Dólar recua a R$ 5,49 e Ibovespa fecha em alta após medida do governo sobre gastos

Ganhos foram liderados por ações de setores sensíveis aos juros, como varejo, construção e máquinas; Vale e Petrobras caem

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04 de Julho, 2024 | 06:05 PM

Bloomberg Línea — O Ibovespa (IBOV) fechou em alta de 0,40%, aos 126.164 pontos, e o dólar (USDBRL) perdeu força nesta quinta-feira (4), depois de o governo anunciar um contigenciamento de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias e sinalizar o compromisso com as regras de controles de gastos previstas no arcabouço fiscal.

A medida trouxe alívio na sessão para os ativos brasileiros, que têm sido pressionados diante da preocupação de investidores com a disposição do governo em manter as contas públicas equilibradas após declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que vão na direção contrária.

Os juros futuros caíram ao longo de toda a curva, com o DI com vencimento em janeiro de 2026 cedendo 0,21 ponto porcentual, a 11,305%. O dólar, que havia atingido R$ 5,70 nos últimos dias, recuou 1,30% e era negociado a R$ 5,49 no fim do pregão. É a primeira vez que a moeda americana encerra o dia cotada abaixo de R$ 5,50 desde 25 de junho.

O corte de despesas foi anunciado na noite de quarta-feira pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, após reunião com o presidente. Haddad reforçou que o governo trabalha para reduzir as despesas e cumprir a meta de zerar o déficit fiscal.

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“A primeira coisa que o presidente determinou é: cumpra-se o arcabouço fiscal. Não há discussão a esse respeito. Essa lei complementar foi aprovada no ano passado. Foi uma iniciativa do governo com a participação de todos os ministros. Não se discute isso. São leis que regulam as finanças públicas do Brasil e serão cumpridas”, afirmou o ministro.

“Enquanto o otimismo pode ser até certo ponto contido em relação à implementação e efetividade, ao menos as conversas agora estão em um caminho muito mais construtivo”, disse Emy Shayo, chefe de estratégia para ações para América Latina do JPMorgan, segundo a Bloomberg News.

A queda dos juros futuros ajudou principalmente as ações de setores mais sensíveis ao crédito, como varejo, construção e máquinas. Os papéis de Vamos (VAMO3), Grupo Pão de Açúcar (PCAR3), Lojas Renner (LREN3), Carrefour Brasil (CRFB3) e Eztec (EZTC3) lideraram as altas, enquanto as ações da Sabesp (SBSP3) e Localiza (RENT3) foram as principais contribuições positivas.

Por outro lado, ações de empresas ligadas a setores exportadores recuaram diante da queda da cotação do dólar. As ações preferenciais da Petrobras (PETR3; PETR4) caíram 1,37% enquanto os papéis da Vale (VALE3) tiveram perdas 0,50%, apesar do avanço dos preços do minério de ferro no exterior. Ao lado da Suzano (SUZB3), que também caiu, elas foram as principais influências negativas.

CSN Mineração (CMIN3), RaiaDrogasil (RADL3), Natura&Co (NTCO3) ficaram entre as maiores perdas.

Paralelamente, o resultado da balança comercial de junho também trouxe alívio para a cotação do dólar. O superávit comercial foi de US$ 6,7 bilhões no mês, acima da estimativa mediana de US$ 5,5 bilhões em uma pesquisa da Bloomberg com analistas. Com isso, a balança comercial brasileira encerrou o primeiro semestre com superávit de US$ 42,3 bilhões no acumulado até junho.

No total, as exportações alcançaram um recorde histórico de US$ 167,6 bilhões nos primeiros seis meses de 2024, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços divulgados nesta quinta.

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Apesar das previsões de um saldo mais estreito este ano, o governo prevê que as exportações atingirão níveis recordes até dezembro. A indústria extrativa foi o principal exportador em junho, ajudando a consolidar o status do país como um grande produtor de petróleo, ao lado de sua reputação como potência agrícola. O governo estima que o volume de exportações aumente 1,9% este ano, mesmo após chuvas torrenciais causarem inundações no Rio Grande do Sul.

“A colheita de soja estava quase totalmente esgotada quando as chuvas começaram”, disse Herlon Brandão, diretor de estatísticas e estudos de comércio exterior do ministério, em uma coletiva de imprensa. Os dados surgem em meio a um fortalecimento do real brasileiro após Lula apoiar cortes de gastos e reafirmar compromissos com as metas fiscais do país na quarta-feira.

Exterior

Nos mercados internacionais, o movimento foi de menor liquidez em meio ao feriado de Dia da Indendência nos Estados Unidos.

Investidores monitoram as eleições no Reino Unido, nesta quinta, e na França, no final de semana. Nos Estados Unidos, o destaque da semana ficará com os dados do governo de emprego (payroll) amanhã, após dados do mercado de trabalho no setor privado sinalizarem uma desaceleração.

As empresas do setor privado americano contrataram novos funcionários a um nível mais moderado em junho, e o crescimento salarial esfriou, segundo dados do ADP Research Institute.

E dados do governo mostraram que os pedidos recorrentes de auxílio-desemprego aumentaram pela nona semana consecutiva, a sequência mais longa desde 2018, o que indica que um número crescente de pessoas enfrenta dificuldades para encontrar trabalho.

-- Com informações da Bloomberg News