Bloomberg — Autoridades de bancos centrais reunidas nesta semana para um dos fóruns econômicos anuais mais importantes do mundo devem se encontrar mais divididas do que em qualquer outro momento desde antes da pandemia.
Por anos, as avaliações do Federal Reserve, do Banco Central Europeu e de vários outros bancos centrais do mundo desenvolvido foram muito semelhantes. Com o choque inicial da covid-19 em 2020, por exemplo, as autoridades monetárias cortaram juros e injetaram liquidez.
E quando ficou claro que uma onda de inflação subsequente não desapareceria por conta própria, foram implementadas as campanhas de aperto monetário mais agressivas em décadas para combatê-la.
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Há pouco mais de um ano, as autoridades monetárias estavam alinhadas na conferência anual do BCE em Sintra, Portugal – ao ver mais trabalho a ser feito para combater a inflação. “Temos choques comuns” que “afetam a todos nós”, disse na época o presidente do Banco da Inglaterra (BoE), Andrew Bailey.
Hoje, com a inflação mais baixa, mas ainda acima das metas de 2%, há mais distância entre o grupo, enquanto as autoridades pesam o risco de as pressões sobre os preços permanecerem muito altas contra o perigo de levar suas economias a uma recessão. Para investidores, isso cria um cenário mais volátil.
Enquanto o BCE já cortou sua taxa básica há mais de dois meses, o Fed ainda não puxou o gatilho. O BoE reduziu os juros em 1º de agosto, mas com uma votação apertada de 5 a 4 em sua reunião de definição da política monetária.
A presidente do banco central australiano citou neste mês críticos de ambos os lados do debate sobre as taxas, com alguns defendendo o aperto e outros pedindo afrouxamento.
“Gostaria de ter a certeza deles”, disse a presidente do RBA, Michele Bullock, em sua coletiva de imprensa de 6 de agosto, após deixar as taxas inalteradas. O problema é que, embora “tenhamos muitos dados que nos dizem o que aconteceu no passado”, os modelos econômicos não conseguem capturar totalmente o que acontece com a economia, disse.
Fed e juros nos EUA
O presidente do Fed, Jerome Powell, programado para falar nesta sexta-feira (23) no simpósio de Jackson Hole, Wyoming, organizado pelo Fed de Kansas City, disse no mês passado que especialistas em previsões “foram continuamente surpreendidos”.
O tema deste ano para a conferência é a “reavaliação” da eficácia da política monetária e como ela é transmitida para a economia mais ampla. A reunião geralmente conta com os principais bancos centrais representados em altos níveis e ajuda a moldar as expectativas dos investidores.
Os futuros das taxas de Fed Funds para um ano mostram as maiores oscilações neste ano. A volatilidade de 30 dias para os contratos saltou para 1,86 na semana passada, a mais alta desde junho de 2023, quando estava elevada na esteira da crise bancária regional dos EUA.
O número atual é quase o triplo da média dos dados que remontam a 1991.
Na sequência do relatório de emprego de julho, que mostrou um aumento inesperado na taxa de desemprego e levou a perdas no mercado acionário, traders começaram a apostar em um corte de 0,5 ponto percentual na reunião de setembro do Fed, se não antes. Os futuros agora sugerem que uma redução menor, de 0,25 ponto, é mais provável.
Um exemplo extremo das incertezas enfrentadas pelos bancos centrais nesta fase do ciclo econômico surgiu na Nova Zelândia na semana passada. O Reserve Bank surpreendeu analistas ao cortar as taxas, depois de ter sinalizado três meses antes que tal passo só aconteceria ao longo do próximo ano.
A votação dividida deste mês no Comitê de Política Monetária do BoE colocou Bailey em desacordo com seu próprio economista-chefe, Huw Pill, que votou contra a redução da taxa.
Bailey disse após a reunião de agosto que as autoridades estão em dúvida sobre qual, entre vários cenários possíveis, a economia poderia se encaixar, e têm diferentes pontos de vista sobre sua probabilidade.
A incerteza pode ser a única coisa sobre a qual todos os bancos centrais concordam.
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