Bloomberg — O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, deve dar pistas sobre os passos finais da campanha do banco central dos Estados Unidos para controlar a inflação e reforçar seu compromisso de terminar a tarefa, quando discursar nesta sexta-feira (25) em Jackson Hole, Wyoming.
O pronunciamento talvez não seja marcado pelo mesmo drama das palestras dos últimos anos, mas o discurso de Powell na conferência anual de bancos centrais globais do Fed ocorre quando as autoridades entram no que ele chama de a fase mais difícil na luta contra a inflação, quando se calibra quanto mais aperto é necessário, com poucas certezas sobre como suas medidas afetaram a economia até o momento.
Até recentemente, o caminho a seguir era claro: continuar a elevar as taxas de juros para controlar a inflação mais rápida em quatro décadas. Agora, à medida que os preços continuam a perder força, surgem divergências entre as autoridades sobre quanto trabalho ainda resta a fazer.
Powell provavelmente usará sua apresentação esta semana para delinear como o Fed vai avaliar se os juros devem subir e determinar quando é hora de começar a baixá-los.
“Ele vai alertar contra afrouxar muito cedo. Acho que esse será o tema”, disse o ex-vice-presidente do Fed Donald Kohn. “Seria realmente útil para que explicasse o que entende por dependência de dados, aliviando a forte reação dos mercados a cada dado.”
O discurso de Powell sobre o cenário econômico está programado para a manhã de sexta-feira (às 11h no horário de Brasília), como parte do simpósio anual de política econômica do Fed de Kansas City, realizado às sombras da Cordilheira Teton.
A presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, também fala no final do dia.
A reunião coincide com o momento em que as autoridades monetárias globais ainda lutam contra índices de inflação acima da meta e chances elevadas de crises econômicas. O desafio no próximo ano será equilibrar riscos, à medida que tentam controlar as pressões sobre os preços e, ao mesmo tempo, evitar recessões.
Desde o contundente discurso de Powell na conferência de agosto passado – no qual ele foi conciso e direto, e enfatizou a determinação do banco central em frear a inflação –, as autoridades do Fed subiram a taxa básica para o maior nível em 22 anos, para um intervalo de 5,25% a 5,5%.
Até agora, os indicadores de inflação recuaram de forma significativa em relação ao ano anterior e a economia tem mostrado poucos sinais dos efeitos negativos das condições monetárias mais restritivas.
Mas os responsáveis do Fed estão cada vez mais divididos em dois campos, à medida que o risco de inflação diminui e outras ameaças econômicas aumentam.
Defasagem da política
Uma parte dos diretores do Fed argumenta que juros mais elevados ainda não foram totalmente absorvidos pela economia e teme que um aperto contínuo das condições de crédito tenha um impacto maior do que o pretendido.
Uma redução da poupança acumulada durante a pandemia e a retomada dos pagamentos de empréstimos estudantis no quarto trimestre poderão agravar os obstáculos.
Outros dizem que a defasagem com a qual a política monetária é transmitida à atividade econômica já não é tão longa e argumentam que grande parte do efeito das taxas mais elevadas já foi sentido. Querem também ver provas mais concretas de que a inflação está no bom caminho para retornar à meta de 2%.
Com investidores com menos certeza sobre o que esperar do Fed, a volatilidade aumentou nas últimas semanas, e o destino do mercado parece depender de cada novo dado econômico.
Os mercados atualmente não esperam outra alta dos juros neste ano, de acordo com os contratos futuros, embora vejam uma chance maior de um aumento na reunião do Fed de 31 de outubro a 1º de novembro do que no próximo encontro, de 19 a 20 de setembro.
Jackson Hole dará a Powell mais espaço para se concentrar nos principais componentes de sua estratégia, como o foco do Fed em mais fatores do que apenas relatórios de inflação.
“Esperamos que ele continue a enfatizar que o Fed dependerá dos dados e vai considerar a ‘totalidade’ dos dados, mantendo setembro como uma ‘reunião ao vivo’”, disseram economistas do Morgan Stanley liderados por Ellen Zentner, em nota recente a clientes.
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