El Niño afeta colheita do café no Brasil, e preços já refletem safra menor

Produção do tipo mais barato do grão, o robusta, deve cair entre 15% e 20%. Contratos futuros da saca do grão têm forte alta neste ano

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Bloomberg — O clima seco representa riscos para as lavouras brasileiras do tipo mais barato de grão de café, ameaçando tornar a versão solúvel menos acessível.

A falta de chuvas e as temperaturas acima da média devem resultar em uma colheita do tipo de grão robusta menor que o esperado. Os impactos climáticos podem ser creditados ao El Niño.

A produção já é esperada para ser de 15% a 20% menor do que as estimativas iniciais, disse Edimilson Calegari, gerente geral da Cooabriel, uma cooperativa com sede no Espírito Santo que atua na maior região de cultivo de robusta do Brasil. Se tal previsão se concretizar, significaria a safra mais baixa desde pelo menos 2020, com a produção ficando abaixo de 20 milhões de sacas.

“Estamos muito preocupados e assustados com esta situação”, disse o agrônomo Fabiano Tristão, que coordena estudos de café no Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) do Espírito Santo.

As áreas de café no norte do Espírito Santo não tiveram as chuvas generalizadas esperadas para esta época do ano. Isso preocupa quanto à colheita que será realizada em maio, especialmente dadas as altas temperaturas. Após um bom início de temporada em agosto, as plantações estão sofrendo estresse térmico quando os grãos deveriam estar crescendo. Embora a maioria dos agricultores na região use sistemas de irrigação para manter o solo úmido, não há uma maneira eficaz de conter os impactos do calor, disse Tristão.

A seca no Espírito Santo tornou-se tão severa que as autoridades locais declararam estado de alerta na última sexta-feira. O consumo de água está sendo limitado para evitar escassez, e a irrigação das fazendas só será permitida à noite, disse a agência estadual de água, Agerh.

Os impactos do clima seco no Brasil já aumentaram a volatilidade nos mercados de café, afirmou o analista da StoneX, Fernando Maximiliano. Os contratos futuros de robusta subiram 42% este ano, com o possível prejuízo à próxima safra do Brasil somando-se às preocupações, enquanto o principal exportador, o Vietnã, também enfrenta impactos negativos este ano devido ao El Niño.

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