Efeito Trump: fuga de capital estrangeiro é recorde na China com ameaça de tarifas

Transferências para o exterior a partir do país asiático somaram US$ 45,7 bilhões em novembro, segundo dados oficiais, o que representou o maior valor já registrado

Pedestres em Xangai (Foto: Raul Ariano/Bloomberg)
Por Bloomberg News
17 de Dezembro, 2024 | 11:05 AM

Bloomberg — A China sofreu a maior saída já registrada de seus mercados financeiros no mês passado, uma vez que a perspectiva de tarifas mais altas dos Estados Unidos representou mais riscos para a segunda maior economia mundial.

Os bancos nacionais transferiram um montante líquido de US$ 45,7 bilhões em fundos para o exterior em nome de seus clientes para investimento em títulos, de acordo com dados divulgados pela Administração Estatal de Câmbio na segunda-feira (16).

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O valor representa o investimento estrangeiro na China, bem como as compras de títulos no exterior por residentes locais.

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A maré crescente de saídas sinaliza um sentimento amargo em relação à nação asiática, já que a promessa do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, de impor tarifas de 60% sobre os produtos chineses ameaça o comércio entre as duas nações.

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A fraqueza do yuan e das ações locais, bem como a grande diferença entre as taxas de juros do país e as dos EUA, aumentam o risco de um ciclo vicioso de saídas de capital.

"Espera-se que as ameaças tarifárias dos EUA e os fatores diferenciais da taxa de juros alimentem a pressão de saída de capital da China", disse Ken Cheung, estrategista-chefe de câmbio da Ásia do Mizuho Bank. "A vantagem de rendimento do dólar deve manter as moedas asiáticas sob pressão de modo geral", disse ele.

As ações chinesas perderam impulso desde outubro, já que as medidas de estímulo anunciadas pelas autoridades ficaram aquém das expectativas do mercado.

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Os títulos soberanos de referência do país agora rendem menos da metade do que os títulos do Tesouro oferecem. O yuan onshore também está oscilando perto da mínima de um ano, enquanto um indicador do dólar está próximo de seu nível mais alto desde 2022.

Diante dos desafios, a China pode continuar se esforçando para estimular o crescimento e mudar o sentimento para que o capital volte a fluir para os ativos locais com avaliações baixas, disse Cheung.

Em uma importante reunião na semana passada, os principais líderes da China sinalizaram mais empréstimos e gastos públicos em 2025 e uma mudança de foco das políticas para o consumo, em um esforço para impulsionar a economia.

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O Politburo do presidente Xi Jinping, órgão decisório do país, prometeu adotar uma política monetária “moderadamente frouxa” em 2025, sinalizando mais cortes nas taxas de juros no futuro.

Os dados oficiais da Chinabond também mostraram que as instituições estrangeiras reduziram as participações em títulos do governo chinês para 2,08 trilhões de yuans (US$ 285,5 bilhões) no mês passado, o menor valor desde setembro de 2023.

Os investidores da China continental compraram um valor líquido de HK$ 125 bilhões (US$ 16 bilhões) em títulos listados em Hong Kong em novembro, o maior em mais de três anos, de acordo com dados da Bloomberg.

-- Com a colaboração de Charlotte Yang e Qizi Sun.

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