Fundo ESG busca retorno em ativos de emergentes com democracias mais estáveis

Fundo da Vontobel Asset Management com US$ 330 milhões sob gestão exclui do portfólio ativos de países considerados autoritários como Rússia, Turquia e Egito

Ativos de países de democracias com liberdade de manifestação como a Colômbia recebem investimento de fundo dedicado ao tema ESG
Por Selcuk Gokoluk
13 de Julho, 2023 | 04:16 PM

Bloomberg — Um fundo de investimento com foco ESG (ambiental, social e governança na sigla em inglês) que evita investir em nações classificadas como antidemocráticas está com um de seus melhores anos, depois que a estratégia o ajudou a evitar colapsos em certos mercados emergentes.

Thierry Larose, gestor da Vontobel Asset Management, administra um fundo de títulos em moeda local de mercados emergentes considerados sustentáveis de US$ 330 milhões.

De Zurique, ele monitora os rankings da Freedom House, em Washington, e coloca na lista proibida todos os países identificados como “não livres”. Isso deixa um terço do universo dos mercados emergentes de fora, o que inclui alguns dos maiores países.

Os rankings da Freedom House, com 210 países e territórios, levam em consideração eleições, liberdade de expressão e estado de direito. Entre as nações classificadas como “não livres” estão China, Rússia, Egito, Turquia e Tailândia.

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A estratégia do fundo é baseada na afirmação de que regimes autocráticos tendem a apresentar mais instabilidade no longo prazo, porque carecem dos pesos e contrapesos tipicamente presentes em democracias mais fortes.

“Essa estrutura de filtragem nos ajudou muito”, disse Larose, que co-administra o fundo com Carl Vermassen para a Vontobel, de controle familiar, e que tem cerca de US$ 230 bilhões sob gestão.

“Se não houver um mínimo de democracia ou liberdade em um determinado país, as chances são altas de que as instituições sejam mais fracas, implicando maior incerteza em todos os níveis e, para os mercados financeiros, maior probabilidade de volatilidade e retornos erráticos.”

A regra do fundo de não financiar ativos em regimes considerados autoritários o salvou do colapso na Rússia após a invasão da Ucrânia por Vladimir Putin e de perdas no Egito e na Turquia.

Combinado com o rali deste ano em democracias da América Latina, isso o coloca à frente de 97% dos mais de 5.000 fundos de mercados emergentes de renda fixa monitorados pela Bloomberg.

O fundo da Vontobel gerou retornos totais de 17% em dólar em 12 meses, em comparação com 4% no índice de dívida local de mercados emergentes de referência da Bloomberg.

Rússia

A Rússia, que já foi a favorita de investidores em mercados emergentes, ficou de fora dos índices de referência dos mercados emergentes e recebeu fortes sanções dos EUA e Europa.

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A Turquia, classificada como “não livre” pela Freedom House por reprimir dissidentes e limitar a liberdade de expressão, lidera as perdas em dívida local de mercados emergentes neste ano, com uma queda de quase 40%. O Egito, onde a oposição significativa é praticamente inexistente, segundo a organização, perdeu 18%, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Por outro lado, três dos cinco países com melhor desempenho neste ano — Colômbia, Brasil e Polônia — são classificados como “livres” no relatório anual “Freedom in the World” do think tank.

Larose permite o investimento em países “parcialmente livres” e, embora possa haver diferenças de opinião sobre as designações, “preferimos confiar nas classificações fornecidas por terceiros para fins de objetividade”, disse.

“Você não pode ser muito rigoroso se quiser investir em mercados emergentes”, afirmou. “Se quiser democracias completas, acabará com um portfólio com Canadá, Nova Zelândia, Suíça.”

Embora autocracias muitas vezes se esforcem para evitar default da dívida em moeda forte, o que poderia desestabilizar seus regimes e arriscar a apreensão de ativos internacionais pelos tribunais dos EUA, o conjunto de riscos é diferente para a dívida local.

“Nossa convicção é que, se não houver liberdade e democracia suficientes, há um risco maior de que decisões não pragmáticas e irresponsáveis sejam tomadas, levando a mais incerteza e, no final, a mais volatilidade dos ativos”, explicou.

“Esses países são mais propensos a não tomar medidas ortodoxas e pragmáticas e, historicamente, têm deixado de pagar suas dívidas locais com mais frequência do que países livres ou parcialmente livres”.

Favoritos

Países emergentes que devem se beneficiar mais da queda dos juros nos EUA e da forte demanda da China são classificados como livres, acrescentou Larose. Sua cesta de favoritos inclui títulos de Coreia do Sul, Malásia, República Tcheca, Israel, África do Sul, Brasil e México.

No entanto, sua estratégia nem sempre funcionou. Em 2019, o gestor teve um desempenho inferior ao de seus pares, quando Egito e Rússia entregaram os maiores retornos aos investidores, enquanto Argentina e Chile tiveram as maiores perdas.

“Essa é uma grande restrição, mas estamos felizes em usar essa estratégia, pois a vemos como uma salvaguarda”, afirmou. “Às vezes, você vai ficar de fora, mas, na média, é benéfico.”

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