Fed mantém taxa de juros nos EUA e sinaliza que está mais próximo de um corte

Diretores do banco central americano apontaram que tem havido ‘algum progresso’ na inflação nos Estados Unidos, um avanço em relação à reunião anterior

Por

Bloomberg Línea — Os diretores do Federal Reserve (Fed) mantiveram a taxa de juros no maior patamar em duas décadas, mas apontaram nesta quarta-feira (31) que tem havido ”algum progresso” na inflação nos Estados Unidos, o que é visto como um primeiro sinal de que a autoridade monetária está mais perto de realizar um corte de juros.

O Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) afirmou em comunicado que “nos últimos meses, houve algum progresso adicional em direção ao objetivo de inflação de 2 por cento do Comitê.”

O texto marca uma mudança em relação à reunião de junho, quando as autoridades classificaram o progresso da inflação como “modesto”.

Em sua decisão nesta quarta, os diretores decidiram manter a taxa de juros de referência dos Estados Unidos inalterada no intervalo de 5,25% a 5,50% ao ano, em uma decisão amplamente esperada por investidores e analistas. A decisão foi unânime.

Foi a oitava reunião seguida em que a taxa de juros é mantida no atual patamar, o mais alto dos últimos 20 anos. O Fed tem mantido os juros elevados desde o fim de julho do ano passado.

Todos os economistas consultados em uma pesquisa da Bloomberg esperavam a manutenção da taxa de juros nesta quarta-feira.

Os índices de ações de Nova York, que operavam em alta antes da decisão, estenderam as altas logo após a divulgação do comunicado.

O S&P 500 subia 1,62% e o Nasdaq avançava 2,43% por volta das 15h05, no horário de Brasília, enquanto o Dow Jones, que acompanha os papéis considerados mais representativos da economia americana, subia 0,69%.

O Ibovespa (IBOV), que também tinha ganhos antes da divulgação, subia 1,08% no mesmo horário.

Economia na direção esperada

O Fed descreveu no comunicado uma melhora no ambiente econômico na direção que favorece um corte de juros à frente. O texto afirmou que a inflação continuou “um pouco elevada”, que o crescimento das vagas “se moderou” e que a taxa de desemprego aumentou, “mas permaneceu baixa”.

É uma mudança em relação ao texto da reunião anterior, quanto o Fed dizia que a inflação estava “elevada”, os ganhos de emprego permaneciam “fortes” e a taxa de desemprego continuava “baixa”.

O Fed também reconheceu que os riscos para atingir as metas de inflação e de emprego “continuam a se mover” na direção de um maior equilíbrio, o que também reforça a melhoria no ambiente econômico.

Em outra mudança no comunicado, os diretores apontaram que continuam atentos aos riscos “para ambos os lados do seu mandato duplo”, em vez de reforçar apenas o esforço para reduzir a inflação. Nos Estados Unidos, a autoridade monetária tem como mandato manter a estabilidade monetária e também atingir o pleno emprego.

A alteração indica que o mercado de trabalho pode ganhar mais peso do que antes nas decisões de política monetária.

Apesar do cenário mais favorável, os diretores não fizeram mudanças explícitas sobre as perspectivas de cortes de juros, mantendo inalterado o chamado foward guidance.

“O Comitê não espera que seja apropriado reduzir a faixa-alvo até que tenha maior confiança de que a inflação está se movendo de forma sustentável em direção a 2 por cento”, diz o texto.

Inflação e emprego

A decisão do Fed desta quarta ocorre após uma sequência de dados que apontam para um arrefecimento da inflação e uma ligeira perda de força do mercado de trabalho nos últimos meses.

O cenário tem feito alguns especialistas chamarem a atenção para o risco de a taxa de juros elevada levar a uma perda de empregos mais intensa, uma vez que a política monetária tende a levar tempo para fazer efeito na economia.

O ex-presidente do Fed de Nova York, William Dudley, e o economista Mohamed El-Erian chegaram até a defender um corte mais agressivo do que o atualmente esperado, alertando para um possível erro se o banco central mantiver as taxas muito altas por muito tempo.

Embora a criação de novas vagas tenha se mantido elevada em junho, a taxa de desemprego subiu para 4,1%, o patamar mais alto desde novembro de 2021.

Enquanto isso, a inflação tem dado sinais de arrefecimento. O núcleo do índice de inflação mais acompanhado pelas autoridades do Federal Reserve (Fed), o PCE (Índice de Gastos Pessoais), subiu 0,2% em junho depois de uma alta de 0,1% em maio e de 0,3% em abril.

Na comparação anual, o núcleo ficou em 2,6%, o mesmo patamar de maio, embora ainda esteja acima da meta de inflação do Fed de 2%.

Outra medida de inflação, o Índice de Preços ao Consumidor (CPI), também tem mostrado um maior controle dos preços no país.

O núcleo do CPI subiu 0,1% em junho na comparação mensal, abaixo da estimativa de economistas. Na comparação anual, o avanço foi de 3,3%, indicando uma desaceleração em relação a maio (3,4%), embora continuasse acima da meta de 2% do Fed.

-- Com informações da Bloomberg News. Atualizada para incluir mais informações sobre o comunicado.