Bloomberg Línea — Uma deflação de bens na China deve funcionar como uma “colher de chá” para vários bancos centrais cortarem os juros, inclusive de países desenvolvidos. No caso do Brasil, a Selic poderá ser reduzida mais do que o estimado na curva de juros. A avaliação é de Felipe Guerra, CIO da Legacy Capital.
“Vemos uma Selic terminal mais baixa, porque o mundo vai permitir que um corte adicional seja feito”, disse ele nesta terça-feira (2) durante o evento Brazil Investment Forum, organizado pelo Bradesco BBI em São Paulo.
A gestora projeta uma Selic de 8,75% ao ano no fim do ciclo de flexibilização monetária, segundo carta mais recente aos cotistas, referente ao desempenho dos fundos em fevereiro.
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Com uma visão otimista para a inflação, o gestor afirmou que tem se preparado para um cenário de juros mais baixos que deve beneficiar ativos de risco, como bolsa e fundos de investimento.
Isso porque ativos considerados mais arrojados têm enfrentado grande concorrência de produtos de renda fixa, que, além de retornos elevados com a Selic ainda de dois dígitos - atualmente em 10,75% ao ano -, são isentos de Imposto de Renda para o investidor pessoa física.
Passada a “pernada” do CDI elevado nesses produtos, como CRIs e CRAs, a avaliação é que haverá uma realocação de risco. “A bolsa tem um bom preço, está barata e os múltiplos estão historicamente baixos, mas ainda precisa de um trigger [gatilho]. Acho que ela vai ter a sua hora conforme avança o ciclo de política monetária.”
Com relação ao câmbio, Guerra disse ver pouco upside para o real e apontou que o mês de abril, que costuma ter fluxo positivo por causa das colheitas de safras no campo, pode abrir uma oportunidade para compra de dólar, para ser usado como hedge (proteção) das posições de risco.
China como exportadora da desinflação
A atividade industrial da China superou as expectativas em março, conforme divulgado na segunda-feira (2), e aumentou o otimismo de que o país pode atingir sua meta de crescimento de cerca de 5% neste ano.
O índice Caixin de gerentes de compras do setor industrial subiu para 51,1 pontos, o quinto mês consecutivo acima da marca de 50, que indica expansão. É a sequência mais longa de dados positivos em mais de dois anos.
“A China é competitiva, jogando preços mais baixos para o resto do mundo. Somos otimistas no curto prazo e achamos que o país consegue entregar um crescimento de 5% do PIB este ano, mas, para frente, veremos uma desaceleração”, disse Andre Raduan, sócio e gestor da Genoa Capital, que também participou do evento.
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A avaliação foi compartilhada por Carlos Woelz, fundador e gestor da Kapitalo, que se disse otimista com a potência asiática justamente pelo fato de o país ter lidado melhor do que o esperado com o setor de construção civil, que enfrenta uma crise há anos.
“A China é um exportador de deflação para o mundo e acho que isso está sendo subestimado”, disse Woelz, para quem ainda há espaço para o ciclo de deflação de bens “andar mais”.
Os gestores destacaram que muitos investidores globais têm optado por deixar de lado a estratégia de China, mas que isso não é um problema para a bolsa da segunda maior economia do mundo.
“A bolsa chinesa caiu tanto que achamos que não depende mais do investidor estrangeiro. O tema agora é algo local, e não mais internacional”, disse Woelz.