Bloomberg Línea — O Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), do Federal Reserve, decidiu manter inalterada nesta quarta-feira (31) a taxa de juros dos Estados Unidos no patamar de 5,25% a 5,50% ao ano. A expectativa de uma manutenção, a quarta consecutiva, era consensual entre economistas de Wall Street.
No comunicado divulgado junto com a decisão, o Fomc afirmou que os diretores avaliam que os riscos de alcançar as metas de emprego e inflação estão se movendo em direção a um “melhor equilíbrio”, mas que o cenário ainda requer atenção.
“O Comitê não espera que seja apropriado reduzir a faixa de meta até que tenha adquirido maior confiança de que a inflação está se movendo de forma sustentável em direção a 2%. Além disso, o Comitê continuará reduzindo suas participações em títulos do Tesouro, dívidas e títulos hipotecários, conforme descrito em seus planos previamente anunciados. O Comitê está fortemente comprometido em retornar a inflação ao seu objetivo de 2%”, diz o comunicado do Fed.
Após a decisão, os índices acionários dos EUA, que operavam em queda nesta quarta, estenderam as perdas. Por volta das 16h12 (horário de Brasília), o S&P 500 caía 0,86%, enquanto o Nasdaq, com grande exposição ao setor de tecnologia, tinha queda de 1,37. O dólar caía 0,22% a R$ 4,94 e o Ibovespa (IBOV) subia 1,26%.
Em coletiva de impressa logo após a decisão, o presidente Jerome Powell disse que os juros devem cair ainda neste ano, caso a dinâmica atual se mantenha. “Acreditamos que nossa taxa básica provavelmente esteja em seu pico para este ciclo de aperto e que, se a economia evoluir amplamente como esperado, provavelmente será apropriado começar a reduzir o aperto em algum momento deste ano”, disse. “Estamos preparados para manter a meta atual para a taxa por mais tempo, se apropriado.”
Na decisão desta quarta-feira, o Fed sinalizou uma abertura para cortar a taxa de juros, embora não necessariamente imediatamente.
O comunicado abandonou sua afirmação anterior de que um aumento nas taxas era possível e, em vez disso, adotou uma avaliação mais equilibrada do caminho futuro da política monetária.
A decisão de manter a taxa de juros de referência inalterada no nível mais alto em 22 anos foi unânime. O banco central americano também reiterou sua intenção de continuar reduzindo seu balanço em até US$ 95 bilhões por mês.
Os diretores do Fed também ajustaram sua descrição da atividade econômica. Após um crescimento econômico mais forte do que o esperado no quarto trimestre, o comitê descreveu a atividade como “expandindo-se a um ritmo sólido”.
Entre outras mudanças no comunicado, o comitê omitiu a linguagem que vinha sendo incluída desde março passado, chamando o sistema bancário de “sólido e resiliente” e alertando que condições de crédito mais restritas provavelmente iriam pesar sobre a economia.
Como de costume no início do ano, a reunião de janeiro trouxe uma rotação de novos membros que votam no Fomc, incluindo os presidentes dos bancos regionais do Fed em Atlanta, Cleveland, Richmond e São Francisco.
O Fomc também usou sua primeira reunião do ano para reafirmar seus objetivos de longo prazo e estratégia de política monetária, incluindo seu compromisso com uma meta de inflação média de 2%.
Quando pressionado pelos jornalistas sobre o que as autoridades precisam ver para reforçar a confiança de que a inflação caminha para 2%, Powell disse que eles querem ver uma continuação dos “bons” dados observados nos últimos meses. “Só precisamos ver mais”, disse ele.
Na reunião anterior, em dezembro, o banco central americano haviam dado o sinal mais claro até de que o ciclo de alta havia terminado. Nas projeções divulgadas pela entidade na época, os diretores do Fed esperavam uma redução de 0,75 ponto porcentual na taxa de juros até o fim de 2024, um corte maior do que o projetado em setembro.
No mercado de juros, investidores passaram a prever desde então que o Fed iria realizar uma sequência de cortes de juros ao longo do ano. No início de janeiro, as negociações no mercado chegaram a apontar chances acima de 60% de que os cortes começariam em março, mas a probabilidade caiu para 40% antes da reunião desta quarta-feira.
Combate à inflação
O último aumento de juros do Fed foi há quase oito meses, mas a maioria dos diretores tem dito que é cedo demais para especular sobre tal mudança de curso. A inflação têm se mantido controlada nos EUA, mas o mercado de trabalho ainda aquecido e a atividade econômica em expansão sugerem que o Fed deve ter pouca urgência em cortar as taxas de juros.
“Não se pode negar o fato de que a inflação caiu muito, e eu não acho que eles queiram”, disse Seth Carpenter, economista-chefe global do Morgan Stanley, à Bloomberg News. “Por outro lado, não acho que haverá uma grande bandeira dizendo ‘Missão Cumprida’.”
No geral, a economia americana tem tido um desempenho melhor do que o esperado pelos diretores do Fed.
O núcleo do índice de inflação mais acompanhado pelas autoridades do Federal Reserve (Fed), o PCE (Índice de Gastos Pessoais), teve alta de 0,2% em dezembro e encerrou o ano passado com variação acumulada de 2,9%, de acordo com dados divulgados na semana passada.
A variação foi maior do que em novembro (0,1%), indicando que os preços no país seguem em ritmo moderado. O núcleo é considerado o indicador mais importante pelo presidente do Fed, Jerome Powell, pois exclui as categorias de preços consideradas mais voláteis de energia e alimentos. Já o índice cheio também teve alta de 0,2% no mês passado. No acumulado em 12 meses, a variação foi de 2,6% para o índice geral.
O escritório de estatísticas do país divulgará dados na sexta-feira sobre o mercado de trabalho em janeiro, a primeira leitura importante sobre como a economia está se saindo até agora em 2024. Os economistas preveem um relatório sólido, com o crescimento do emprego desacelerando um pouco e o desemprego aumentando apenas ligeiramente.
O risco de uma nova aceleração da inflação neste ano é algo que pode fazer com que os diretores do Fed fiquem reticentes em fazer cortes de juros. No início deste mês, o presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, disse que o pior resultado seria reduzir as taxas e depois precisar aumentá-las novamente.
“Um pecado cardinal do banco central é cortar e ter que reverter o curso”, disse Diane Swonk, economista-chefe da KPMG. “Este é o momento de resistir e manter o curso. Os mercados não vão gostar, mas a mensagem tem começado a ser absorvida.”
-- Com informações da Bloomberg News. Atualizada para acrescentar mais detalhes da decisão do Fed.
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