Bloomberg Línea — Os mercados de ações globais têm enfrentado uma forte correção desde que o presidente americano Donald Trump decidiu impor tarifas recíprocas a todos os países que exportam para os Estados Unidos, incluindo seus maiores aliados e parceiros comerciais.
Uma das principais preocupações entre os investidores é que a maior economia do mundo entre em recessão, afetando negativamente a dinâmica global. Essa, no entanto, ainda não é a expectativa da Principal Asset, gestora americana com US$ 540 bilhões sob gestão.
“Uma recessão não está em nosso cenário base. Ainda assim, a probabilidade de recessão, ou de um ‘pouso forçado’ [hard landing], aumentou nas últimas semanas”, afirmou Todd Jablonski, CIO (executivo-chefe de Investimentos) da Principal Asset, em entrevista à Bloomberg Línea.
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O gestor avalia que a nova leva de tarifas de Trump abalou a confiança dos investidores em um momento em que a atividade econômica americana já estava em desaceleração.
O resultado na bolsa tem sido uma derrocada: o S&P500, índice de referência para o mercado de ações dos EUA, acumulava queda de 19% até segunda-feira (7) desde o último recorde de alta em fevereiro. Se cair abaixo de 20%, o indicador entra oficialmente em bear market.
As perdas na bolsa já fazem o mercado precificar cinco cortes de juros neste ano, contra três previstos na semana passada nos contratos futuros antes do anúncio das tarifas.
A visão é a de que o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) será pressionado a estimular a economia diante da ameaça de recessão.
Antes mesmo das novas tarifas, a Principal Asset tinha uma projeção mais conservadora que a consensual de mercado, de dois cortes para 2025.
Diante da turbulência recente, a gestora americana já inclui no radar a possibilidade de que sejam três cortes.
Embora seja cedo para cravar os efeitos que as tarifas vão ter na economia e nas empresas americanas, a Principal já estuda diminuir as projeções para os retornos esperados das companhias neste ano e tem voltado seu foco para empresas menos expostas à guerra comercial.
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Nesse ambiente de incerteza, Todd Jablonski disse que a gestora reduziu sua exposição às ações americanas de overweight para neutro em relação a outros mercados internacionais; e tem preferido reduzir o apetite ao risco.
No Brasil, a Principal Asset está presente desde 2012, por meio inicialmente do Principal Financial Group com a compra do controle da Claritas, uma das gestoras mais longevas do país. Desde fevereiro deste ano, a Principal Claritas passou a adotar o nome global de Principal Asset.
Confira abaixo os principais pontos da entrevista, editada para fins de clareza:
O mercado americano tem enfrentado volatilidade com o temor de investidores sobre os efeitos da política tarifária de Trump na economia americana – que chegam a precificar, inclusive, um cenário de recessão. Acredita que esse é um cenário possível?
O anúncio de tarifas do presidente Trump claramente abalou a confiança dos investidores de ações. Isso em meio à combinação de austeridade fiscal dos EUA, gastos governamentais reduzidos e custos de comércio global mais altos, que enfraqueceu atividade econômica.
Embora uma recessão permaneça fora do nosso cenário base, a probabilidade de recessão, ou de um ‘pouso forçado’ [hard landing], aumentou nas últimas semanas.
A projeção anterior da Principal era a de que o Fed faria dois cortes de juros este ano. Continuam com esse cenário após o anúncio das novas tarifas?
O mandato duplo do Fed envolve tanto o mercado de trabalho (pleno emprego) quanto a estabilidade de preços (inflação baixa e estável). Embora a situação seja fluida e novas informações possam modificar as previsões que temos hoje, ainda parece provável que tenhamos dois – ou três – cortes de taxas ainda em 2025, enquanto o Fed equilibra a inflação persistente e o crescimento econômico lento.

Como a Principal Asset Management enfrentou esse cenário volátil? Houve ajuste de alocação?
Neutralizamos nossas preferências geográficas e deixamos de estar overweight na renda variável americana em relação a outras geografias.
Nosso apetite a risco diminui diante da redução na expectativa de crescimento para a economia americana e da desaceleração dos lucros corporativos projetados para as empresas dos EUA – ambas somadas às turbulências no comércio global.
A Principal Asset costuma defender o investimento em tecnologia como uma tese secular, segundo a qual as “Sete Magníficas” (Alphabet, Amazon, Apple, Meta, Microsoft, Nvidia e Tesla) representam um bom investimento a longo prazo. Continuam com essa posição?
Ainda acreditamos que as ações americanas de tecnologia são um bom investimento a longo prazo. É a única fortaleza do mercado dos EUA que é difícil de replicar em qualquer lugar do mundo.
Por outro lado, embora ainda acreditemos que a tecnologia é uma tese secular, o grupo das gigantes do setor está em momento desfavorável. As grandes empresas com teses de valor dos EUA estão à frente das companhias de crescimento até o momento em 2025.
Com a queda recente, seria um bom ponto de entrada para a bolsa americana?
Os mercados de ações dos EUA certamente estão mais baratos em abril, embora o crescimento projetado dos lucros nos EUA também tenha sido revisado para baixo. Em meio à alta incerteza sobre política tarifária e comercial, estamos neutros em ações americanas contra papéis fora dos EUA.
Dito isso, dentro do mercado de ações dos EUA, favorecemos taticamente as ações de média capitalização, que apresentam menos risco tarifário e valuation mais razoáveis do que as de grande capitalização.
Ainda projeta crescimento de um dígito para ações dos EUA neste ano?
Agora parece improvável que cheguemos a esses números em 2025, mas os investidores devem tomar decisões “a partir daqui”, em vez de se concentrar no desempenho passado.
Os retornos negativos acumulados até agora em 2025 já fazem parte do histórico — e não podem ser revertidos.
Reduzir o risco de uma carteira justamente em um momento de baixa local pode limitar a participação nos ganhos quando o mercado se recuperar.
Olhando para frente, a expectativa é que as políticas — comercial, fiscal, tributária e monetária — exerçam um peso desproporcional sobre os mercados acionários dos Estados Unidos ao longo do ano.
As ações americanas ainda têm espaço para avançar, desde que os fundamentos econômicos se mantenham sólidos, mas o risco de passos em falso na política econômica está elevado.
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