Bloomberg — A última vez que os títulos do governo dos Estados Unidos tiveram uma onda vendedora tão acentuada em meio a um processo de redução de taxa de juros pelo Federal Reserve, Alan Greenspan estava orquestrando uma rara aterrissagem suave.
Os rendimentos dos títulos de dois anos subiram 34 pontos-base desde que o Fed reduziu a taxa de juros em 18 de setembro, o primeiro corte desde 2020.
Os rendimentos subiram de forma semelhante em 1995, quando o Fed - liderado por Greenspan - conseguiu esfriar a economia sem causar uma recessão.
Em ciclos anteriores de corte de taxas, que remontam a 1989, os rendimentos de dois anos caíram, em média, 15 pontos-base um mês depois que o Fed começou a reduzir os juros.
O aumento dos rendimentos “reflete a probabilidade reduzida de riscos de recessão”, disse Steven Zeng, estrategista de taxa de juros do Deutsche Bank. “Os dados têm se mostrado bastante sólidos. O Fed pode diminuir o ritmo de cortes nas taxas.”
Leia também: Em crítica a Trump, Yellen defende EUA como motor do crescimento global
O mais recente impulso nos rendimentos mostra como a resiliência da economia dos Estados Unidos e o dinamismo dos mercados financeiros limitam as opções do presidente do Fed, Jerome Powell, de reduzir agressivamente a taxa de juros.
As operações de juros futuros mostram que os traders esperam que o Fed reduza a taxa em 127 pontos-base até setembro de 2025, em comparação com os 195 pontos-base previstos há cerca de um mês.
Os títulos globais estão caindo esta semana, uma vez que os investidores avaliam o potencial de reduções mais lentas das taxas de juros pelo Fed, deixando um indicador do retorno total dos títulos do Tesouro em alta de apenas 1,7% este ano até segunda-feira. Isso fica atrás do ganho de 4,3% dos títulos de curto prazo nesse período.
A queda dos títulos americanos se estendeu ligeiramente nesta terça-feira, fazendo com que o rendimento de 10 anos subisse cerca de 1 ponto-base, após um aumento de 11 pontos-base na segunda-feira.
O recente aumento levou o rendimento do índice de referência para cerca de 4,2%, depois de atingir a mínima de 15 meses de 3,6% em 17 de setembro - um dia antes de o Fed reduzir os custos dos empréstimos em meio ponto.
Nesta terça-feira, as negociações sugeriram que o sentimento permanece de baixa, com uma série de vendas de operações em bloco nos futuros de títulos de 10 anos.
Em 1995, o Fed reduziu a taxa de juros três vezes - de 6% para 5,25% - em seis meses, depois de elevá-las acentuadamente. Os rendimentos dos títulos de 10 anos subiram mais de 100 pontos-base 12 meses depois do primeiro corte naquele ano, enquanto os rendimentos de dois anos subiram 90 pontos-base.
Desta vez, o aumento dos rendimentos também reflete a preocupação crescente de que o Partido Republicano possa assumir o controle da Casa Branca e do Congresso na eleição de 5 de novembro, o que pode aumentar o déficit fiscal e a inflação.
A volatilidade também aumentou. O ICE BofA Move Index, que acompanha as oscilações esperadas para os títulos do Tesouro no próximo mês, atingiu o nível mais alto deste ano.
-- Com a colaboração de Edward Bolingbroke.
Veja mais em Bloomberg.com
Leia também:
Conflitos regionais e protecionismo ameaçam a economia mundial, diz FMI
Por que aumentar o protecionismo não traria crescimento para os EUA