Eleição na Argentina: o que esperar para os mercados com Milei como presidente

Investidores e analistas destacavam desafios econômicos importantes independentemente do resultado das urnas, que acabaram por consagrar o candidato de oposição

Casa Rosada em Buenos Aires, sede do governo da Argentina (Foto: Erica Canepa/Bloomberg)
Por Kevin Simauchi
17 de Novembro, 2023 | 06:11 PM

Bloomberg — Os investidores na Argentina têm adotado uma abordagem cautelosa à medida que o país escolhe seu próximo presidente, e se preparam para mais perdas, independentemente do resultado - que acabou por apontar Javier Milei como o preferido da maior parte dos eleitores neste domingo (19).

Milei, que prometeu abolir a moeda nacional e substituí-la por dólares, assume em 10 de dezembro.

Os investidores, no entanto, não estão otimistas de que a eleição desencadeará um rali nos preços de ativos do país, cujos títulos são negociados a preços muito abaixo do valor nominal após o último calote em sua dívida em 2020.

Isso ocorre porque a Argentina enfrenta uma difícil trajetória de recuperação. O país está à beira de sua sexta recessão em uma década, o Banco Central está sem dólares e os argentinos sofrem com uma inflação de 143% em 12 meses.

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“Independentemente de quem vencer, não haverá dinheiro novo para a Argentina de ninguém”, afirmou Alberto Bernal, estrategista-chefe da XP Investimentos (XP), antes do segundo turno das eleições. “A Argentina terá que cortar drasticamente os gastos e entregar um déficit zero, ou a hiperinflação fará o trabalho que os políticos não estão dispostos a fazer.”

Os mercados locais estarão fechados na segunda-feira (20) após a eleição devido a um feriado. As negociações são retomadas na terça-feira (22).

Estes estão os principais ativos para observar antes da eleição:

Títulos soberanos

Os títulos soberanos da Argentina, em sua maioria, são negociados abaixo de 30 centavos de dólar, com rendimentos que sugerem que os negociadores se preparam para o décimo calote do país. Os títulos caíram após a primária, na qual Milei liderou, e o primeiro turno de votação, que favoreceu Massa.

“Uma vitória de Milei sustentará os preços dos títulos a curto prazo devido à sua determinação em enfrentar os desequilíbrios fiscais”, disse Lucila Bonilla, economista de mercados emergentes na Oxford Economics. “Massa, por outro lado, representa em grande parte continuidade, e os mercados não vão gostar disso.”

Estes são alguns dos títulos soberanos argentinos mais líquidos:

  • Argentina 2030
  • Argentina 2035
  • Argentina 2046

Títulos corporativos

Enquanto a crise econômica e a incerteza política da Argentina afetaram os mercados de crédito corporativo, os títulos de algumas empresas do país conseguiram se manter relativamente estáveis, mesmo com a queda nos preços dos títulos soberanos.

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Por exemplo, os títulos da empresa estatal de energia YPF com vencimento em 2025 subiram mais de 10 centavos desde a baixa de outubro para cerca de 93 centavos de dólar.

Ray Zucaro, diretor de investimentos da RVX Asset Management, disse que prefere os títulos de empresas maiores com nomes conhecidos e acionistas com grande quantidade de capital. Essas empresas, segundo ele, são menos propensas a sofrer volatilidade após a votação de segundo turno.

  • YPF 2025
  • Pampa Energia 2026
  • MSU Energy 2025
  • Genneia 2027
  • Aeropuertos Argentina 2031
  • IRSA 2028

Títulos provinciais

Os títulos dos governos regionais da Argentina parecem ser pontos positivos — especialmente os títulos garantidos de Neuquén e Chubut e notas das províncias de Buenos Aires e Santa Fé.

Esses títulos se tornaram uma espécie de refúgio para detentores de títulos que desejam investir no país, mas evitam o risco direto dos títulos soberanos.

  • Buenos Aires 2037
  • Provincia de Córdoba 2025
  • Provincia de Neuquén 2030
  • Buenos Aires 2027

Câmbio

A Argentina tem restringido a queda diária do peso há anos por meio de controles cambiais e restrições de importação, criando uma grande diferença entre as taxas oficiais e paralela.

Nos canais oficiais, um dólar vale cerca de 354 pesos, enquanto no chamado blue-chip swap rate — o mais comumente usado entre os observadores de mercado, derivado da compra de valores mobiliários como ações ou títulos localmente e sua venda no exterior — o dólar está cotado a 851 pesos. O blue-chip é uma aproximação, em vez de um indicador claro, mas representa o verdadeiro valor de mercado do peso em relação ao dólar americano.

A diferença, que aumentou antes do primeiro turno das eleições, diminuiu desde então. Nesta semana, o governo instituiu um chamado crawling peg, desvalorizando o peso em 1% na quarta-feira e mais 2% distribuídos durante o restante de novembro.

  • Blue-chip swap
  • Taxa oficial

Ações

Poucos investidores estrangeiros, se é que algum, buscarão a bolsa de valores local da Argentina devido aos controles cambiais. No entanto, o índice S&P Merval será observado de perto como um indicador de como os investidores locais reagem à eleição.

O índice caiu desde as máximas de meados de outubro, depois que Massa surpreendeu na votação de outubro. O ETF Global X MSCI Argentina de US$ 55 milhões também será observado como um indicador do sentimento dos investidores.

  • Pampa Energia
  • MercadoLibre
  • Globant
  • Arcos Dorados Holdings
  • Grupo Financiero Galicia
  • Banco Macro
  • Cresud SAICIF

Criptomoedas

As criptomoedas oferecem outra maneira para os argentinos contornarem os controles de capital.

O mercado cripto online, que continua operando nos finais de semana, pode fornecer sinais antecipados de como os mercados reagirão aos resultados da votação de domingo.

- Matéria atualizada às 20h40 de domingo (19) com o resultado das eleições.

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