Bloomberg — O mergulho dos rendimentos dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos desencadeado na semana passada pelo Federal Reserve obrigou muitos estrategistas de Wall Street a descartarem previsões recentes para 2024, mas a divergência ainda persiste entre otimistas e pessimistas.
As projeções do mercado de renda fixa para o próximo ano, que pareciam pessimistas quando publicadas em novembro, caíram por terra em meio à queda dos yields após o Fed sinalizar cortes de juros em 2024. Algumas previsões já otimistas também foram completamente atropeladas pelo anúncio.
No entanto, enquanto muitos tiveram de refazer os cálculos, grandes bancos ainda estão em desacordo. A TD Securities está entre as mais otimistas em relação aos títulos. O Bank of America (BAC) e o Barclays estão entre os mais céticos.
A previsão mediana de estrategistas das maiores instituições financeiras do mundo agora aponta que o rendimento do Treasury de 10 anos, uma referência para vários mercados, caia para 3,98%.
Esse nível não está muito longe dos 3,93% no fechamento de segunda-feira (18), mas é muito inferior ao rendimento antes da guinada do Fed: 4,20% – também abaixo da máxima de 2023, acima de 5%.
No limite inferior, a TD Securities acredita que a taxa de 10 anos tenha margem para chegar a 3% daqui a 12 meses, após 200 pontos-base de cortes dos juros pelo Fed a partir de maio.
E o Barclays, embora capitulando em sua opinião de que cortes nas taxas são improváveis antes do quarto trimestre do ano que vem, prevê que os rendimentos terminem 2024 em 4% e 4,35%, respectivamente.
“Sempre que você ver essa faixa discrepante de estimativas é quando uma tendência chegou ao fim e está prestes a embarcar em algo novo”, disse Bryce Doty, cuja equipe administra US$ 9 bilhões em fundos de títulos públicos na Sit Investment Associates.
A guinada dovish do Fed, acrescentou Doty, foi “a campainha avisando que estamos num ponto de inflexão”.
Outros, como o Bank of America, ainda projetam que o rendimento de 10 anos seja negociado em 4,25% nessa época do ano em 2024, mas admite que a nova postura do Fed “representa riscos de baixa para as nossas previsões de taxas”. O Morgan Stanley aposta em 3,95%, o JPMorgan (JPM), em 3,65%, e o Citi (C) vê a taxa em 3,90%.
No mesmo período do ano passado, a TD e o Citigroup estavam entre os mais otimistas em relação aos Treasuries, depois de vários investidores declararem 2023 como o “ano dos títulos”.
Estas previsões implodiram à medida que a economia e a inflação se revelaram mais resilientes do que o previsto e uma recessão foi evitada, levando o Fed a passar grande parte do ano estendendo a maior série de aumentos das taxas em décadas. Contrariando as expectativas da maioria, os rendimentos de 10 anos ultrapassaram 5% em outubro pela primeira vez desde 2007.
Agora, os títulos estão no caminho certo para evitar por pouco uma terceira perda anual consecutiva, depois de a economia começar a desacelerar e da pausa no aperto do Fed. Esse cenário levou ao melhor mês para os títulos do Tesouro desde 2008 em novembro, e a um rali geral nos mercados de ações, crédito e emergentes.
“As expectativas de que 2023 seja o ano dos títulos não foram totalmente atendidas”, disse Chris Iggo, diretor de investimentos da AXA Investment Managers, em relatório de 8 de dezembro, antes do rali pós-Fed dos Treasuries. “O desempenho dos mercados de títulos do governo tem sido decepcionante.”
O Goldman Sachs (GS) foi um dos poucos que previu corretamente o atual cenário e sua equipe, liderada por Praveen Korapaty, diz agora que o rali perderá força em 2024.
Outros estão apenas adotando o mantra “compre títulos” no ano novo.
Em relatório a clientes em 11 de dezembro, analistas da Jefferies International disseram: “Esperamos que 2024 seja o ano da renda fixa”, com títulos mostrando desempenho superior ao das ações, à medida que os bancos centrais embarcam em cortes das taxas.
Ainda assim, enviaram um alerta: “Com o devido respeito aos analistas de todo o espectro, é provável que 2024 seja outro ano desafiador para as previsões macro”.
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