Desaceleração no varejo da China pressiona Pequim por estímulos ao consumo

As vendas aumentaram 3% em relação ao ano anterior, o ritmo mais lento em três meses, ficando abaixo até mesmo das previsões mais pessimistas

As vendas no varejo aumentaram 3% em relação ao ano anterior (Foto: Yan Cong/Bloomberg)
Por Bloomberg News
16 de Dezembro, 2024 | 11:25 AM

Bloomberg — O crescimento das vendas no varejo da China enfraqueceu inesperadamente em novembro, apesar de sinais de melhora no mercado imobiliário, o que ressaltou a urgência para Pequim incentivar ainda mais os gastos dos consumidores.

As vendas no varejo aumentaram 3% em relação ao ano anterior, o ritmo mais lento em três meses, ficando abaixo até mesmo das previsões mais pessimistas. A produção industrial subiu 5,4%, mantendo o ímpeto, já que o setor manufatureiro da economia continua a superar os gastos do consumidor.

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“Os dados mostram que a recuperação da demanda doméstica permaneceu lenta, enquanto a estabilização da produção industrial provavelmente foi devido à antecipação de alguns pedidos antes das tarifas dos EUA, e não é sustentável”, disse Michelle Lam, economista para a Grande China na Societe Generale.

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O índice CSI 300 de ações onshore caiu após a divulgação dos dados, sendo negociado com queda de até 0,7%. O rendimento do título de referência de 10 anos estendeu um declínio, caindo 6 pontos-base no dia para uma baixa recorde de 1,72%. O yuan manteve-se estável tanto nos mercados onshore quanto offshore.

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Os dados divulgados pelo Bureau Nacional de Estatísticas (NBS) na segunda-feira (16) sublinham a necessidade de Pequim de reativar a disposição dos consumidores para gastar, especialmente após a reeleição de Donald Trump como presidente dos EUA. A ameaça de uma nova guerra comercial pode reduzir o papel das exportações como motor de crescimento, depois de o segmento ter contribuído com quase 25% da expansão econômica este ano.

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Prioridade

Os dirigentes do banco central chinês elevaram na semana passada o incentivo ao consumo como prioridade máxima para o trabalho econômico no próximo ano. Eles listaram algumas áreas de foco, incluindo apoio a grupos de baixa renda e melhorias na rede de segurança social, embora os líderes chineses tenham deixado os investidores em dúvida quanto à escala e aos detalhes de seus planos.

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O enfraquecimento das vendas no varejo mostrou os limites de uma iniciativa governamental para estimular o consumo por meio de subsídios para a compra de eletrodomésticos e carros. Embora as vendas dessas duas categorias tenham se mantido fortes em novembro, uma série de bens discricionários registraram queda. Cosméticos lideraram o declínio, com uma queda de 26% nas vendas em relação ao ano anterior, enquanto roupas, joias, bebidas, tabaco e álcool também apresentaram redução.

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A persistente fraqueza na atividade aponta para a necessidade de mais apoio político. Declarações contundentes de intenção do Politburo e da Conferência de Trabalho Econômico Central indicam que isso está iminente, disseram Chang Shu e Eric Zhu, economistas da Bloomberg Economics.

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O porta-voz da NBS, Fu Linghui, atribuiu parte da desaceleração ao fato de o festival de compras online do dia dos solteiros — tradicionalmente em 11 de novembro de cada ano — ter começado mais cedo, em outubro deste ano, o que impactou as vendas no mês passado.

“Observando o total das vendas no varejo em outubro e novembro, ainda foi significativamente melhor do que no terceiro trimestre”, disse Fu em uma coletiva de imprensa em Pequim. “Mas o impulso interno para o crescimento do consumo ainda precisa ser fortalecido.”

As autoridades prometeram expandir o programa de subsídios, mas economistas alertaram que o efeito pode ser temporário, pois os consumidores provavelmente não repetirão grandes compras com frequência. O governo tem resistido a propostas de economistas para distribuir dinheiro diretamente aos consumidores nos últimos anos, com o presidente Xi Jinping alertando contra o risco de cair em uma armadilha de “assistencialismo”.

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