Fed mantém taxa de juros pela 6ª vez e indica ‘falta de progresso’ na inflação nos EUA

Decisão era amplamente esperada no mercado, enquanto investidores buscam sinais sobre os planos do BC americano de cortar os juros em 2024

Federal Reserve Lowers Key Rate By Three Quarters Of A Point
01 de Maio, 2024 | 03:06 PM

Bloomberg Línea — Diretores do Federal Reserve (Fed) decidiram manter as taxas de juros dos Estados Unidos inalteradas pela sexta reunião consecutiva nesta quarta-feira (1º), no intervalo de 5,25% a 5,50% ao ano.

A decisão foi unânime e era amplamente esperada pelo mercado, uma vez que indicadores têm mostrado uma inflação persistente nos Estados Unidos, enquanto a atividade econômica e o mercado de trabalho indicam resiliência.

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Em comunicado, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), afirmou que nos últimos meses tem havido uma “falta de progresso adicional” para que a inflação caminhe para a meta de inflação de 2% da autoridade monetária.

“O Comitê não espera que seja apropriado reduzir a faixa de metas [de juros] até que tenha ganhado maior confiança de que a inflação esteja se movendo de forma sustentável em direção a 2%”, diz o texto.

O texto, no entanto, evitou mencionar explicitamente a possibilidade de um novo aumento dos juros, reduzindo as preocupações de investidores sobre um novo aperto da política monetária.

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“O Comitê estaria preparado para ajustar a postura da política monetária conforme apropriado se surgirem riscos que possam impedir o alcance dos objetivos do Comitê. As avaliações do Comitê levarão em conta uma ampla gama de informações, incluindo dados sobre as condições do mercado de trabalho, pressões inflacionárias e expectativas de inflação, e desenvolvimentos financeiros e internacionais”, afirma o comunicado.

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Os índices de ações, que operavam em queda antes da decisão do Fed, reduziram as perdas logo após a divulgação.

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O S&P500 caía 0,10% e o Nasdaq subia 0,03% por volta das 15h07, no horário de Brasília, enquanto o Dow Jones, que acompanha os papéis considerados mais representativos da economia americana, avançava 0,40%. O Ibovespa (IBOV) não opera nesta quarta em razão do feriado. O EWZ, ETF de ações brasileiras, zerou as perdas e passou a subir 0,18% no mesmo horário.

Os diretores também indicaram planos para reduzir o ritmo com que o Fed está reduzindo o portfólio de ativos no balanço - um processo conhecido como aperto quantitativo, ou QT.

O Fed reduzirá o limite de redução para títulos do Tesouro de US$ 60 bilhões para US$ 25 bilhões por mês, a partir de junho, em uma tentativa de reduzir o risco de turbulência nos mercados financeiros que ocorreu durante o ciclo anterior de redução do balanço patrimonial em 2019.

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O limite para títulos lastreados em hipotecas (MBS, na sigla em inglês) permaneceu inalterado em US$ 35 bilhões, embora o Fed, em junho, reinvestirá em títulos do Tesouro quaisquer pagamentos do principal acima do limite.

As autoridades enfatizaram que a decisão de desacelerar o QT é independente dos cortes de taxa de juros e de seu timing.

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O Fed não está inclinado a reduzir os juros nos EUA tão cedo com a economia aquecida e a inflação ainda distante da meta de 2%.

Diretores do Fed vinham apontando nas últimas semanas que não há pressa para reduzir as taxas diante do cenário atual.

Na decisão de política monetária anterior, em março, as estimativas dos diretores apontavam para até três cortes de juros em 2024, algo que parece cada vez mais irreal diante de indicadores que mostram uma economia e um mercado de trabalho aquecidos.

Dados divulgados na terça-feira (30) mostraram uma aceleração acima do previsto nos custos trabalhistas americanos, ilustrando as persistentes pressões salariais que mantêm a inflação elevada.

O índice de custos de emprego, que mede salários e benefícios, aumentou 1,2%, a maior alta em um ano, após um crescimento de 0,9% no final de 2023, de acordo com dados do Bureau of Labor Statistics.

O avanço superou todas as projeções em uma pesquisa da Bloomberg com economistas, fortalecendo o argumento para o Fed manter as taxas inalteradas.

Um raro sinal de alívio, no entanto, foi visto nesta quarta. As vagas de emprego nos Estados Unidos caíram em março para o nível mais baixo em três anos, enquanto as demissões e contratações diminuíram, indicando um arrefecimento no mercado de trabalho.

As posições disponíveis diminuíram para 8,49 milhões ante uma leitura revisada para cima de 8,81 milhões no mês anterior, mostrou a Pesquisa de Vagas e Rotatividade de Mão de Obra, conhecida como JOLTS, divulgada nesta quarta-feira (1º) pela agência de estatísticas do país.

O número foi menor do que todas as estimativas, exceto uma, em uma pesquisa da Bloomberg com economistas.

O relatório ilustra o tipo de arrefecimento no mercado de trabalho que o Federal Reserve gostaria de ver, com a demanda por trabalhadores diminuindo por meio de menos aberturas de vagas em vez de perdas de empregos.

Apesar dos sinais, a inflação tem se mantido mais arraigada que o esperado, ainda distante da meta de 2% do Fed, O núcleo do índice de inflação mais acompanhado pelas autoridades do Federal Reserve (Fed), o PCE (Índice de Gastos Pessoais), teve alta de 0,3% em março, segundo dados divulgados na semana passada.

O resultado ficou estável em relação ao apresentado no mês de fevereiro e veio em linha com o esperado pelo mercado financeiro. Ainda assim, reforça que a economia dos EUA permanece resiliente.

O núcleo é considerado o indicador mais importante pelo presidente do Fed, Jerome Powell, pois exclui as categorias de preços mais voláteis de energia e alimentos. Na comparação anual, a alta foi de 2,8%, acima dos 2,7% esperados por economistas consultados pela Bloomberg.

--Com informações de Bloomberg News. Atualizado para incluir detalhes sobre a redução do balanço do Fed.