jogodfd

A Verde Asset Management disse que cortou a alocação em bolsa brasileira em uma nova rodada de mudanças em suas posições pela contínua piora do cenário local.

“A política fiscal se mantém refém de um Executivo que não quer parar de gastar e de um Legislativo que sinaliza não querer entregar mais novas receitas”, disse a Verde, em carta. “Deste conflito nascem os altos prêmios de risco dos ativos brasileiros.”

O índice de hedge funds da Anbima, o IHFA, subiu 0,3% no período, depois que registrou em abril passado o pior mês desde novembro de 2022.

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Absolute Investimentos

A Absolute Investimentos está comprada (aposta na alta) em bolsa americana, posição de maior fator de risco no fundo, e também detém uma aposta favorável em relação à bolsa doméstica.

O fundou reduziu a posição comprada em dólar, por meio de compras de ouro e dólar australiano e, também, diminuiu a posição vendida em yuan chinês.

  • Retorno do Absolute Vertex FIC em maio: +0,56%

Adam Capital

Os estímulos domésticos e externos atuam no sentido de uma aceleração da inflação nos próximos anos. Neste cenário, a Adam avalia que o ouro e outros ativos como a bolsa brasileira e os juros locais devem se valorizar, e por isso detém essas posições na carteira.

  • Retorno do Adam Macro II FIC em maio: +1,1%

Bahia Asset Management

Gestora detém posições na inclinação da curva de juros reais e posições que se beneficiam da alta da inflação implícita. O fundo reabriu posições compradas em ouro e encerrou as posições vendidas (aposta na queda) no dólar americano e as posições compradas no peso mexicano contra o euro e a libra esterlina.

  • Retorno do Bahia AM Marau FIC em maio: +0,83%

Genoa Capital

A Genoa está aplicada nos juros nominais e comprada no dólar contra o real. A gestora não detém posição direcional em ações nos EUA nem no Brasil.

  • Retorno do Genoa Capital Radar FIC FIM em maio: -0,33%

Ibiuna Investimentos

O fundo tem posições aplicadas em juros reais e compradas em inflação implícita. Na renda variável, a Ibiuna reduziu a exposição a índices futuros de ações nos EUA e na Europa.

  • Retorno do Ibiuna Hedge STH FIC em maio: +1,08%

JGP Asset Management

O Banco Central provavelmente irá interromper o ciclo de flexibilização monetária na próxima reunião, disse a JGP. O fundo teve retorno positivo em maio com apostas em taxas mais elevadas e a valorização do ouro.

  • Retorno do JGP Strategy FIC em maio: +1,59%

Kapitalo Investimentos

Em juros, o fundo reduziu posições aplicadas no Brasil e na zona do euro, enquanto aumentou posições aplicadas nos EUA e no Reino Unido. A gestora elevou a posição comprada no real e reduziu apostas otimistas no peso mexicano.

  • Retorno do Kapitalo Kappa FIN em maio: +1,65%

Legacy Capital

Os ativos de bolsa no Brasil seguem bastante descontados e a gestora segue comprada pelos múltiplos muito comprimidos. A Legacy disse que também adota posição otimista em bolsa internacional.

  • Retorno do Legacy Capital FIC em maio: +0,45%

Verde Asset

A gestora manteve a posição comprada em bolsa americana e também fechou uma aposta otimista no peso mexicano após as eleições legislativas e presidenciais do país.

  • Retorno do Verde FIC FIM em maio: +2,53%

Vinland Capital

A Vinland disse que está posicionada para taxas nominais menores e para uma curva de juros mais inclinada na Europa. Também tem uma aposta na queda das taxas no México. O fundo está comprado em dólar contra o iene japonês e o peso mexicano.

  • Retorno do Vinland Macro Plus FIC FIM em maio: +0,53%

-- Com a colaboração de Vinícius Andrade e Davison Santana.