Estrangeiros veem ‘oportunidade única’ em dívida local no Brasil e em LatAm

Dívida doméstica de mercados da região vem de seu melhor rali anual desde 2009, à frente de outros emergentes, e atrai players globais do JPMorgan a GMO e Vontobel Asset

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Bloomberg — Uma das melhores apostas do ano passado em dívida de mercado emergente está recebendo um novo impulso das apostas de que o Federal Reserve finalmente começará a cortar as taxas de juros.

O otimismo se espalha pelos mercados de títulos domésticos à medida que os investidores apostam que o Fed em breve começará a diminuir as taxas, com Wall Street pronto para examinar a reunião desta semana em busca de pistas sobre qual será o momento.

Juntamente com um dólar mais fraco, uma possível mudança de curso na política monetária dos Estados Unidos ajudaria a persuadir os banqueiros centrais dos mercados emergentes a fazer mais do mesmo em seus respectivos países, resultando em um possível ganho para os detentores de dívida em moeda local.

Para a gestora americana Grantham Mayo Van Otterloo (GMO), com quase US$ 60 bilhões em ativos, isso significa uma oportunidade “única em uma geração” em títulos locais. A dívida doméstica latino-americana já vem de seu melhor rali anual desde 2009, graças a políticas monetárias antecipadas e agressivas na região, tendo superado outros emergentes em desempenho (veja o gráfico abaixo).

“A dívida local é atraente com dólar valorizado, valuations de moedas de mercado emergente baratos, rendimentos atrativos e o contínuo processo de desinflação — não importa o que o Fed faça ou diga”, disse Victoria Courmes, gestora de fundos na GMO.

“Pistas sobre quando o ciclo de alívio [monetário] provavelmente começará nos EUA poderiam ser um catalisador para um dólar mais fraco e um desempenho forte da dívida local dos mercados emergentes.”

A GMO está entre um grupo crescente de gestoras e bancos globais - da Neuberger Berman à Vontobel Asset Management e ao JPMorgan Chase - que consideram o início de 2024 como um momento importante para a classe de ativos.

Mesmo que os formuladores de política monetária em países como Brasil e Chile estejam mais adiantados em seus ciclos monetários do que os pares nos EUA e na Europa, uma possível mudança de rumo do Fed ainda pode estimular mais alívio. Os traders precificam uma chance inferior a 50% de que as autoridades do banco central dos EUA comecem a aliviar a política na reunião de março.

Se essa mudança vier junto com uma queda no dólar, os banqueiros centrais dos mercados emergentes correriam menos risco de provocar uma depreciação da moeda local ao cortar também as taxas. Para os traders, esse cenário oferece uma oportunidade única.

Segundo estrategistas do JPMorgan, incluindo Anezka Christovova, a inflação está diminuindo e o crescimento deve ser resiliente no primeiro semestre do ano. Isso mantém a tese para os títulos locais intacto, à medida que o Fed se aproxima de reduzir os custos de empréstimos — mesmo que os ativos emergentes estejam “tropeçando” no início de 2024, escreveram em um relatório de 19 de janeiro.

Os índices de moedas de economias em desenvolvimento e títulos do governo local estão ambos em baixa de mais de 1% até agora neste ano, devido à incerteza sobre a saúde da economia da China e apostas em mudanças no momento dos cortes nas taxas do Fed. Mas, na visão de Courmes, da GMO, isso apresenta um ponto de entrada atrativo para os investidores.

Até os investidores bearish mais sofisticados de Wall Street estão embarcando na aposta, reduzindo as apostas de venda em fundos de moeda local para o menor nível em mais de quatro anos, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Posições de venda pendentes no ETF de títulos em moeda local VanEck Morgan EM caíram para 0,69% do float, o nível mais baixo desde outubro de 2019, de acordo com dados da S3 Partners.

Nessas condições, a América Latina é um mercado considerado mais atraente. O Banco Central do Brasil aumentou sua taxa Selic mais cedo e a um patamar mais elevado do que outros países, e já começou a relaxar essa política em agosto de 2023. Os formuladores de política monetária no Chile, na Colômbia e no Peru também começaram a reduzir as taxas.

Nos próximos dias, espera-se que três bancos centrais da região anunciem cortes. A primeira decisão de política monetária do Brasil de 2024 provavelmente resultará em uma redução de meio ponto percentual, para 11,25% ao ano, enquanto os bancos centrais no Chile e na Colômbia também devem reduzir as taxas de referência.

Até os banqueiros centrais mexicanos, que mantiveram sua taxa em um recorde de 11,25% por seis decisões, começaram a sinalizar cortes eventualmente. A maioria dos analistas espera que o próximo movimento seja uma redução de um quarto de ponto em março, de acordo com uma recente pesquisa do Citigroup (C).

“A América Latina continua sendo a região mais atraente para os títulos em moeda local, especialmente Brasil e México”, disse Carlos de Sousa, gestor de portfólio da Vontobel Asset Management. Quando o Fed começar a cortar as taxas, “isso encorajará alguns dos bancos centrais mais hawkish — como o do México — a fazer o mesmo. Então, eles podem se sair muito bem neste ano.”

Condições econômicas e políticas em melhoria em países como Turquia também estão atraindo investidores, disse Claudia Calich, chefe de dívida de mercados emergentes da M&G Investments em Londres, que apontou para uma recente adoção da ortodoxia monetária.

“Nos mercados locais, área em que não estávamos investidos há bastante tempo, finalmente agora adicionamos alguma exposição devido ao aperto monetário contínuo do banco central”, disse ela.

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