Bloomberg — A força do dólar (USDBRL) no mercado de câmbio global incomoda bancos centrais e governos em todo o mundo, forçando-os a agir para aliviar a pressão sobre suas moedas.
De Tóquio a Istambul, as autoridades têm intervindo para defender o câmbio com palavras e atos, diante de uma economia americana robusta que mantém o dólar forte e reduz o otimismo com cortes de juros.
O dólar se valorizou frente a praticamente todos os principais pares em 2024. Isso provocou crescentes avisos por parte do Japão sobre sua prontidão para intervir para impulsionar o iene, negociado perto do nível mais fraco dos últimos 34 anos.
A Turquia surpreendeu os mercados com um aumento de juros para impulsionar a lira, China e Indonésia tomaram medidas para estabilizar suas moedas, enquanto Suécia e Índia também estão sob pressão.
No Brasil, o Banco Central anunciou nesta semana um leilão adicional de swap cambial tradicional, no valor de US$ 1 bilhão, para atender parte da demanda gerada pelo resgate do título NTN-A3, atrelado ao câmbio, previsto para 15 de abril. A medida marca a primeira intervenção sem fins de rolagem da autarquia no mercado de câmbio desde o final de 2022.
Esses esforços lembram 2022, quando autoridades na Suíça e no Canadá se queixaram do enfraquecimento de suas divisas em um contexto de aumento da inflação e dólar forte que também arrasou muitas economias emergentes, contribuindo para o default histórico do Sri Lanka.
Hoje, países sobrecarregados com dívida externa continuam em risco, com Maldivas e Bolívia particularmente vulneráveis se a força do dólar persistir.
“O dólar americano continua pressionando outros bancos centrais”, disse Helen Given, operadora de câmbio da Monex. “Dado o atual ambiente global, no qual bancos centrais parecem estar tentando pôr fim a seus ciclos de aperto, não parece haver uma saída segura do domínio contínuo do dólar.”
Flexibilização monetária
Os principais bancos centrais estão prestes a embarcar no maior ciclo de cortes de juros sincronizados desde 2008, e esse cenário é um bom presságio para o dólar, já que a taxa básica dos EUA deverá permanecer uma das mais altas entre as principais economias desenvolvidas este ano.
“Outra coisa além da intervenção que veremos, e já estamos vendo, é a disposição de ficar à frente do Fed em termos de flexibilização”, disse Carmen Reinhart, professora da Harvard Kennedy School e ex-economista-chefe do Banco Mundial.
“Acho que eles ficarão mais tímidos em fazer isso se estiverem preocupados com a moeda.”
Os investidores também estão aderindo a essa nova realidade, aumentando as apostas na força do dólar nas últimas semanas. Um indicador das posições de fundos está no nível mais comprado desde 2022, segundo dados da CFTC, a comissão reguladora de derivativos nos EUA.
Para Ed Al-Hussany, estrategista de taxas da Columbia Threadneedle Investment, é tudo um sinal de que o dólar forte veio para ficar.
“Há apenas uma estratégia de moedas desenvolvidas reinando”, disse. “Ficar comprado em dólar.”
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