Por que economistas de Wall St veem razões para um corte do Fed já em julho

Embora seja improvável uma queda na próxima reunião, nomes que incluem Jan Hatzius, do Goldman Sachs, e Mohamed El-Erian têm chamado a atenção para os riscos de esperar demais

Bolsa de Nova York
Por Steve Matthews
17 de Julho, 2024 | 05:25 AM

Bloomberg — Um número cada vez maior de economistas de Wall Street tem avaliado que o Federal Reserve já esperou muito tempo para reverter o curso da política monetária depois de elevar a taxa de juros ao maior patamar em duas décadas.

Os dados de inflação moderada nos últimos três meses, combinados com a desaceleração do crescimento econômico dos Estados Unidos e o aumento da taxa de desemprego, têm levado a pedidos para que o banco central americano corte a taxa de juros em sua próxima reunião daqui a duas semanas.

Tal medida parece altamente improvável.

O presidente do Fed, Jerome Powell, disse na segunda-feira (15) em um evento que não daria nenhum guidance sobre o momento ideal para realizar cortes na taxa de juros, e a maioria de seus colegas do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC), que define a política monetária, parece não estar convencida da necessidade de urgência.

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Mas os riscos de uma espera muitro longa têm aumentado, de acordo com várias vozes proeminentes, incluindo o economista-chefe do Goldman Sachs, Jan Hatzius, o presidente do Queens’ College e ex-CEO da Pimco, Mohamed El-Erian, e Neil Dutta, da Renaissance Macro Research.

"Vemos uma sólida justificativa para cortes já na reunião de 30 e 31 de julho", disse Hatzius em um relatório publicado na segunda-feira. "Se a justificativa para um corte é clara, por que esperar mais sete semanas para fazê-lo?"

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Espera-se que o Fomc mantenha a taxa básica de juros estável em julho pela oitava reunião consecutiva, marcando um ano desde que ela atingiu o nível atual, entre 5,25% a 5,5% ao ano.

Os investidores apostam em pelo menos dois cortes antes do final de 2024, começando em setembro, de acordo com os contratos futuros.

Na segunda-feira, Powell disse que as leituras recentes da inflação “aumentam um pouco a confiança” de que a variação de preços se aproxima da meta de 2% do banco central americano, e que os formuladores de política monetária estão agora concentrados em ambos os mandatos do Fed: pleno emprego e estabilidade de preços. Mas ele também sinalizou a necessidade de obter mais evidências antes de iniciar um ciclo de corte de juros.

O argumento em favor da flexibilização agora se baseia na ideia de que os ajustes na taxa de juros levam tempo - talvez um ano ou mais - para ter um impacto sobre a economia, portanto, os formuladores de políticas precisam ser preventivos para evitar uma desaceleração da atividade.

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As diretrizes usadas para a definição da política monetária, como a chamada Regra de Taylor, sugeririam que a taxa de juros atual já deveria estar em torno de 4%, mais de um ponto abaixo do que está agora, segundo Hatzius.

Os apelos para um corte na taxa de julho ganharam força na última semana e meia com a divulgação de dois dados mensais importantes sobre emprego e inflação.

Embora a taxa de desemprego permaneça relativamente baixa, em 4,1%, ela aumentou em cada um dos últimos três meses. Ela subiu depois de atingir um patamar mínimo de 3,4% no início de 2023, levantando preocupações sobre o risco de recessão.

A inflação, por sua vez, foi moderada no segundo trimestre, após um aumento inesperado nos primeiros três meses de 2024.

O chamado núcleo do Índice de Preços ao Consumidor - que exclui os custos de alimentos e energia - subiu apenas 0,1% em junho, marcando o menor avanço mensal desde agosto de 2021.

A inflação dos aluguéis, em particular, mostrou uma moderação há muito esperada, uma tendência que deverá continuar daqui para frente.

“O risco de esperar demais é levar o desemprego a um patamar mais alto sem uma recompensa expressiva na redução da inflação”, disse Drew Matus, estrategista-chefe de mercado da MetLife Investment Management.

Desde a divulgação dos últimos números da inflação, em 11 de julho, dois formuladores de política monetária - o presidente do Fed de Chicago, Austan Goolsbee, e a presidente do Fed de São Francisco, Mary Daly - destacaram que o Fed está próximo de obter a confiança necessária para reduzir a taxa de juros.

Mas outros têm se mostrado cautelosos quanto a agir cedo demais. Quando se reuniram pela última vez em junho, as autoridades publicaram projeções mostrando que quatro dos diretores acreditavam que não haveria cortes na taxa de juros este ano, enquanto sete esperavam um corte e oito viam dois cortes.

“Cortar em julho é mais do que o FOMC tende a fazer”, disse Julia Coronado, fundadora da MacroPolicy Perspectives. Esperar mais uma reunião para agir “tem muito mais a ver com o gerenciamento do comitê e com a obtenção de um pouco mais de dados”.

O presidente do Fed, Jerome Powell, fala sobre os dados mais recentes de inflação em um evento na segunda-feira em Washington

Em vez disso, em julho, o Fomc poderia ajustar sua declaração para destacar a melhora nos dados de inflação e Powell poderia usar seu discurso na conferência do Fed de Kansas City em Jackson Hole, Wyoming, no final de agosto, para transmitir uma mensagem sinalizando uma mudança em setembro.

O argumento a favor da espera para cortar os juros é que a queda da inflação tem sido com solavancos, conforme evidenciado pelas leituras do primeiro trimestre. Os diretores do comitê mais favoráveis a um aperto monetário estão preocupados que qualquer alta mais expressiva dos preços possa desencadear um aumento nas expectativas de inflação, tornando mais difícil atingir a meta de 2% do Fed.

“Houve vários casos de pessoas que declararam vitória prematuramente nessa batalha”, disse o economista sênior do banco Wells Fargo, Michael Pugliese. “Há um forte argumento aqui a favor de esperar até a reunião de setembro.”

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