Ex-sócio de George Soros supera crise argentina com império imobiliário

Eduardo Elsztain evitou investimentos em ações, títulos de dívida e derivativos que foram atingidos pelos calotes argentinos enquanto investia em imóveis

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Bloomberg — Sobre uma mesa no escritório de Eduardo Elsztain, em Buenos Aires, há uma esfera de vidro cheia de notas de dólar fora de circulação picotadas. A obra de arte, diz o magnata do setor imobiliário argentino, é um lembrete constante da ausência de valor do papel-moeda.

Em poucos lugares isso é mais verdade do que na Argentina, e isso levou o ex-protegido de George Soros a construir um império de shoppings, terras agrícolas, escritórios e até minas de ouro. A receita é simples: terra, tijolo e argamassa.

“A minha teoria durante os últimos 20 anos, desde que vivemos a crise, e as profundezas a que a Argentina afundou em 2002, é que a nossa defesa são ativos reais”, disse Elsztain em entrevista. “Uma vez que você imprime dinheiro, é uma espécie de droga da qual você não consegue se livrar facilmente.”

Elsztain evitou investimentos especulativos em ações, títulos de dívida e derivativos que foram atingidos pelos repetidos calotes argentinos enquanto construía seu império ao longo dos últimos 30 anos.

Agora, sua empresa imobiliária IRSA, que possui 15 shoppings na Argentina, cresce mesmo quando a economia caminha para sua sexta recessão em uma década e a inflação ultrapassa os 120%, impulsionada em parte pela impressão maciça de dinheiro pelo governo para financiar seus gastos.

A receita da IRSA ultrapassou os níveis pré-pandemia no último ano fiscal graças ao aumento do número de turistas que lotaram os seus shoppings e hotéis. O Ebitda aumentou 25% no ano fiscal de 2023 em relação aos 12 meses anteriores, segundo relatório anual da empresa.

As participações da IRSA em três hotéis, incluindo o Llao Llao em Bariloche, também tiveram bom desempenho no último ano fiscal.

Elsztain comprou a IRSA em 1991 com o então sócio Marcelo Mindlin para obter acesso ao mercado de capitais da Argentina. Mais tarde, ele desenhou sua estratégia após receber alguns bons conselhos de um rabino influente: saia dos ativos especulativos.

Isso o levou a abordar Soros, que lhe deu US$ 10 milhões para investir em imóveis argentinos, o que, segundo Elsztain, gerou retornos de três dígitos em menos de um ano. Em 1994, ele comprou a imobiliária rural Cresud, que se tornaria seu principal ativo. A Cresud controla 27 fazendas na Argentina, no Brasil, na Bolívia e no Paraguai que totalizam cerca de 850.000 hectares.

Hoje, a participação de 37% de Elsztain na Cresud vale cerca de US$ 140 milhões pela taxa de câmbio paralela amplamente utilizada na Argentina. Seu império inclui uma participação na BrasilAgro.

Elsztain está otimista com a eleição presidencial em seu país.

“Em 40 anos de democracia nunca tivemos candidatos que fossem mais pró-mercado”, disse Elsztain.

O libertário Javier Milei prometeu dolarizar a economia e Patricia Bullrich é favorável ao mercado. Espera-se que até mesmo o ministro da Economia e candidato governista, Sergio Massa, irá avançar mais para a direita se seu partido permanecer no poder.

“Acho que mais dinheiro virá do que sairá”, disse Elsztain. “A Argentina tem uma quantidade enorme de investimentos a serem desenvolvidos que estão parados por falta de liquidez, falta de crédito e falta de sistema financeiro.”

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